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Contos-->UMA LONGA VIAGEM -- 09/02/2003 - 00:19 (lira vargas) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
UMA LONGA VIAGEM.

Final de tarde, fila organizada, rostos cansados, o desejo de acabar com aquele castigo de chegar a casa, o destino concretizado, sonhos realizados de um dia de trabalho (é o mínimo que se tem hoje) os ônibus encostam levantando poeira, a “loucura da cidade grande”, o calor insuportável e aquela brisa enganadora que cobre de vapor os pobres transeuntes, levantando folhas de jornais espalhados pelo chão. “Brasil recorre o mais um empréstimo... e o dólar sob” cortada o resto da palavra. Maços de cigarros amassados em forma de bolinhas.
Gritos dos camelôs, e a disputa dos pedestres pôr um lugar calçado. A fila aumenta em oposição aos ônibus que encostam violentando a impaciência e a audição dos passivos passageiros brasileiros daquela cidade.
Contrastando com os rostos cansados, sobe para o ônibus uma elegante mulher. A alegria de seus lábios era um esforço inútil para contagiar aquele ambiente. O ar de deboche era um desafio àquela mistura de trabalhadores. A moça instalou-se no canto da janela. O perfume misturou-se ao suor dos “homens da paz”. Mas, a seu lado, senta um homem, tipo suado, camisa amarrotada, vítima do trabalho, jeans desbotado, os cabelos em desalinho, um trabalhador assumido e cansado. Em desrespeito àquela beleza debochada e ensaiada, o sujeito cruza os braços e aproveita para cochilar no “ninar” do ônibus que sacode tudo, bate em buracos e arremessa o dorminhoco até a “boneca perfumada”. Ela o olha , fazendo um “ram, ram,” e nada. O sujeito sacode sua cabeça até aquele ombro perfumado e macio.
__ Cavalheiro, se você quer encostar, fale. Desse jeito é chatíssimo, incomodo e não dá prazer, nem a mim nem a você.
__ Desculpe, moça, é que estou cansado.
Falou o sujeito com o espanto de quem acorda de madrugada. Segue a viagem, os passageiros apuram os ouvidos, dirigem a atenção para aquele caso novo, afinal as viagens são, sempre iguais.
Chega uma curva, o sujeito já adormecido, outra vez cai sobre o colo macio da moça.
___ Olha aqui, seu idiota, se você pensa que vou lhe dar o lugar, está muito enganado. Está-se sentindo arrepios ao encostar-se em meu corpo, vá ao médico você é doente.
___ Olha aqui você, sua boba, está mesmo com sono, e se pensa que me dá arrepios, está muito convencido. Você parece àquelas ervas de perfume de camelô em fusão.
O povo já achando a coisa engraçada, ri discretamente.
__ Cavalheira mais uma palavra e você vão descer...
__ Ah! Que gracinha, a boneca dá ordens!
__ É?
E a jovem puxou um revolver preto, cano longo, aquele monstro temido, encostou-se ao pescoço do sujeito, que tremeu e gaguejou.
__ Para, para com isso moça!
__ Desce. Desce agora.
E foi arrastado até o meio do ônibus. O sujeito desceu, o motorista silencioso, abanou as mãos num calor excessivo. Na calçada, o sujeito arregalando os olhos, ouviu aquela voz autoritária e macia.
__ Cavalheiro, tem dinheiro para outra passagem?
E quando o ônibus pôs-se em movimento, a moça atirou o revolver para o expulsado, que agarrou a arma de brinquedo. Foi risada geral. Um engraçadinho e puxa-saco recuperado do susto foi em direção à falsa pistoleira.
__ Po, ai, gostei, você e é demais. O cara tremeu tanto que se enrolou nas pernas.
__ É engraçadinho? Enquanto discuti com o cara, ninguém disse nada. Voc6e é covarde como todos aqui...Quem teve coragem de defender-me no início da viagem? E agora vem parabenizar-me... Não quero conversa com “babacas” Fique quieto e não fale mais comigo, ta?
Silencio momentâneo.
__ Olha aqui, mocinha, ao cara você amendotrou, mas agora sei qual é a sua tiro sua roupa aqui mesmo, tá? E quero ver a sua força.
Os passageiros exibiam reações diversas. Uns riam, outros fingiam indiferentes.
A elegante jovem exibe uma afiada navalha e vai até o desafiante, que arregala os olhos e ordena que faça o que a ameaçara (tirar sua roupa) o mesmo abre a boca, o protesto não sai, um grunhido indecifrável escapule da garganta empoeirada. O motorista dá uma olhada e balança a cabeça, desvia de um cachorro que atravessa a rua, o sol se pôs, restou aquele clarão do crepúsculo dourado de verão. Lá fora o policial não sabe que está acontecendo e adianta o trânsito. O silêncio reina no ônibus.
O sujeito abraça a moça, os passageiros se assustam, permanecem passivos, uns abraços de vitória, e uma voz:
__ Corta, foi ótima.
A câmara escondida no teto do ônibus é paralisada, um carro seguindo o ônibus com o primeiro sujeito expulso, alcança o veículo.
O motorista diz apenas:
___ tá todo mundo doido...
E o diretor da curta metragem agradece aos passageiros que participaram sem saber daquele trabalho e diz:
___ Vocês foram bons figurantes, e provaram que o espírito de ajuda ao próximo ainda tem muito a dever!

Lira Vargas.

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