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Contos-->O MOINHO DESTRUIDO -- 09/02/2003 - 00:32 (lira vargas) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O MOINHO DESTRUIDO.

Nasci no interior de Minas Gerais em uma fazenda da qual meus pais eram empregados antigos daquela família rica.
Tínhamos conforto em alimentação, mas a única escola encontrava-se há mais de uma hora de viajem a cavalo. Vivia nessa fazenda varias famílias, talvez umas oito, todos com filhos quase da mesma idade. Os donos, o Sr. Franco, Sra. Helena e dois filhos: Orlando e Neide. Éramos muitos amigos e após as aulas brincávamos até anoitecer pêlos caminhos e ladeiras da grande fazenda. Na época da colheita de frutas era uma festa, e na época das borboletas? Nossa! Que maravilha, Orlando era o campeão na caça às borboletas, que ao pegar a mais bonita, soltava-a aos meus primeiros apelos. Era mais que vida era um paraíso À noite quando nos chamavam, as despedidas eram breves, pois sabíamos que na manhã seguinte após as aulas novo encontros, novas apostas aconteceriam certamente.
Orlando e Neide eram os mais velhos de todos, as crianças da fazenda os respeitavam muito, e eu que tinha o apelido de Índia, Sueli era uma outra amiga tínhamos dez anos, Orlando treze e Neide doze.
Uma tarde Orlandp que sempre dizia que quando fosse adulto se casaria comigo, mas apesar dessas palavras, nunca levava a sério. Mas foi numa tarde, era a chegada do inverno, subi na velha janela, abri a veneziana, os vidros embaçados e vi a minha frente só a natureza, fazia muita fria, mas uma vontade imensa de correr e brincar, e minha mãe, ao me ver olhando através da vidraça, falou: Índia, nem pense em sair, hoje o sol não virá, é bom ir brincar com as bonecas. Fiquei chateada, mas ouvi uma voz, era Orlando me chamando. Saí correndo pela porta dos fundos e que alegria! Pois eu era filha única e pensar em ficar sozinha com as bonecas era um castigo.
______ oiiii!!!! Gritei da varanda dos fundos.
______Índia, venha, ainda não choveu, vamos até o moinho? Corri e de camisolas de flanela, meias e sandálias, e apesar do apelido eu ra loira com duas tranças enormes que iam até a cintura.
Fomos até o moinho, perguntei pôr Neide.
_____Olha, sabe que estou com medo?. Disse-me Orlando. Ela amanheceu com febre e meu tio (que era médico) disse que é perigoso Ter febre! Orlando era muito sério quando não estava brincando, parecia um adulto, e eu o considerava como tal, pois ele dominava todas as brincadeiras. E continuou:
_____Acho que o dia está triste porque Neide está doente... E seguimos nossa caminhada pelo caminho do moinho. Ao chegarmos perto, ouvi, os sino dando a hora para o lanche dos empregados. Não sei explicar, mas eu e Orlando fomos atraídos até o outro moinho abandonado. Chegando lá, também não sei dizer, iniciamos uma espécie de amor, chegando a uma relação sexual, que posso jurar, que era uma relação amorosa, inocente, no inicio senti vergonha, mas logo me desinibi.
Passados os dias, nada comentamos, mas como o inverno castigava a fazenda, outras vezes nos encontramos juntos com as outras crianças e sempre dávamos um jeito de fugirmos ao nosso local, que Orlando já dizia que era nosso. E que deveríamos guardar segredo e que se não continuássemos eu nunca ficaria grávida quando casasse e seria castigada. Em minha inocência e creio na dele também , fomos nos ligando tanto que não ficávamos mais de dois dias sem nos encontrar.
Mas a nossa felicidade durou pouco, quando o inverno acabou, a primavera nos presenteou com as variadas flores, e o verão como intruso, ofertou-nos com as férias de final de ano, e com as festas, soube pôr Neide que Orlando iria iniciar o curso cientifico no Rio de Janeiro. Foi um sofrimento que não sei explicar, uma dor tão grande, o verdadeiro sabor da saudade, experimentei com dez anos de idade.
Em nossos encontros não comentávamos nada, o silencio falava pôr nós após nossos encontros o amor verdadeiro e que pensávamos nunca findar.
Quando uma das vezes em que descíamos a ladeira do moinho abandonado perguntei se no Rio de Janeiro tinha monho abandonado Orlando responde segurando umade minhas tranças:
____ Ora, sua bobinha, lá não há moinhos, lá é uma cidade muito grande, dizem até que os pássaros são como fantasmas, ouvem-se seus cantos, mas não os vem pôr causa do grande movimento que tem a cidade. Nada falei calado descemos a ladeira e calada uma lágrima que denunciava minha dor.
E foi chegado o dia de Orlando ir. Na fazenda seus pais deram uma festa de despedida, apesar de nossa amizade, não fomos convidados, eram pessoas da alta sociedade, donos de outras fazendas, e uns tios do Rio, que foram apanha-lo. Que dor!. Nunca esquecerei daquele dia. Orlando parecia um rapaz. De terno com gravatas de borboletas, sapatos de verniz. Eu em baixo de um carramachão vermelho, meus olhos também tão vermelhos quanto aquelas flores. Meu vestido branco de barra estampada, e o que mais se destacava naquela festa de despedida era à vontade de pedir que não o levassem. Fui surpreendida pelas outras crianças, levei um susto quando me chamaram.
___Índia, venha Orlando e Neide estão ocupados, com aquelas visitas, vamos brincar? Sabe o que Sueli descobriu?
___Não, e nem quero saber. Vão embora. Que meus olhos estão ardendo, acho que foi um mosquito que entrou neles.
___Ora, venha, Sueli descobriu no moinho abandonado um esconderijo para nossas brincadeiras, é lindo lá de cima, venha!
___Não, não vai ao moinho abandonado, ele tem donos é meu e do Orlando! Não quero ninguém lá.
____AH! Que sabidos vocês, nem nos falaram nada . Isso não vale.
E saícorrendo para casa, da janela de meu quarto dava para ouvir o barulho da festa, e no portão de saída da casa de Orlando, um lindo carro preto, certamente o que levaria para o Rio de Janeiro. Passei várias horas olhando o carro, uma vontade de destrui-lo, uma vontade louca que desistissem... Mas de nada adiantou, Orlando foi embora, vi seu rosto através do vidro do carro, pensei que seus olhos estavam tristes, mas era engano meu, era ansiedade pela nova vida que iria viver.
Passei muitos dias perguntando a minha mãe onde era o Rio de Janeiro, depois de muitos dias, voltamos a vida normal, mas sempre aquela dor me encomodava, sabia noticias dele através de cartas que enviava e seus pais.
Passaram-se seis anos, soube que ele estava na faculdade de medicina. Achava engraçado pensar que Orlando seria um médico. Muitas vezes ele dizia que nunca seria médico, pois seu tio via muitas pessoas morrerem, nossas conversas sempre eram, ou de brincadeiras ou assustadoras e dramáticas. Sua mãe ia todas as férias para o Rio de Janeiro, na volta eu pedia com o olhar um recado dele, mas nunca vinha nada.
E naquele verão, já era uma jovem de dezesseis anos, estava estudando para ser professora, ficava feliz. Era final de novembro, quando soube de sua chegada que seria em inicio de dezembro. Nem sei o que não pensei para ficar bonita, já não usava mais tranças, meus olhos eram azuis, minha pele era muito fina e todos diziam que eu era a Índia mais bonita da fazenda. Meus amigos continuaram na fazenda, uns pararam de estudar, outros também estudavam, Sueli namorava Cipó, o menino mais alto e mais levado da turma. Só Neide, irmã do Orlando é que se correspondia com um estrangeiro.
Todo o dia contou os minutos de sua chegada, no orquidário da fazenda passei várias horas conversando com as orquídeas, era a flor predileta de Orlando. Na véspera de sua chegada, fui conversar com Neide, e fingi naturalidade ao falar sobre ele, quase morri, senti o mesmo sabor da saudade da despedida que não aconteceu, quando Neide falou que Orlando viria com uma namorada rica do Rio de janeiro, não sei o que controlou, talvez o sufoco no coração, nada mais falei, despedi-me e fui correndo ao moinho destruído pela ultima tempestade, chorei muito tempo, revi na lembrança nossos momentos, o último momento a longa espera e o pior a decepção. Desejei que o dia não findasse, fiquei muitas horas na relva gasta pelo verão, ouvindo os pássaros se recolhendo, era o aviso da noite, sabia que o novo dia traria Orlando, meu primeiro amor, meu príncipe desencantado.
Na manhã, quando ainda adormecida, faltavam vinte minutos para as oito da manhã ouvi minha rindo, cumprimentando o Dr. Orlando. Fingi que ainda dormia, mas ele percebeu que estava acordada, e como nos velhos tempos chamou-me, dizendo que arrancaria minhas cobertas.Destampei o rosto e não resisti a um sorriso, um sorriso tão alegre. Meus cabelos despenteados, e eu que hádias vivia embelezando-me para vê-lo, e ele surpreendeu-me despenteada. Ele estava lindo. Ficamos uns segundos abraçados, nem me lembrei do que Neide havia dito.
___Índia, você não mudou quase nada. Continua a ser a menina mais linda do mundo.
Pedi que me aguardasse, aprontei-me e fomos para a varanda. Conversamos longo tempo, perguntei se ele era doutor, disse que ainda era estudante, que esse “doutror” era um exagero da família. De repente perguntei-lhe sobre a noiva do Rio, ele ficou sério pôr um instante e disse que era verdade, e que ela estava na casa dos pais ainda dormindo. Já havia me acostumado com a idéia, e a dor já não doeu tanto, e fingi naturalidade, talvez pela emoção de estar tão perto de Orlando, ele perguntou sobre o moinho, se ainda existia. Respondi que no último verão uma tempestade o destruiu, vi sinceridade em seus olhos, Orlando pareceu muito triste, quis sabersobre as orquídeas, disse-lhe que estavam lindas. Ele segurou-me pelas mãos, levando-me ao orquidário, era em uma elevação acima do moinho velho nada falamos pelo caminho, nossos passos abafava o barulho de meu coração, nossas mãos entrelaçadas, era como nos bons tempos, e finalmente chegamos ao orquidário, parecia um cumprimento, Orlando abraçou-me e uma paixão mais forte, mais adulta, mais verdadeira e cheia de saudade, nos amamos, com carinho imenso nos transportamos para o caminho infindo do amor, não queria que aquele momento terminasse, mas terminou, tínhamos que retornar, já fazia muitas horas que estávamos lá.
Ao chegarmos nossos amigos de infância estavam em frente suas casas, envolta daquela moça grã fina e muito bonita, era a noiva de orlando, quis voltar, mas Orlando apertou minha mão, parecia o mesmo menino seguro de nossa infância. Apresentou-nos a ela, e disse que eu era a especial amiga. Quase morri de raiva de suas palavras.
Eles ficaram dois meses na fazenda, apesar de tudo, nossos encontros não findaram, quase todas as manhãs, quando a fazenda ainda adormecida, eu ouvia seu chamado, e corria às vezes sem nem me pentear, e a gente se amava como uma despedida. Às vezes quando tentava falar de sua noiva, Orlando tapava meus lábios carinhosamente, dizendo que eu não deveria estragar nossos encontros, que tinha que ser como em nossa infância, sem palavras e discurses, mas então não agüentando aquela situação, disse-lhe que ele havia me garantido que não namoraria ninguém no Rio de Janeiro. Ele então lembrando de nosso ultimo encontro e rindo falou:
___Eu disse que no Rio não tinha moinhos velhos, mas garotas...Isso eu não disse. E nem sei explicar, mas achei engraçada sua saída, seu argumento, como sempre astucioso e inteligente.
Chegou o dia da despedida, foi como na última vez, o sofrimento a dor eram minha fiel companheira. Soube no inverno de quatro anos depois que Orlando se casara com a grã fina do Rio de Janeiro, como eu odiava aquela cidade que diziam ser a mais linda do mundo. Orlando já estava formado, vivia na lembrança de nossos encontros secretos. Sueli casou-se com Cipó, Neide com o estrangeiro, fora para Europa. Fiquei na fazenda, não tinha coragem de sair dali, toda aquela paisagem, que não se transformava, cada estação do ano se repetia de maneira uniforme, nada se modificava, apenas o moinho havia sido destruído pela tempestade como um sinal de alerta para que eu esquecesse aquele grande amor que queimava minha carne a cada recordação.
A rotina de minha vida foi quebrada, quando em um dia de verão, ao retornar da escola onde era professora com uma notícia triste, mas que me deu esperanças, novos sonhos, a esposa de Orlando morrera ao dar a luz a um menino, o bebe já havia morrido poucas horas antes de nascer. Senti uma vontade muito grande de estar ao lado de Orlando, pela primeira vez pensei com maturidade no amor que nutria pôr ele, nunca havia pensado assim. Passei toda minha infância e adolescência nutrindo um amor mais carnal do que um amor adulto, consciente, talvez o inicia de nossos relacionamento prematuro tenha sido o culpado, poispermanecia imatura, e talvez isso tenha sido a causa do interesse parcial de Orlando.
Após o enterro de sua esposa e do neném cemitério da fazenda, não nos vem, não tivemos coragem de nos aproximar.
Uma semana depois, era um sábado, acordei cedo, fui ao orquidário, lá fiquei pôr um tempo, de repente apanhei uma braçada de orquídeas, chamei o cavalo e fui ao cemitério, não sabia explicar, mas uma vontade muito grande de ofertar as fores àquela mulher e a seu neném, pôr tantos anos de espera e agradecer, mesmo sofrendo que a morte deles me fizeram mais adulta, uma mulher que curtiu tantas ilusões. Chegando ao cemitério que era pequeno, o porteiro indicou o túmulo deles. Fui pôr entre os outros, havia muita vegetação e ao chegar com as orquídeas, fiquei contemplando o retrato e aquele nome “Cecilia” que nunca consegui pronunciar, era apenas a “grã-fina do Rio de Janeiro” estava muito bonita, tal como pessoalmente. Deixei as flores, cheguei a rezar pôr ela. Senti uma mão levantando-me. Foi um susto, Orlando sério como em criança, já conhecia aqueles traços, barba crescida, um olhar ansioso e triste, uma onda de emoção nos envolveu e fomos tomados pôr um choro quase convulsivo, algo como afeição mútua. Permanecemos muito tempo abraçado em frente ao túmulo, acho que foi o momento mais importante, talvez o momento decisivo de nossa vida. Fomos interrompidos pôr umas andorinhas que se recolhiam às árvores, nesse instante ficamos olhando-as e lembrando de nossa infância, pois quando elas se recolhiam era final da tarde, hora de irmos embora. E caminhamos para o portão de saída.
Durante uma semana não nos vimos. Um Domingo depois que estavaescrevendo uma carta, já desesperançada, percebia que não havia possibilidade de nos unir, pois pensei que não fazia parte de seu mundo social, estava disposta partir daquela fazenda, onde tanto ano esperou, onde amadureci a custa da morte de duas pessoas que Orlando amou, era um raciocínio óbvio, era uma decisão racional, estava acabando de escrever a carta, quando ouvi Orlando me chamar, a voz parecia à mesma de quando criança.Corri à varanda, o caramanchão estava florido, o vento soprava suavemente e Orlando estava mais lindo, corri até ele, ficamos nos olhando pôr uns instantes, ele então quebrou o silencio dizendo que, no lugar do moinho destruído tinha algo para me dizer. Fomos lá, minha mãe ficou nos olhando de longe até a subida do caminho, e desaparecemos entre as árvores e ao chegarmos Orlando tirou do bolso um par de alianças e disse que meus pais já sabiam de nosso noivado e até a data do casamento.
Foi uma festa simples, porem homenageada pela primavera e pelas borboletas e andorinhas.
Não sei dizer o quanto sou feliz, hoje somos casados e muito felizes. Sempre que podemos vamos ao orquidário e nos amamos como nos tempos de criança.

Lira Vargas

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