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Cronicas-->José, Mimosa, Fogosa e o clone -- 30/10/2002 - 15:41 (Jayme de Oliveira Filho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Quanto crédito daria a um cientista chamado José? O nome não lhe parece complicado o bastante para merecer confiança? Pois vou lhe contar uma história. A história - tão bem explorada pela mídia - do clone que era uma e virou um. A história da experiência de um veterinário brasileiro: o José. Após leitura e julgamento, atire ou não a primeira pedra.

É bom saber, porém, que o animal em questão não se trata do primeiro clone brasileiro. Em março de 2001 já havíamos realizado este feito. E é exatamente aí que começa a nossa história. Precisamente no dia vinte e um daquele mês, quando o Ministro da Agricultura e do Abastecimento, Pratini de Moraes, anunciou ao país e ao mundo o nascimento da bezerra Vitória.

A lembrança ainda fresca da repercussão causada, quatro anos antes, pela clonagem que deu origem à ovelha Dolly, nos fez acreditar que também havíamos fincado nossa bandeira no restrito cume da pesquisa cientifica de ponta. Estupefatos, nos sentimos no meio de um salão, rodeados de amigos do primeiro mundo e já olhando com desdém para a gentalha que a partir de então nos admiraria da geral. Mas não foi bem assim. De fato mostramos grande capacidade científica naquela oportunidade, entretanto, apesar de ambas serem clones, nem de longe nossa bezerra Vitória poderia ser comparada à ovelha Dolly.

A diferença entre as duas experiências está no método de clonagem empregado. Vitória foi obtida a partir de uma célula embrionária; e Dolly, de uma célula adulta - a la Dr. Albieri da novela. Embora este detalhe nos pareça ínfimo, em termos científicos é grandioso. Vejamos: células embrionárias possuem a capacidade de transformar-se em qualquer tipo de tecido, como ósseo, muscular ou nervoso, por exemplo. Porém, células adultas - chamadas de somáticas - já não possuem essa característica, embora carreguem as mesmas informações genéticas. Ora, apenas para se ter idéia do que isso representa em termos de grau de dificuldade: a clonagem de sapos a partir de embriões já é feita com sucesso há décadas.

É aí que o nosso José entra na história. Ele é o veterinário-chefe de um dos projetos que visam a criação do primeiro clone brasileiro obtido a partir de uma célula somática. E o animal escolhido para esta experiência, mais uma vez, foi uma vaca. Tratemo-la por Mimosa. Pois bem. José retirou da orelha de Mimosa algumas células e após toda uma série de delicados e minuciosos processos, obteve hesito: nosso protótipo de Dolly estava a caminho. A bezerrinha - idêntica à matriz, como todo clone -, ao término dos nove meses da gestação bovina, seria apresentada ao país e ao mundo, assim como foi Vitória, como o grande feito da pesquisa científica nacional.

Seria. No entanto, para espanto de todos e contrariando tudo o que há de mais sagrado no universo da clonagem, nossa bezerrinha nasceu macho. Pobre José. A surpresa foi generalizada e sua história caiu na boca do povo, virando motivo de chacota nacional. Naquela oportunidade, ele mesmo afirmou, com certo humor, que a vaca receptora - tratemo-la por Fogosa - poderia ter "pulado a cerca" para encontrar algum touro. José continuou esclarecendo que, definitivamente, a experiência "falhou no laboratório ou no campo". Na primeira hipótese - mais interessante sob o ponto de vista científico - houve apenas uma troca de material genético no momento da clonagem, ou seja, ao invés de células da orelha de nossa vaquinha Mimosa, foram utilizadas células de um boi. Na segunda - mais interessante sob o ponto de vista amoroso - a vaquinha Fogosa não resistiu aos encantos do garanhão que a espreitava e mandou às favas essa história de tecnicismo científico para se entregar aos encantos do amor. - Bem fez ela!

Aqui, então, termina a nossa história. Porém, para aqueles cujas mãos já carregarem as pedras do descrédito, vale uma derradeira observação. Apesar de algumas "trapalhadas" - diga-se de passagem, comuns em todo o resto do mundo -, o Brasil tem obtido excelentes resultados no campo da pesquisa genética. Considerando o nosso acanhado grau de desenvolvimento tecnológico, além, é claro, da nossa limitadíssima disponibilidade financeira, não seria absurdo afirmar que é graças ao talento, ao empenho e à criatividade da gente tupiniquim que vamos, passo a passo, nos aproximando desse tal cume científico. Graças ao José. Ao João, à Maria, ao Raimundo...
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