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Cronicas-->Dantas, o Terrível -- 29/10/2002 - 13:38 (Danilo Maia) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Dantas, o Terrível

- Nossa! Como era boa essa época , pensou o Dantas, antes de concluir logo em seguida que quando a gente olha para uma foto em que já era careca e sente saudades, é por que realmente está velho. Tudo bem que aos 25 ele já tinha poucos cabelos, mas naquela época em algumas situações dava até um charme, um ar mais maduro, intelectual talvez. - Jesus! Não lembrava que a Martinha era gostosa desse jeito, exclamou ,antes de lembrar que naquela época ela realmente não era isso tudo, mas que comparado ao que ele andava comendo ultimamente, a Martinha era sim, um sonho. O que fazer para mudar? Academia? Voltar para natação? Estava disposto a tudo para acabar com aquela barriga, só pensava no momento em que num dia de calor ia tirar a camisa no calçadão e se sentir orgulhoso. Matriculou-se no dia seguinte. Academia nova, caríssima. Natação e ginástica. Faria os dois, e estaria em forma até o início do verão.
E foram quase três meses de dedicação xiita, que obviamente não o transformaram numa estátua grega, mas pelo menos com alguma boa vontade dava para chamá-lo de "um coroa sarado". O Alvo: Neide. Por volta de 35 anos, cabelo tingido de acajú, gostosérrima (quase uma Martinha), tinha aqueles dentes trepados mas de boca fechada era um monumento. Trabalhava na agência de turismo do andar de baixo, o que lhe rendia aquelas cantadas esdrúxulas do tipo: "Se você me acompanhar eu compro esse pacote pra Conservatória..." E o Dantas só aguardou a melhor oportunidade para convidar a moça para almoçar, cheio de confiança gerada pelo novo físico de atleta sênior. E a moça aceitou, parecia que era chegada a hora de colher os frutos daqueles meses de suor. Foram até um comida a quilo perto do escritório. - Olha Dantas, me desculpa mas eu não vou dar pra você! - Que isso Neide? Respondeu o Dantas, se segurando para não cuspir toda a farofa. E para surpresa/desespero do coitado, ele ouviu logo em seguida ela confessar que estava tendo um caso com o Afonso, do CPD. O Afonso era um daqueles gordos suadinhos, que comia sonho de doce de leite todos os dias depois do almoço, não lavava direito as mãos e melava todos os computadores do escritório. Dantas quase desmaiou quando imaginou aquela mão melada por dentro da blusa da Neide , apertando aqueles peitinhos durinhos. Depois da confissão o clima ficou impraticável para continuar o almoço, então a Neide inventou que precisava passar no banco e tratou de deixar o Dantas sozinho . Foi o tempo da Neide virar a esquina para tocar o celular do Dantas:
- Aló!
- Aló.
- Sr. João Antenor Dantas?
- É ele.
- Aqui é do Lovely Motel, é que houve um problema com seu cheque. Nós depositamos e ele voltou.
- Não é possível! Qual o valor?
- R$112,00
- Tá Legal, amanhã pela manhã eu passo aí pra resolver.
Dantas ainda estava fazendo as contas quando chega o moleque do Amendoim:
- Amendoim torrado, vovó?
- Não, não, obrigado.
No momento que o garoto foi embora, começou a cair a ficha do Dantas. A Neide dando pro Afonso, o cheque do motel voltando (ainda por cima de uma noite que foi um fracasso) e sendo chamado de vovó pelo garoto do amendoim. Ficou mirando a rua com aquela cara de bobo e olhar em ponto morto, enumerando as maneiras que ele tinha ali naquele momento de se suicidar. Se jogar na frente do 457, voltar pro escritório e pular do 12 º andar , ou talvez comprar chumbinho no cameló da esquina e tomar tudo, junto com casquinha de chocomenta. Desistiu da idéia. Não por achar que a vida ainda valia muito a pena, mas por saber que era meio frouxo para tomar atitude tão radical. E tomou , resignado, o caminho de volta para o escritório.
Naquele dia, até a hora de dormir, Dantas só conseguia ter pensamentos sórdidos. Imaginava-se estuprando Neide, que gritava horrores enquanto o Afonso amarrado e com uma maça enfiada na boca, chorava como criança. Ou via-se entrando no Lovely, com um revólver em uma das mãos e uma sub-metralhadora na outra, atirando em todos os funcionários e resgatando o maldito cheque. Ou ainda colocando o moleque do amendoim num pelourinho, obrigando-o a comer quilos e mais quilos de amendoim torrado, enquanto perguntava repetida e freneticamente:
- Quem é vovó?
- Quem é vovó?
- Fala agora moleque safado.
Acordou no sábado ainda embriagado pelos planos de vingança. Começaria na segunda-feira. O mundo enfim conheceria, "Dantas, o Terrível". E , de repente, no meio dos devaneios do Dantas, toca o telefone:
- Aló?
- Aló.
- Nonó?
Dantas teve um choque. Ninguém o chamava de Nonó, a não ser o pessoal da faculdade, e não via ninguém da turma havia mais de dez anos. E aquela voz suave continuou:
- Responde. É você Nonó?
- S-sou. Quem tá Falando?
- É a Martinha Nonó. É porque a Ângela e o Romeu estão promovendo um encontro com o pessoal da turma, e o combinado é de cada um levar seu marido ou esposa. Mas como eu separei há dois anos...Então eu pensei da gente ir junto.
- Você topa?
- Claro Martinha, mas me diz, como você...
- Então tá combinado Nonó, é no sábado que vem, na casa da Ângela. Eu te ligo na sexta pra gente combinar melhor. Beijo.Tchau.
- Tchau.
E , como num passe de mágica, tudo mudou. O sorriso estampado na cara, transbordando de felicidade, parecia outra pessoa. A própria Martinha o chamando pra sair? Era bom de mais pra ser verdade. Ficou tão feliz que foi no Lovely na hora resolver o problema do cheque. Que vida boa ele tinha! O Garoto do Amendoim coitado, compraria amendoins pelo resto do ano com o rapaz. Ele merece, batalhador. Pediria até desculpas por tudo. Que dia lindo , que maravilha é viver! E o Afonso então? Amigo igual a ele não não se encontra assim fácil não. Sorte mesmo tinha a Neide. Outro doce de pessoa. Talvez mandasse até flores para ela. Aliás , mandaria flores para o Afonso também. Talvez até adotasse o Garoto do Amendoim...


Danilo Maia, escritor.

danilo_maia@hotmail.com



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