NARRADOR: Um certo dia, já faz alguns anos. O mágico se apaixonou pela equilibrista. A mais bela jovem do circo. A filha do proprietário. Mas o pai da equilibrista, um homem que era ambicioso e maldoso, e que possuía os poderes mágicos do mal, proibiu o namoro dos dois e lançou uma maldição. Que de aquele dia em diante eles jamais poderiam ficar juntos. E assim os dois se separaram, num passe de mágica. E foram transportados para outras realidades. O tempo passou, e a maldição ainda continua. E para quebrar esse encanto maldoso, somente uma criança de alma pura teria o poder. E por isso, o destino saiu em busca desta criança. Contudo, havia um outro problema, quando o mágico desapareceu do circo, desapareceu também um grande Tesouro. Por isso o dono do circo, colocou caçadores de recompensa atrás de todas as pistas possíveis para encontrar o tal tesouro. E este tesouro é a chave e o segredo para desvendar todo o mistério que envolve esta história.
(AQUI, DOIS CAÇADORES ENTRAM PELA PLATÉIA)
CHEFE: Encontrou alguma coisa, meu assistente Zé do Garrafão?
AJUDANTE: Não encontrei nada de importante, não Senhor. Há não ser um punhado de mostrengos que estão na minha frente. Será que eles mordem?
CHEFE: Deixa de ser bobo meu assistente. São crianças. Elas não fazem nada. São gente como nós.
AJUDANTE: O Senhor é que pensa. Ouvi dizer que essas criaturinhas, são coisas do outro mundo. Fazem muitas artes e não deixam as professoras em paz.
CHEFE: Calma Zé do Garrafão. Desculpem ele viu crianças. Ele está com medo. É um medroso.
AJUDANTE: Mas o que é que nós estamos procurando mesmo?
CHEFE: É um grande Tesouro.
AJUDANTE: Chefe, tive um idéia. Será que essas crianças não estão escondendo o nosso tesouro?
CHEFE: Eu acho que não, mas em todo caso... vamos procurar por entre essas cadeiras, pode ser que ele esteja por aqui. Afinal de contas essa é a nossa missão!
AJUDANTE: Claro. Só tem uma coisa que eu ainda não entendi. O senhor pode me responder?
CHEFE: Pois não, pode perguntar seu imbecil.
AJUDANTE: Imbecil não. Lerdo das idéias. Que tipo de tesouro nós estamos procurando?
CHEFE: Eu ainda não sei como é... Mas...
AJUDANTE: Mas?... Mas?...
CHEFE: Mas se a gente encontrar o tal palhaço. Com certeza ele vai nos levar até o Mágico.
AJUDANTE: Espera aí um pouco. Como que o Senhor espera que eu seja um sujeito rápido das idéias desse jeito? Primeiro o Senhor fala que nós temos que encontrar o grande Tesouro, agora o Senhor me diz que nós temos que encontrar o palhaço que sabe onde está o Mágico... E o Tesouro onde fica nessa história?
CHEFE: Meu pai do céu... como você é um retardado mesmo. No final das contas, vai dar no mesmo. Você vai ver. Temos que seguir as pistas.
AJUDANTE: (Gritando) Patrão eu encontrei.
CHEFE: Uma pista? Que bom, você foi muito rápido...
AJUDANTE: Que pista? Encontrei foi um piolho na cabeça desse moleque.
OS DOIS: Credo, Piolhos.
AJUDANTE: Palhaço, mágico... Isso daqui está parecendo um circo.
CHEFE: Não te interessa. Eu quero esse tesouro aqui na minha mão o mais rápido possível. Custe o que custar. Será que eu fui bem claro? (bravo)
AJUDANTE: Claríssimo. Um claro bem claro. Na verdade um clarão.
CHEFE: Um claro bem claro? Ou um claro escuro?
AJUDANTE: Claro que está bem claro. (olhando para o céu)
CHEFE: Que está bem claro eu sei. O sol está de fora. Porque deveria estar escuro?
AJUDANTE: E se o sol estivesse apagado?
CHEFE: O sol apagado? Ele não lampião para ser apagado.
AJUDANTE: E se ele então estivesse desligado?
CHEFE: O sol desligado? Melhor a gente não continuar com o assunto. Pois posso ficar nervoso e quebrar a sua garrafa de cachaça, como punição pela sua burrice.
AJUDANTE: Não. A minha garrafa de néctar dos Deuses, não.
CHEFE: Então cala a sua boca. E procure para lá, que eu vou procurar para cá.
AJUDANTE: (saindo, grita) Chefe, o Senhor por um acaso sabe onde esse tesouro está escondido?
CHEFE: Eu não tenho muito certeza, mas acho que ele está dentro de um grande baú.
SEGUNDA CENA:
(CENÁRIO: UM QUARTO COLORIDO, UMA JANELA EM FORMA DE LIVRO, COMEÇA A PISCAR, TROCA AS CORES DO FUNDO DA JANELA, E SÉZINHO QUE ESTAVA DEITADO, ACORDA ASSUSTADO.)
ZEZINHO: Não. Não. Não. (levanta-se molhado) Que pesadelo Horrível! Um baú lotado de ouro caindo na minha cabeça. O que será que está acontecendo comigo? Será que os sanduíches de chuchu que eu comi no jantar estão me fazendo mal? Essa não... (deita-se novamente, as luzes trocam de cores, ficam azuis, ele senta-se na cama novamente.)
(UMA BONECA QUE ESTAVA CAÍDA NO CHÃO SE MEXE. SÉZINHO SE ASSUSTA)
ZEZINHO: O que é isso? Uma boneca se mexendo?... será que eu estou sonhando novamente?
BONECA: Ou pensa que está ficando maluco.
ZEZINHO: Acho que estou ficando maluco.
BONECA: Por isso, ele vai dormir novamente, antes que pira de vez.
ZEZINHO: Vou dormir novamente, antes que eu pire de uma vez. (Pausa, olha a platéia assustado) Tem alguém falando aqui...
BONECA: Calma, sou eu. Não se assuste.
ZEZINHO: (Salta da cama correndo, vai até um espelho) Espelho, espelho meu. Me diga, essa boneca está falando, ou eu estou sonhando?
VOZ: Te manca meu. Acorda.
BONECA: (batendo nas suas costas) Do que é que você está com medo?
ZEZINHO: Medo? Eu? Quem disse que eu estou com medo? (para a platéia, e choramingando) Eu estou apavorado.
BONECA: Calma, sou apenas uma boneca.
ZEZINHO: Por isso mesmo. Onde que alguém já viu uma boneca andando e falando? Só em sonho. (pausa, respira, e olha para a platéia) É isso mesmo, eu estou sonhando. Tenho certeza absoluta que se eu virar para trás agora, aquela boneca vai estar deitadinha lá no seu cantinho. (se vira e mostra)
BONECA: (do seu lado) Surpresa. Não estou lá, estou aqui, pertinho de você.
ZEZINHO: Não por muito tempo. (vai para o outro lado)
BONECA: Porque você está com tanto medo de mim desse jeito? Sou apenas a boneca da sua irmã. Que vim aqui para te dar um recado.
ZEZINHO: Eu ainda não acredito. Pois eu aposto que estou sonhando.
BONECA: Você quer uma prova?
ZEZINHO: De novo? Já não chega a minha professora... que tem preguiça de dar aulas e vive socando um montão de provas na gente.
BONECA: Credo, que palavreado ZEZINHO! Não precisa baixar o nível. E também não é nesse tipo de prova que eu estou falando. Eu quero provar que sou uma boneca que anda e fala de verdade.
ZEZINHO: Ah é? Então prova.
BONECA: (vai se aproximando)
ZEZINHO: Não encosta em mim.
BONECA: Você não quer uma prova?
ZEZINHO: Eu quero, mas...
BONECA: (dá um beliscão na bunda dele)
ZEZINHO: (saltando) Ai, isso dói sabia? Não precisa exagerar também. Você está parecendo a minha mãe quando eu não quero comer aquelas sopas de jiló.
BONECA: Sopa de jiló?
OS DOIS: Sopa de jiló? Eco, que negócio ruim.
ZEZINHO: Como que você detesta, se bonecas não comem nada? Te peguei, viu?
BONECA: Pois enganou-se viu? É que a minha Dona, que é a sua irmã, faz uma cara tão feia quando come jiló, que eu deduzi que deve ser um negócio horrível.
ZEZINHO: Vamos parar com essa história de jiló, o meu estômago já está embrulhando. Eu quero saber qual o recado que você tem pra me dar. Já que não tem outro jeito mesmo...
BONECA: Ah! Ia me esquecendo.
ZEZINHO: Pois é. Garrou a falar feito uma matraca. Nota-se que é coisa feminina. Que boca!
BONECA: A dona surpresa mais dona realidade, te escolheram...
ZEZINHO: Me escolheram, pra quê? Não sou feijão de terceira...
BONECA: Pra encontrar um grande tesouro. Um tesouro muito valioso. De um valor inestimável.
ZEZINHO: Me engana que eu acredito. Tesouro... Hum...(para a platéia) Vai ver que a minha irmã perdeu a Tesoura e quer que eu a procure, então essa boneca falante não entendeu direito, e fica me enrolando com essa história de tesouro. Porque vocês me escolheram?
BONECA? (batendo no seu ombro) Você saberá quando encontrar o Tesouro. E não se esqueça de uma coisa, é uma dica muito preciosa que vou lhe dar agora. SIGA SEMPRE A SUA INTUIÇÃO.
OS DOIS: ( à platéia) Siga sempre a sua intuição.
ZEZINHO:( à Platéia) Siga sempre a sua intuição.
BONECA: E ela te guiará para o encontro deste tão maravilhoso tesouro. (saindo)
ZEZINHO: Hei, onde você pensa que vai sua bruxa?
BONECA: Dormir um pouco com a minha dona. Estou exausta. Bons sonhos? Tchalzinho. (sai)
ZEZINHO: Caramba, chamei ela de bruxa, e ela nem deu bola. Era só o que me faltava. Encontrar um grande tesouro. (pausa) puxa, um tesouro... Um tesouro? (ansioso) O que, que eu poderia comprar com um grande tesouro? Há já sei, uma Bike, um Roller, um vídeo Game novinho... Agora é que eu estou entendendo... Então é por isso... (boceja, senta-se na cama) que aquele baú estava caindo na minha cabeça.
BLACK OUT.
TERCEIRA CENA:
(AQUI TODO O ELENCO ENTRA DANÇANDO, EM RITMO SAPATEADO, VESTIDOS COMO SE FOSSEM LIVROS, E EM CADA UM UMA LETRA DIFERENTE, FORMANDO A PALAVRA (AMOR), NA CABEÇA UM CHAPÉU FEITO DE ESPUMA, COLORIDO.)
- ZEZINHO, ENTRA ESTÁ PERDIDO NO MEIO DA COREOGRAFIA, VAI FALAR, PARAM EM FOTOGRAFIA, ELE PERGUNTA:
ZEZINHO: Será que alguém podia me dar uma informação?
- MÚSICA, TODOS VOLTAM A DANÇAR, ELE SAI PARA O LADO, VOLTA NO
VAMENTE.
ZEZINHO: Seria possível, alguém me ajudar?
- VOLTAM COM A COREOGRAFIA, DANÇAM A SAEM. SÉZINHO FICA SÓ.
ZEZINHO: Não sei porque fui aceitar essa missão... ninguém me ajuda. Dá a impressão de que ninguém está me vendo. Será que esse tal tesouro existe mesmo? Sei lá, isso está tão estranho.
(NESSE INSTANTE, ELE SE LEMBRA DE ALGO, E NUM PULO)
ZEZINHO: Há, já sei, vou seguir a minha intuição.
TODOS: (entram um de cada lado falando, todos misturados) Intuição. Intuição. Siga a sua intuição. Intuição. Siga a sua intuição.
ZEZINHO: (cantando e muito feliz) É isso, vou seguir a minha intuição. Alguém quer vir comigo? Pois que venham. Através do vosso entendimento. Intuição, intuição é o caminho para o coração. (sai)
QUARTA CENA:
(QUATRO PÁSSAROS ENTRAM PUXANDO UM SACO GRANDE)
PICA-PAU: (vem puxando na frente)
CANÁRIO: Força, muita força. Vocês vão conseguir.
PICA-PAU: (imitando) Força, muita força. Vocês vão conseguir. Porque você não ajuda a gente, em vez de ficar aí só dando Ordens.
CORUJA: É verdade seu Canário.
PAPAGAIO: Concordo plenamente.
CANÁRIO: É que eu já estou velho, muito cansado, e agora é a vez de vocês.
PICA-PAU: A época da escravidão já acabou sabia?
CORUJA: É verdade seu canário.
PAPAGAIO: Concordo Plenamente.
CANÁRIO: Puxem e não reclamem. Eu ainda estou sendo bonzinho, devido as circunstâncias.
PICA-PAU: Afinal de contas, onde vamos encontrar o tal menino, que vai nos ajudar a carregar o saco.
CANÁRIO: Ele vai nos ajudar é de uma outra maneira, vocês sabem muito bem disso.
PICA-PAU: Mas nós podemos dar esse saco para ele puxar, não podemos?
CORUJA: É verdade seu Canário.
PAPAGAIO: Concordo plenamente.
CANÁRIO: É claro que podem. Servirá como teste. Para descobrir-mos se ele é realmente o escolhido.
PICA-PAU: Ainda falta muito?
CANÁRIO: Acalmem-se, já estamos chegando, só mais um pouquinho.
(OUVEM UM ASSOVIO, OU CANTIGA)
PICA-PAU: Acho que está vindo alguém, vamos nos esconder atrás do saco. (se abaixam).
ZEZINHO: (entrando) Eu tive a impressão de que eu ouvi alguém conversando aqui. Quem será? (gritando) Hei, tem alguém aí? Apareça, precisamos conversar. (observando o saco) O que é isso? Tem louco pra tudo...
PICA-PAU: (levanta-se, faz os risos do pássaro depois se abaixa)
CANÁRIO: (levanta-se) Psiu. (depois se abaixa)
CORUJA: Psiu. (idem)
PAPAGAIO: (ídem) Psiu.
ZEZINHO: Pássaros, só podia ser. E o que mais eu poderia encontrar no meio de uma floresta? Se eles pelo menos soubessem falar... poderiam me ajudar. Mas como pássaros não falam...
CANÁRIO: (SE levantando) Quem te disse que nós não falamos?
PICA-PAU: Quem disse que não podemos ajudá-lo?
CORUJA: É verdade seu moleque.
PAPAGAIO: Concordo plenamente.
ZEZINHO: (que estava de costas para a platéia, se vira,) Quem são vocês? (desmaia, e os pássaros o seguram, deitam ele no chão e começam a abana-lo, ele começa a acordar, levanta a cabeça, vê os pássaros, cai novamente.)
CANÁRIO: Porque será que esses humanos complicam as coisas?
PICA-PAU: Seria tão mais fácil, se eles entendessem a gente...
CORUJA: Eu também acho que é isso mesmo.
PAPAGAIO: Concordo Plenamente.
ZEZINHO: (acorda devagarinho) Por um acaso, vocês estão indo há um baile a fantasia?
PICA-PAU: Não. Somos pássaros, e viemos para lhe ajudar.
ZEZINHO: Me ajudar, é? De que jeito? Pássaros não falam. Isso é um sonho, eu sei que é um sonho. Tenho certeza que é um sonho.
CANÁRIO: Então, o que é que você está fazendo aqui na floresta dos sonhos?
ZEZINHO: O meu sonho diz que é para eu encontrar um tal tesouro... mas acho que é puro sonho. Já que estou na floresta dos sonhos...
PICA-PAU: Tesouro é? Que tesouro?
CORUJA: Mais um que veio para violar a Floresta.
PAPAGAIO: Concordo plenamente.
PICA-PAU: Com licença, precisamos confabular..
ZEZINHO: Fiquem a vontade, a casa é de vocês mesmo. Meu anjinho da guarda, eu devo estar ficando retardado. Conversando com pássaros!... O que os meus amigos não vão dizer lá na escola depois... Lá vai o bobão que fala com bonecas, lá vai o birutão que conversa com pássaros. Só que tem uma coisa, não é? Ninguém precisa saber disso que está acontecendo comigo..
PICA-PAU: Chegamos numa conclusão.
ZEZINHO: Até que enfim. Que conclusão chegaram?
CANÁRIO: Que o tesouro existe.
ZEZINHO: Então me digam, onde ele está?
CORUJA: Dentro do seu Coração, pertinho da razão.
PAPAGAIO: Concordo plenamente.
CANÁRIO: O caminho é a sua intuição.
TODOS: Intuição.
CANÁRIO: (Grave) Intuição.
PICA-PAU: (Médio) Intuição.
CORUJA: (Médio agudo) Intuição.
PAPAGAIO: (agudo) Intuição.
TODOS: (em coro) Intuição.
ZEZINHO: Está bem, eu seguirei a minha intuição.
PICA-PAU: Está vendo este grande saco? Está cheio de razão. E você vai levá-lo.
ZEZINHO: Pra quê?
CANÁRIO: Não faça tantas perguntas. As vezes é bem melhor.
CORUJA: E você está proibido de abri-lo até encontrar o local indicado.
ZEZINHO: E onde fica esse local indicado.?
PAPAGAIO: Concordo Plenamente.
CANÁRIO: É onde está o maior tesouro do mundo, você saberá.
PICA-PAU: Por isso siga a sua...
TODOS: Intuição.
Idem acima. ))Um de cada vez, depois em coral.]
ZEZINHO: Muito obrigado pelas informações. (saindo)
CORUJA: Hei o saco.
ZEZINHO: É necessário mesmo?
PICA-PAU: Que menino teimoso, é imprescindível.
ZEZINHO: Se é pra ser assim, que seja assim. (pega o saco e sai puxando)
CANÁRIO: Força.
PICA-PAU: Muita força.
CORUJA: Muita força de vontade.
PAPAGAIO: Concordo plenamente.
OS TRÊS: Cala o bico papagaio.
CANÁRIO: Você só sabe dizer isso?
PAPAGAIO: Concordo plenamente.
(saem correndo atrás do papagaio)
BLACK OUT.
QUINTA CENA:
(OS DOIS CAÇADORES ENTRAM, E PASSAM PROCURANDO.)
OS DOIS: Eu vou, eu vou, caçar agora eu vou. (bis)
(passam, levam sustos, e saem procurando)
SEXTA CENA:
(ZEZINHO ENTRA CANSADO, PUXANDO O SACO. DEIXA-O).
ZEZINHO: Puxa... eu estou exausto. Já andei demais. É noite, preciso dormir um pouco. Mesmo porque, é muito perigoso andar pela floresta à noite. (senta-se sobre a tartaruga).
TARTARUGA: (Geme de dor) Ai.
ZEZINHO: (Se assusta e levanta-se) O que foi isso? Quem está gemendo? (olha ao seu redor) Acho que estou ouvindo coisas demais, deve ser o cansaço ou pura imaginação. (senta-se sobre a tartaruga novamente)
TARTARUGA: Sai daí folgado.
ZEZINHO: Santo protetor das criancinhas indefesas... quem está falando?
TARTARUGA: (Se levantando) Sou eu forasteiro. (Usa roupas de cowboy). Vamos duelar?
ZEZINHO: (Saltando) Eu deveria estar acostumado com essas coisas, mas não estou. Eu não consigo acreditar que estou falando com animais. (para a tartaruga) Quem é você, uma tartaruga Ninja?
TARTARUGA: Querido Amigo...
ZEZINHO: Alto lá. Eu não sou teu amigo.
TARTARUGA: Calma. Você está no mundo encantado dos sonhos. Não se assuste. Porque aqui tudo é possível, desde que você queira.
ZEZINHO: Então quer dizer que eu quero que você esteja falando com você comigo agora?
TARTARUGA: Exatamente.
ZEZINHO: E como você quer que eu acredite nisso? Se souberem, vão achar que estou louco.
TARTARUGA: Está no seu subconsciente.
ZEZINHO: Credo! Cada besteira que existe no subconsciente da gente! Eu hein! Falar com uma tartaruga...
TARTARUGA: (chegando perto, ZEZINHO salta longe) Fique calmo, para que ter medo? Essa é uma verdade. E só os homens ruins de coração é que tem medo da verdade. E aqui só falamos pela verdade.
ZEZINHO: Pois é, está todo mundo falando a mesma coisa. Quer dizer... todo mundo não, esses bichos. (para a platéia) Isso é caso pra se pensar.
TARTARUGA: Por favor, você poderia arrumar um pouco da sua água, estou sedento.
ZEZINHO: Claro, pode tomar. Mas só um pouco.
TARTARUGA: (tomando) Puxa vida, pensei que nunca mais tomaria água. (agradecendo) Obrigado, estava uma delícia. (entrega-lhe o cantil vazio).
ZEZINHO: Você tomou toda a minha água, seu guloso. Como vou matar a minha sede de agora em diante.?
TARTARUGA: Você vai encontrar logo uma fonte de água cristalina, e nela você encherá o cantil novamente.
ZEZINHO: Ah é? E porque você não foi lá tomar dessa água, em vez de acabar com a minha, seu preguiçoso.
TARTARUGA: Eu sou uma tartaruga. E como você deve saber, todas as tartarugas são muito lerdas. Por isso até eu chegar lá, morreria de sede pelo caminho.
ZEZINHO: Essa história está mal contada. Em todo caso, vou acreditar em você.
TARTARUGA: Não tens do que duvidar.
ZEZINHO: Eu preciso de um lugar para dormir essa noite. Será que...
TARTARUGA: Pode dormir na minha casa.
ZEZINHO: Na sua casa, será que devo?
TARTARUGA: É uma toca que fica ali no barranco. Não é muito confortável, mas dá para passar a noite. E assim amanha, você estará bem mais disposto para continuar sua missão.
ZEZINHO: (Se assusta) E como você que eu estou numa missão
TARTARUGA: Por causa da sua mala.
ZEZINHO: Isso não é mala não. É um saco cheio de esperanças que dois pássaros me deram pra eu levar.
TARTARUGA: (Para si) Interessante e legal, saber que você está envolvido nessa missão.
ZEZINHO: Pergunto de novo, e espero ter uma explicação lógica. Como você sabe que eu estou numa missão?
TARTARUGA: É como eu já te disse. No mundo encantado dos sonhos, você pode tudo, como também nós podemos saber de tudo.
ZEZINHO: (Abrindo a boca) Pois é, a única coisa que eu sei nesse momento, é que estou caindo de sono e preciso dormir. Onde é sua toca Dona Tartaruga.?
TARTARUGA: Por aqui, venha. (saem, e ZEZINHO leva o saco).
SÉTIMA CENA:
(Os pássaros passam olhando para todos os lados, aos constatarem que os dois estão juntos, saem contentes, e fazendo psiu. Depois passa boneca fazendo psiu.)
OITAVA CENA:
(Entra o palhaço: está todo sujo e meio rasgado. Olha para todos os lados, tropeça e cai, vai se sentar e cai novamente, morde uma banana, come as cascas e joga o miolo fora, morde os dedos, ouve vozes, faz sinal de psiu e sai correndo)
NONA CENA:
( Entram os dois caçadores)
OS DOIS: (cantando) Eu vou, eu vou. Caçar agora eu vou. (bis)
AJUDANTE: (Atrás) Patrão, será que estamos no caminho certo? Eu não estou enxergando direito. (Olhando bem nas costas do patrão.)
CHEFE: Claro que estamos, eu sinto o cheiro daquele palhaço.
AJUDANTE: Patrão, eu não queria perguntar isso, mas vou perguntar. Será que esse tal palhaço fez cocô por aqui? (cheirando um pé)
CHEFE: Fez o que?
AJUDANTE: (Cocô, queca, carniça.)
CHEFE: Sei lá, acho que não.
AJUDANTE: Então que carniça é essa?
CHEFE: (Começa a sentir o cheiro. Anda pra lá e pra cá.) Esta carniça é sua. Seu porco.
AJUDANTE: (Caramba é verdade. Deve ser porque estou morrendo de medo de fantasma.
CHEFE: Fantasma? Acho que ele bebeu além do além que ele bebe normalmente.
AJUDANTE: Patrão e se aparecer um fantasma, o que é que nós vamos fazer?
CHEFE: Nós vamos arrancar o couro desse miserável e continuar a caçada ao palhaço Fujão.
AJUDANTE: Se assim. Então vamos meu querido chefinho maior e combatente.
(OS DOIS) Eu vou, eu vou. Caçar agora eu vou. (bis) (saem de cena cantando)
DÉCIMA CENA:
ZEZINHO: (entrando) Aquela tartaruga lerda, tomou toda a minha água ontem, agora estou morrendo de sede. (assusta-se com o que vê) Gente, que cachoeira maravilhosa! Vou encher o meu cantil e me esbaldar de tanto tomar água. Oba que legal!
(Entra o palhaço correndo)
PALHAÇO: Me ajude, me ajude por favor.
ZEZINHO: (de costas) Que bicho é está falando agora? (se vira) barbaridade, quem é você? Um fantasma pintado?
(O palhaço sempre faz sinal com a cabeça que não)
ZEZINHO: Há já sei, você deve ter comido alguma coisa estragada, e agora deve estar passando mal. Não é? Então me diga, um leão te rasgou inteiro?
PALHAÇO: Me dá um pouco de água, estou com muita sede.
ZEZINHO: Beba, olha quanta água tem aí na cachoeira.
(O palhaço se abaixa)
PALHAÇO: Eu não acredito que encontrei alguém descente nessa floresta...
ZEZINHO: Afinal de contas quem é você, um ET?
PALHAÇO: Olha aqui, a minha fome eu tenho amenizado com frutas que eu encontro
pelo caminho, e já faz dois dias que eu não durmo.
ZEZINHO: E eu com isso? Eu quero saber que bicho é você?
PALHAÇO: Eu sou um palhaço fugitivo. Será que você nunca viu um palhaço na sua vida?
ZEZINHO: Desse jeito não. Você está fugindo de quem?
PALHAÇO: De dois caçadores de recompensa. Pensam que eu sou o culpado.
ZEZINHO: Culpado de quê?
PALHAÇO: Do roubo do baú.
ZEZINHO: Que baú?
PALHAÇO: O baú das ilusões, o baú das mágicas, o baú do tesouro.
ZEZINHO: (animado) Tesouro? (pensativo) De que tesouro você está falando?
PALHAÇO: Do maior tesouro do mundo.
ZEZINHO: I I I, mas eu estou procurando maior tesouro do mundo.
PALHAÇO: Mas você não tem cara de caçador de recompensa...
ZEZINHO: E quem disse que eu sou? Credo que história mais enrolada. Eu não estou entendendo mais nada. Preciso acordar.
PALHAÇO: Acordar? Mas você está acordado.
ZEZINHO: Estou não. Isso tudo deve ser um sonho. Eu nunca vi tantas besteiras juntas. Uma boneca falante. Pássaros que me dão ordens. Tartaruga que pensa que é vaqueiro. E agora um palhaço que pensa que é fugitivo. (Pausa) Ah já sei, você é um fugitivo do hospício, não é?
PALHAÇO: Não.
ZEZINHO: E de quem você foge então?
PALHAÇO: Olha aqui menino, desculpe ainda não sei o seu nome...
ZEZINHO: Zezinho.
PALHAÇO: Essas pessoas estão atrás de mim desde o dia em que o meu irmão desapareceu. E no mesmo dia desapareceu também o tal tesouro. Eles acham que eu sei onde ele está.
ZEZINHO: O tesouro ou o seu irmão?
PALHAÇO: Nem um nem outro. Mas eu gostaria de saber por onde anda o meu irmão, ele era um mágico maravilhoso.
ZEZINHO: Então o baú era dele?
PALHAÇO: Era, só que o dono do circo havia escondido dentro do baú do meu irmão um grande tesouro, e não contou para ninguém. Quando o meu irmão foi embora, levando consigo o seu baú, levou também o tal tesouro, sem saber que estava levando. Mas o mistério é ainda maior, porque até agora, ninguém sabe o motivo pelo qual o meu irmão fugiu. Ele era adorado por todos.
(ouvem vozes)
ZEZINHO: Está vindo alguém, vamos nos esconder ali atrás.
PALHAÇO: São os caçadores de recompensa, vamos. (saem)
DÉCIMA PRIMEIRA CENA.
OS DOIS: Eu vou, eu vou, caçar agora eu vou. (bis)
CHEFE: Eu percebo que este palhaço, está cada vez mais perto de nós.
AJUDANTE: E eu sinto que aquela lingüiça que o senhor comeu no almoço está fazendo um mal efeito. Hum, credo que carniça!
CHEFE: O palhaço sabe onde está o mágico, seu Irmão. E ele vai nos contar.
AJUDANTE: E se o tal tesouro não tiver com o mágico, irmão dele? (apontando para a tartaruga que vem entrando, em pose de cowboy) (Ao ver se assusta e quase perde a fala.)
CHEFE: Tem que estar, foi ele quem roubou.
AJUDANTE: Patrão, a coisa tá ficando preta. (disfarçando o olhar e virando-se para frente) Acho que a cachaça está me fazendo mal. (Olha para trás, a tartaruga faz sinal de silêncio, ele treme) A história que me contaram é outra.
CHEFE: E qual é?
AJUDANTE: Bem, naquela época, correu um boato de que o dono do circo queria dar um fim no mágico. Ele descobriu que a sua filha, a equilibrista, gostava muito do tal mágico. (Vê a boneca entrando pelo o outro lado, tentando se equilibrar em alguma coisa, disfarça os olhos e...)
CHEFE: A filha dele? Aquela beleza? Não é possível. Mas o tesouro desapareceu e é isso que estamos procurando. Como você sabe de tudo isso?
AJUDANTE: Patrão, vamos embora daqui? Esse lugar está ficando muito povoado. (mostrando com os dedos que há gente demais) Está parecendo a peça de teatro, O fantasminha camarada, o senhor não acha?
CHEFE: Eu não acho nada. Você está vendo somente uma...
TARTARUGA: Uma tartaruga de pé e...
BONECA: E uma boneca de pano falante. Vocês não poderiam estar fazendo parte dessa história.
AJUDANTE: Patrão, antes eu não estava enxergando direito, mas agora eu estou vendo coisas demais. Será que eles são os violões?
CHEFE: Vilões, vilões seu retardado.
AJUDANTE: Não. (chorando engraçado) Não, não. Retardado não. Retardado não. (tapa os olho, vira-se ao voltar ao normal continua vendo a boneca, chora mais forte)
TARTARUGA: No nosso sonho, vocês é quem são os vilões.
CHEFE: Fique calmo, porque a minha espingarda, ainda está bem carregada.
BONECA: Porque vossas Senhorias não tomam o caminho de volta?
AJUDANTE: Porque a minha Senhoria e eu não queremos. Certo? (chegando bem Perto) Patrão, essa eu conheço lá da televisão.
TARTARUGA: Essa história não vai acabar bem para vocês dois. Querem duelar?
AJUDANTE: Eu topo. Vamos contar os passos até dez. (se encostam, costas com costas, começa a contar) Um, dois, três... (contam até dez, ao virarem, o revólver do bêbado se desmonta inteiro e cai os pedaços no chão) Xi, faiou.
CHEFE: Escutem aqui uma coisa...
BONECA: Escute aqui seu caçador de recompensas safado...
CHEFE: (calmo e disfarçando) Sim Senhora dona Boneca Falante, pode falar, eu sou todo ouvido.
BONECA: O que vocês dois estão fazendo aqui na floresta?
AJUDANTE: Epa, agora o caso é comigo também. Vou lá resolver essa parada. É que a gente tava caçando um palha...
CHEFE: (dá-lhe um beliscão)
BONECA: Um palha, o que?
TARTARUGA: Vamos se explique é a sua vez?
AJUDANTE: Um paca, é isso um paca.
BONECA: Sei um paca...
AJUDANTE: Claro, um para macho. Um pacão. Um pacasso. Um baita paca. Você precisa ver que tamanho de paca. Mais grande que essa floresta. Boa não é chefe?
CHEFE: Cala a sua boca. A gente só estava passeando e acabamos nos perdendo.
AJUDANTE: Não. É brincadeira dele. A gente estava caçando um palha...
CHEFE: Cala a sua boca.
AJUDANTE: Assim não dá. A gente tenta falar a verdade, mas ele não aceita. Prefere mentir. Quer um gole? (para a tartaruga)
TARTARUGA: Não bebo, isso faz mal para a saúde.
AJUDANTE: Só se for para você. Para mim faz um bem danado. Eu vejo tudo dobrado. A minha garrafa são duas, o meu pagamento é o dobro, vejo duas mulheres na minha frente...
CHEFE: E vai ver duas balas saindo de uma vez só, da minha espingarda, que com certeza vai ver dois canos, se não calar suas duas bocas...
AJUDANTE: Sim senhor Patrão.
TARTARUGA: Para que essa arma na sua mão?
AJUDANTE: É porque... Porque a gente ia duelar, se lembra? Lerdão.
CHEFE: Sabe de uma coisa, vocês dois estão me deixando nervoso. E quando eu fico nervoso, o que eu faço Zé garrafão?
AJUDANTE: Bem, depende. As vezes o senhor tira a roupa e desfila como uma modelo, lindona.
CHEFE: Idiota, eu mata ou morro.
AJUDANTE: É verdade. Ou ele corre pro mato, ou pro morro.
CHEFE: Se você abrir a boca mais uma vez, eu faço você engolir essa espingarda sem mastigar.
CHEFE: Aí não vai dar.
BONECA: Os senhores sabiam que estão falando com uma tartaruga e uma boneca de pano? (dando de dedo)
CHEFE: Claro que sim, falo com todo mundo. (imponente, depois medroso) Uma tartaruga e uma boneca? (engole seco).
AJUDANTE: Patrão, só agora é que me toquei que eles são uma Tartaruga e uma Boneca. (medroso) Uma Tartaruga e uma boneca.
OS DOIS: Socorro. (desmaiam, caem e se levantam rapidinho)
CHEFE: Eu não posso ter medo de uma tartaruga e uma boneca. Deve ser um sonho.
AJUDANTE: Acho que não é sonho não. Tá dando vontade de fazer aquilo.
CHEFE: (Olham um para o outro)
OS DOIS: Socorro. (saem correndo um para cada lado, depois voltam e se trombam, e
saem juntos.)
(A tartaruga mais a boneca saem cantando)
OS DOIS: Eu vou, eu vou, atrás agora eu vou. (bis)
DÉCIMA SEGUNDA CENA:
ZEZINHO: (saindo) Então quer dizer que o seu irmão tinha um caso com a filha do patrão? E foi por isso que ele fugiu?
PALHAÇO: Dessa eu não sabia. Minha irmão tinha um bom gosto. Ela realmente era muito bonita. (divagando) Eu ainda era muito criança, e já podia ver que tratava-se de uma beleza imensa. Ela se parecia com uma Deusa sobre aquela corda, era a melhor equilibrista.
ZEZINHO: E essa tal equilibrista tão bonita, o que pensa disso?
PALHAÇO: Hum, depois da fuga do meu irmão, ela também desapareceu.
ZEZINHO: Puxa que história triste.
PALHAÇO: Muito triste.
ZEZINHO: Mas não foi pra isso que vim aqui. Preciso encontrar o tal tesouro, é a minha missão. Será que você não gostaria de me ajudar?
PALHAÇO: Se eu servir para essa missão... é claro que eu ajudo.
ZEZINHO: Com certeza serve.
PALHAÇO: Então vamos encontrar o tal tesouro. (saem)
DÉCIMA TERCEIRA CENA:
CHEFE: (entrando) Agora embananou tudo de vez. Então quer dizer que o palhaço não sabe onde está o tesouro.
AJUDANTE: Mas numa coisa estamos certo. Existe um tesouro.
CHEFE: Bem pensado meu ajudante, Zé garrafão. Vamos seguir os dois.
AJUDANTE: Sim Senhor, meu chefe combatente e superior maior, vamos à luta. (Bate com força na testa e cai com a força)
CHEFE: (apenas olha-o, que levanta envergonhado)
AJUDANTE: Faiou.
(os dois saem um bem junto do outro)
CHEFE: Sai de perto de mim, esse seu bafo de cachaça está horrível.
AJUDANTE: Eu acho bom mesmo. Porque esses seus puns de lingüiça, tá me embrulhando o estômago. Eita homem porco sô. (saem).
DÉCIMA QUARTA CENA:
(Nesta cena, entram a Tartaruga, a Boneca, e os figurantes vestidos de pássaros ou outros bichos cantando a marcha.)
TODOS: Um dois, feijão com arroz. Três quatro, feijão no prato. Cinco seis, feijão inglês. Sete oito, feijão com biscoito. Nove dez, feijão com pastéis. Onze doze, feijão com doce.
BONECA: Cia. Alto, volver?
TARTARUGA: Vou ver o quê? Ainda não estou vendo nada.
BONECA: Descansar, sua Tartaruga lerda.
TARTARUGA: Ah, ainda bem.
BONECA: E agora vamos brincar de arrumação.
TARTARUGA: Arrumação?
BONECA: Precisamos arrumar o cenário dos sonhos, o cenário do coração para a próxima cena.
TARTARUGA: Ah não, eu estou cansado.
BONECA: (BRAVA) Nós todos estamos cansados, mas temos que fazer o serviço.
TARTARUGA: Também não precisa ficar bravinha.
BONECA: Amigos ao serviço.
(Marchando e repetindo a mesma música, viram o cenário. Aparece então um coração gigante como porta. E em seguida eles se posicionam como guardas, os outros saem)
BONECA: Amigo tartaruga, eu estou cansada de vigiar essa porta e nada acontecer.
TARTARUGA: Pois é boneca de pano, já faz cinco minutos que estamos aqui e nada aconteceu. Acho que hoje vai ser um dia como todos os outros, sem novidades.
BONECA: Sem nada para fazer. (descansa-se sobre oTartaruga).
TARTARUGA: Que missão mais desagradável que deram pra gente nesse sonho.
BONECA: Cuidar de uma porta que nunca se abre. (cochila)
TARTARUGA: O que será que tem aí dentro? (cochila)
BONECA: Dizem que é um grande Tesouro. (Já dormindo)
DÉCIMA QUINTA CENA:
Aqui os pássaros entram com um efeito musical.
PICA-PAU: Coitadinha da boneca, eu gosto tanto dela, mas acho tão triste.
CANÁRIO: Só que os seus momentos de tristeza estão para acabar.
PICA-PAU: Esperamos que tudo dê certo não é? A primavera está acabando, falta somente um dia. E segundo a lenda, a porta desse coração só poderá ser aberto numa primavera. E se não der certo, somente daqui há um ano, alguém poderá tentar abrir novamente.
CANÁRIO: O destino é imprevisível, os acontecimentos vem, de acordo como ele quer, esperemos que tudo dê certo, mesmo.
PICA-PAU: Porque será que ela e o Tartaruga se dão tão bem?
CANÁRIO: Afinidades do passado.
PICA-PAU: É verdade...
CANÁRIO: Vamos. (saem todos)
DÉCIMA SEXTA CENA:
ZEZINHO: Amigo palhaço, acho que chegamos ao local indicado.
PALHAÇO: Será que é aqui mesmo?
ZEZINHO: Veja, essa é a marca. Um coração.
PALHAÇO: Santa paçoca Salgada, é verdade. Deve ser aqui.
BONECA: (de longe, acordando) Quem são vocês. (meia que dormindo)
TARTARUGA: (Sacando a arma de brinquedo) O que querem aqui?
ZEZINHO: De novo não, já se esqueceram quem sou eu? Afinal de contas o que vocês estão fazendo aqui?
BONECA: Fazemos parte da sua história. Podemos entrar e sair a qualquer momento. Desde que você queira.
ZEZINHO: Essa não. Será que isso está acontecendo mesmo?
TARTARUGA: Quem é ele? Um elefante da disney ou um tigre de bengala?
PALHAÇO: Muito prazer, eu sou um palhaço amigo, só quero ajudar. Engraçado, tenho a impressão de que conheço vocês de algum lugar.
BONECA: (SE OLHAM) Muito bem. Estávamos aguardando a chegada de ZEZINHO.
PALHAÇO: E como vocês sabiam? Ai ai ai ai, isso está me cheirando há uma baita de uma cilada.
ZEZINHO: Espera aí, se você sabia de tudo isso, porque não falou logo no início? Naquela noite de sono, cheia de sonhos e pesadelos.
BONECA: Porque não podemos mudar o destino. Você teria que passar por tudo que passou, para realizar essa tarefa.
PALHAÇO: Eu conheço esses dois. Para mim não são estranhos. Acho que estão pregando uma peça na gente.
ZEZINHO: Então me digam, como é que é esse teste?
BONECA: É simples, você vai abrir a porta com a sua mão esquerda. A mão do lado do seu coração. Se conseguir abrir, terá seu sonho realizado, mas se não conseguir...
PALHAÇO: Se ele não conseguir...?
BONECA: Ficará preso aqui para sempre, como um animal ou um brinquedo. É a maldição que foi lançada a anos sobre esse tesouro. E se você realmente for o escolhido, nada lhe acontecerá, e salvará os outros que tentaram a mesma façanha.
PALHAÇO: Eu não disse que isso era uma baita de uma cilada. E agora, vamos embora?
ZEZINHO: De jeito nenhum, vim até aqui, vou terminar. E além do mais acredito nos meus objetivos.
PALHAÇO: Você ficou maluco, onde já se viu, abrir a porta com a mão esquerda, só pra ter certeza de que é o escolhido, isso não existe. E se o coração dele for no outro lado.
TARTARUGA: Eu vou dar uns petelecos na cabeça desse cara pintada. Entrou na história de gaiato, e fica enchendo a paciência desse jeito. Até parece o meu irmão mais novo, aquele pentelhinho.
BONECA: Calma, tudo vai depender das boas intenções do menino.
TARTARUGA: E eu que pensei que hoje seria um dia como todos os outros.
PALHAÇO: ZEZINHO, vamos embora daqui, esses dois não estão com nada.
TARTARUGA: Calado.
(O palhaço vai dizer algo, mas não consegue, fica engraçado)
ZEZINHO: Pode deixar ele falar é um bom moço.
TARTARUGA: Que fale o Palhaço então.
PALHAÇO: Vocês são dois bruxos, ou bruxas, sei lá. Como conseguem fazer isso? Podem deixar o menino tentar abrir essa porta, que eu vou ficar no meu cantinho, bem quetinho, observandinho.
(Nisso entram os dois caçadores)
OS DOIS: Nós viemos, nós viemos. E a caça encontramos.
BONECA: Alto lá, vocês de novo?
AJUDANTE: Não. É mãe dele que está aqui.
TARTARUGA: Porque vocês não se tocam?...
AJUDANTE: Ah, eu não consigo. Primeiramente que eu não sou sanfona, e Segundamente, como diria Odorico Paraguassú, aquele prefeito safado, eu não sou músico.
CHEFE: (gritando nervoso) Calem a boca. (todos se calam) Eu não disse que esse tesouro existia, eu quero ele para mim. Vamos abram a porta.
BONECA: Como ousam atrapalhar a realização dos sonhos de um menino? Será que vocês não perceberam que estão sobrando nessa história?
AJUDANTE: Patrão se essa boneca de pano não calar a boca, vou tocar fogo nela. (tirando uma caixa de fósforos grande)
TARTARUGA: Experimenta pra ver o que pode te acontecer.
AJUDANTE: Não. Duelo de novo, não.
BONECA: Como somos os protagonistas dessa história, vocês dois vão calar a boca, e ficar em posição de fotografia, sob as minhas ordens. Como dois anjinhos bonzinhos.
AJUDANTE: Patão o que é anjinho?
CHEFE: Seu idiota, cala a boca que eu estou ficando todo duro. Anjinho não.
AJUDANTE: Grande coisa, eu sempre fui duro e nunca reclamei. Ei? Isso não vai dar certo. (fica duro de um jeito meio engraçado)
CHEFE: Eu vou fugir. (tenta correr, mas endurece, com um anjo)
TARTARUGA: Amigos, podemos continuar com a missão.
(ZEZINHO, vai até a porta e com a mão esquerda, tenta abrir a porta. Luzes começam a ascender, o coração da porta pisca várias vezes, há um som melodioso, como angelical.)
BONECA: Isso aqui está ficando muito esquisito não quero nem ver. Vou me embora
(vira-se de costas e sai)
(O mágico se esconde dentro do saco)
(Após a porta aberta, para de piscar as luzes, e as roupas do Tartaruga sobe com linhas e fica no lugar o Mágico, sob uma luz de strobo. )
(Após o som o palhaço tira a cabeça para fora)
PALHAÇO: Meu irmão é você?
MÁGICO: Quinzinho é você? Meu irmãozinho....
(toca-se uma música emocionante e os dois se encontram)
PALHAÇO: O que você fazia nessa mata, vestido de tartaruga?
MÁGICO: Tartaruga? Eu era uma tartaruga? Não me lembro de nada. Entrei aqui nesse coração com o meu baú, a porta do coração se fechou e eu caí num sono profundo. Só agora acordei. Que dia é hoje? Espere, você é o meu irmão, aquele garotinho? Como cresceu tão rápido? E a Aninha? Onde ela foi parar?
PALHAÇO: Meu irmão, isso já faz dez anos. E ninguém mais ouviu falar na equilibrista.
MÁGICO: Pois para mim não passa de uma noite, e ela deve continuar linda, como sempre foi.
ZEZINHO: E o tesouro?
MÁGICO: Quem é esse menino simpático?
PALHAÇO: Aquele que te libertou.
MÁGICO: Eu sendo um grande mágico, tenho que concordar, que nunca vi uma mági
ca como essa que você fez. Você deve ser alguém muito especial, mesmo.
ZEZINHO: Apenas um menino. E o tesouro?
MÁGICO: Que tesouro?
ZEZINHO: Que estava dentro do seu baú.
MÁGICO: Nunca existiu tesouros dentro do seu baú.
(os caçadores voltam ao normal)
CHEFE: Quer dizer, que enganaram a gente? Que isso daqui era uma cilada?
AJUDANTE: E eu acho que bebi demais, não estou entendendo mais nada.
MÁGICO: Quem são vocês dois, e essa gente toda?
(os pássaros vão entrando e tirando as roupas e se transformando em pessoas)
AJUDANTE: Muito Prazer. Somos caçadores de recompensa. E queremos o tesouro para nós. Na verdade, aqui só para nós dois, somos ladrões.
CHEFE: Seu burro, idiota. Palhaço.
PALHAÇO: Epa, o palhaço aqui sou eu.
AJUDANTE: Está vendo? Eu que bebo e o senhor é que fica vendo coisas. E eu vendo
dobrado, socorro. (começa a se mexer, cai de quatro e começa a latir como um cão.)
CHEFE: Você está se transformando num cachorro?
AJUDANTE: Me transformando não. Eu sou um legítimo vira-latas. Me dá uma perninha aqui, que eu quero fazer xixi.
CHEFE: Ai ai ai. Acho que eu estou virando um. (late como cão)
AJUDANTE: Viu chefe, agora somos iguais. Quero ver você me dando ordens. Luluzão.
(O chefe lati mais alto, e o Bêbado late fino e sai correndo de medo. O outro vai atrás.)
PALHAÇO: E o tesouro que sumiu do circo, onde está. Todos acham que estão no seu baú?
MÁGICO: Pode até ser. Porque eu nunca mais abri o baú, para esquecer tudo o que havia acontecido.
(nisso os dois que faziam os pássaros, entram puxando os cães.)
CANÁRIO: (Mais velho) Obrigado por nos tirar da maldição, queríamos somente o tesouro, e por isso nos transformamos em pássaros. Agora prometo que nunca mais vou maltratar os animais. Vamos cachorrinho. (que rosna).
ZEZINHO: Gente, e a boneca? Onde ela foi? Ela ficou com tanto medo que desapareceu de medo.
ANINHA: (ENTRANDO) Eu estou bem aqui.
(os dois se olham por um momento, luzes somente nos dois, quando vão se beijar, a
porta vai saindo do lugar, ficando somente um baú enorme, brilhoso, a tampa começa a se abrir, e dentro do baú surge uma grande pedra de cristal, o casal sai dançando, uma valsa, o cenário vai se movendo, SÉZINHO fica maravilhado, começa a rodar em volta, e tudo fica como no início, o quarto de ZEZINHO.
ZEZINHO: O que é isso? O que está acontecendo? (repete várias vezes)
CENA FINAL:
PAI: (Chefe, entrando) Sonhando novamente meu filho? Já são nove horas da manhã. O sol está brilhando lá fora. É um Domingo maravilhoso.
(ZEZINHO se levanta e começa a ver os personagens pelo quarto. Com uma música falando nos personagens, ele passa por todos)
A boneca de pano.
O tartaruga.
Uma foto de palhaço.
Os dois pássaros dentro da gaiola, que o solta levando até a janela.
Os dois cães latem do lado de fora.
ZEZINHO: Pai tive o melhor sonho da minha vida.
(entra o empregado, bêbado)
AJUDANTE: ZEZINHO venha tomar o seu leite, que eu acabei de tirar da malhada.
ZEZINHO: E você não vai tomar também?
AJUDANTE: O meu eu já tomei. Lá na teta da vaca. Só que ela me deu um coice... mas que eu tomei, tomei.
PAI: Meu filho, vamos tomar o café.
(Eles saem, e o baú começa a se abrir novamente, as luzes vão se apagando e surge uma grande pedra de Cristal, Em seguida ela se fecha e...)