O sítio vizinho
O sítio já devia se antigo quando nasci. Ele vive nas mais antigas recordações de minha infância: grande, bonito, pôr trás do morro da cidade.
Agora vem uma carta dizendo que ele foi cortado pôr uma estrada.
Eu me lembro de outros sítios que eram menores, mas que foram loteados há muito tempo. Eu me lembro dos pés de amoras, das mangueiras ( que chamávamos de “cabana”) e das palmeiras que sibilavam ao vento e da alegria de toda meninada da redondeza na colheita de frutos que ela fornecia. Lembro-me dos pássaros que tinha no sítio, e faziam seus ninhos, e das flores de campo. Tudo foi destruído; mas o grande coqueiro na frente da entrada permanecera, e o morro lá no alto era como uma bússola a nos indicar a localização do sítio. Cada menino que ia crescendo ia aprendendo os segredos de como explora-lo, os caminhos sem espinho, o lugar melhor para chegar ao riacho, ver de lá os peixes que fugiam da pesca.
Nas últimas férias ainda o visitei; estava como sempre circundado de árvores frutíferas, e muitos pássaros. Chovia; mas assim mesmo fiz questão de olha-lo: fui até o riacho, como quem cumprimenta um amigo que há muito não via.
A carta de minha irmã diz ele foi vendido para loteamentos, e uma estrada que o corta, é a chegada de outra população. Diz que quando chegaram as máquinas, lembrou-se de nossa infância, de nossas brincadeiras, das tardes de verão.
Diz que seus filhos acharam curioso, aquelas pessoas estranhas, mas depois se acostumaram com o movimento.
Foi agora, perto do Natal. E eu ia visita-lo.
Lira Vargas.
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