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Cronicas-->Ela -- 01/11/2002 - 03:15 (Ligia Helena) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ela olhou-se no espelho: batom, rímel, lápis, tudo certinho, no seu devido lugar. A calça não sobrava nem apertava, e a blusa lilás lhe dava uma aparência mais jovial. Passou as mãos nos longos cabelos, que já não eram mais os mesmos. Maltratados pelo tempo, ela pensou. O tom aloirado era obviamente vindo de uma tintura, mas quem se importava? Pegou a chave do carro, e sentiu falta de ter a quem avisar que estava saindo, que chegaria tarde, que talvez não dormisse em casa aquela noite.
A garagem do prédio, com aquele cheiro de mofo, não era o lugar mais agradável do mundo, mas lá ela sentia-se aconchegada. As luzes frias, as goteiras. Parecia um lugar perfeito para sua melancolia. Vinte anos. Vinte anos junto de um homem que, sem mais nem porquê a trocara por uma garota! Caramba, ela não era feia. Sua imagem refletida no vidro do carro mostrava uma mulher já vivida. Alguém que aguentou todas as barras que um casamento pode proporcionar.
Ela havia sido a garota mais bonita de Santa Bárbara. Em todos os bailes, todas as festas, era ela quem atraia os olhares dos garotos que lá moravam, e até dos bonitões que vinham da capital bagunçar a cidade. As amigas ficavam em polvorosa quando, nas sextas feiras à noite meninos vindos de São Paulo chegavam em seus carros, para divertirem-se no clube, nas grandiosas festas que lá aconteciam.
E foi numa destas festas que ela o conhecera. Bonito, estudava medicina na capital, e aos fins de semana visitava a família em Santa Bárbara. Tinha um Passat branco, que brilhava de tão novo. Alto forte, inteligente, carinhoso, com um sobrenome importante... quem não queria um bom partido como esse? E ela não era diferente. Em pouco tempo já namorava com Atílio. Desfilava pelo clube, pela praça, por todo lugar com seu namorado. Seu, de mais ninguém. Desfilava frente aos olhares invejosos das amigas. Com dezenove anos, já estava na hora de encontrar alguém para namorar, e quem sabe, futuramente, casar e ter uma família. Ainda mais em Santa Bárbara, cidade pequena, onde quem não casava ficava mal falada.
Quando completou um ano de namoro, Atílio pediu sua mão em casamento. Parecia um sonho! Ele era o homem de sua vida, sem dúvida. Mais um ano se passou e casaram-se, na igreja matriz da cidadezinha. Todos compareceram, foi uma festa como jamais havia acontecido. E ela mudou-se para São Paulo. Foram felizes por muito tempo, durante vinte anos foram o casal perfeito. Dois lindos filhos, uma bela casa. Atílio era um médico de sucesso, ela uma dona de casa dedicada, mãe amorosa, esposa carinhosa. Pareciam uma família de comercial de margarina, em seu dia a dia de flores e sorrisos.
Até que numa noite não muito fria, Atílio chegou em casa apressado. Entrou no quarto, chamou a esposa, e lá se trancaram. Uma hora depois ele sai, carregando uma mala. Ela mal podia acreditar no que ouvira: dos vinte anos de casamento, quinze foram compartilhados com outra. Uma outra mulher, uma garota! Como ele póde enganá-la por tanto tempo? E agora ir embora, deixando-a sozinha? Um filho fazendo intercàmbio, o outro estudando no interior, seu marido com uma garota, e ela sozinha. Ah, ela não ia ficar sozinha em casa.
Telefonou para as amigas: todas ocupadas demais com seus afazeres. A irmã viajando pelo mundo. Não pensou duas vezes: vestiu sua melhor roupa e decidiu sair, sozinha, por aí. Procurar uma boa companhia para passar a noite, e, quem sabe, dividir sua tristeza, sua decepção, sua raiva, seu ódio. Enganada. Como pode?!
Entrou no carro, saiu da garagem sem nem acenar para o porteiro do prédio e acelerou. Queria correr, deixar pra trás as coisas ruins que tivera de ouvir. Não a amava mais, não sentia atração, gostava da outra, da garota. Será que um dia ele a amara? Será que desde os tempos de Santa Bárbara ele já tinha outra? Ou talvez outras, mais de uma. Umas cinco! Sim, talvez essa garota também fosse traída! Os pensamentos surgiam em sua cabeça e ela acelerava mais e mais. Semáforos vermelhos, radares, dor, tristeza, tudo ficava pra trás.
Sem nem perceber, estava no Itaim. Entrou numa rua congestionada, os bares estavam cheios de gente bonita, gente jovem, carros possantes. O semáforo ficou vermelho e ela parou. Na faixa de pedestres, a sua frente, ela viu Atílio. Ele e uma garota. Abaixou a cabeça, uma lágrima caiu em sua blusa lilás. Engatou a primeira, pisou no acelerador e só sentiu o baque. Matou sua tristeza.
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