TRAÇOS
Entrou pela sala correndo logo após quase ter posto a porta abaixo, gritando, esbaforido:
- Meu Deus, meu Deus! Venham aqui ver o que eu achei!
Levantaram-se todos, assustados com os berros do Joacir que sempre fora muito calmo e não gritava nem com cachorros. Logo se dirigiram junto com ele ao lugar do fato.
Era um velho, parado, com uma bengalinha na mão, atordoado, todo de preto, levemente curvado, de certo por causa da idade, na esquina. Joacir já chegou apontando e berrando:
- Vejam se não é ele! Vejam!
Olharam Logo sua mãe, a dona Mercedes, pergunta:
- Ele quem, Joca?
- Como ele quem!? Como!?
- Não sei quem é - responde a senhora.
- Também num sei não - fala o filho.
A esposa faz cara de desentendida e não diz nada, Joacir com cara de espantado, parecendo perguntar-se como que não conseguiam enxergar.
- O PAI!!!
- O PAI!? - exclama mãe, esposa e filho ao mesmo tempo.
- É! não conseguem ver os traços?
- Mas o pai já morreu - explica calmamente a mãe.
Ele impacientemente tira a carteira de cigarros do bolso, pega um, coloca, apressadamente, da boca e, enquanto procura o isqueiro, exclama:
- Os traços! OS TRAÇOS! Vocês não estão vendo?
Os três se entreolham, não entendendo.
Cortados pelo impaciente pedido:
- Alguém tem fogo aí? - Joacir apontando pro cigarro entre os dedos.
O senhor, então, calmamente tira uma caixinha de fósforos de um bolso interno do paletó e diz:
- Eu tenho...
Joacir volta-se a ele, e espantado olha aquela caxinha nas mãos do velho homem e então, com os olhos cheios de lágrimas se vira pra família novamente:
- Olha aí, até fogo! ATÉ FOGO!!!!!
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