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Infantil-->A HISTÓRIA DE AMOR DE JECA TATU PEBA -- 05/07/2002 - 10:34 (LUIZ CARLOS LOCATELLI) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TEATRO INFANTIL.

A história de amor de Jeca Tatu Peba.

História e roteiro de: Luiz Carlos Locatelli

DO JECA TATU PEBA
APRESENTADOR
DONA ROSA.
MARIA CHIQUINHA.
CONTADOR DO CAUSO.
CONCORRENTE CONCURSO.
LAMPIÃO.
MARIA BONITA.
Apresentador:
Olá, gente de cara, dente e nariz pra frente!
Jeca:
Sejam bem vindos, respeitabilíssimo público! Senhoras dálias, Senhores garbosos! (Aproveitando-se de qualquer barulho na platéia) Deixe de espernear mal criado, cabra-cabriola como os olhos dos chorões! Engoliu um boi e engasgou-se com pipoca, foi?
Apresentador:
E esse outro, chupado de mosquito! Vai dar um faniquito, é? Comigo é nove e dez não forma.
Jeca:
E lá do outro lado, aquele com cara de mexerica chupada, será que pensa que a vida é só da risada? Enganou-se meu filho, todos temos que roer o caroço do milho. A rapadura é doce mais num é mole não.
Apresentador:
Acho que você tá atrapalhando a minha apresentação, afinal, eu é quem sou o apresentador.
Jeca:
E onde você viu, pobre se apresentar? Apresentação de pobre é serviço militar. Ei menino, larga a bunda do vizinho! Solte! Não pegue! Cuidado! Cadeia é prêmio prá moleque safado. Alto lá, Mocinha! você aí toda emperiquitada, chamegosa, lambida, atrapalhada! Lembre-se: casamento resolve beijos de conversa fiada!.
Apresentador:
Peraí, Jeca! Sou ator. Meu trabalho é...
Jeca:
E desde quando ator trabalha? Vejam só! O homem é ator! Isso representando é?... Coitado, o primeiro que apanha e o último que ganha. Só é gente quando vem noite escura, todos dizem: “lá vem homem” somente pela figura. Fé, caridade e sepultura! É esse seu quinhão! Descanso – a sete palmos do chão!
Apresentador:
Chega de conversa fiada. (Vai até o público) Respeitável público! (tambores) Tenho prazer em anunciar: O mais inacreditável, descabido espetacular, arrepiador, assustador e ingênuo espetáculo de bonecos com atores...
Jeca:
Êpa, agora é comigo. A história de amor de Jeca Tatu Peba. A minha história de Love, Lamour, amor.
Apresentador:
Uma história inventada, escrevinhada, e arrotada por...
Jeca:
Infelizmente não podemos falar. Ele não gosta que fale seu nome. Tem medo da crítica. Pode acabar com sua carreira que não começou.
Apresentador:
Era uma vez... Jeca Tatu Peba... (Música, os personagens se compõe.)
Jeca:
(Sentado num banco, perto do palco) Hoje é Domingo, pé de cachimbo. O cachimbo é de ouro, bate no touro. O touro é valente, bate na gente. A gente é fraco, cai no buraco. O buraco é fundo, acabou-se o mundo. (Se desequilibra sobre o banco e cai. Cambaleia um pouco, senta-se novamente) Esqueçam o que viram, foi uma miragem. Vocês sabem que dia é hoje? Pois é, hoje é aniversário de encontro. Faz quarenta anos, que eu mais a minha falecida véia, que Deus a tenha no seu Santo lado, nos encontramos. (pausa) O tempo passava... eu já tava ficando invocado. Trinta anos na cabeça, e nem namorada tinha arranjado ainda. Existia umas pessoas na fazenda donde eu morava, que já tavam falando mar de mim. Espiem só pra vê... falavam que eu era um... (pausa) um tar de... (pausa) vô falar não, é uma coisa muito feia. Inchugando a história, diziam que eu não gostava de mulher. Arre sô, mais que povo faladô. Então, pra mode essas conversas não se tornarem uma baita falação desenfreada e sem rumo, tratei logo de precurá uma pretendente. Que quisesse dividir comigo o sabão, o arroz trincado, a pasta de dente véia, e um colchão de paia de minho daqui oh. (Pega as orelhas) bem quentinho e macio. Foi aí então que a porca torceu o rabicó, a galinha cacarejou e o galo despencou a cantar. Onde eu ia encontrá alguém que me quisesse. No auge da feiura e desarrumamento. Não é por nada não, mas eu me parecia com um tar Frank Stheim.
(Música no alto falante, muita conversa, as bandeirolas de festa junina se erguem. Os atores passam e penduram as bandeiras. Levantam um mastro de Santo Antônio nos fundos. Aparecem Dona Rosa e Maria Chiquinha.)
Rosa:
Será que hoje vai ser o dia fatídico minha filha?
Maria:
Eu espero que sim. To louca pra mode arrumá um homem. É o que eu mais quero.
Rosa:
Maria Chiquinha, minha filha. Um homem qualquer é pouco. Você precisa arranjá um noivo. Você sabe que já tá madurando né? Se demorar muito a fruta cai do pé e apodrece, e adespois cuma é que ocê vai casá?
Maria:
Mas mamãe, Eu sou muito feia. (chora engraçado) Quem é que vai querer casar comigo? E por eu ser feia desse jeito, Ter feiura de sobra pra todo mundo, num gosto de homem feio. Quero o mais bonito do mundo, que tenha muito dinheiro, pra mode me levá pro artá numa carroça de ouro.
Rosa:
Pois pode se contentar em ir num lombo de touro. Acho que você tá é doidona. Pode tirá o cavalo da chuva. Por que homem assim hoje em dia, você não vai encontrar nem no cemitério. Pois até nos contos de fadas ninguém acredita mais. E mesmo que encontrasse, eles iam preferir a loira do tchan. E não a feiosa do tchun.
Maria:
Tá vendo mamãe, até a senhora que me pariu, me deu de mamá noas seus peitos, me lavou a bundinha um monte de vez, quando eu era pequetita ainda, tá me chamando de feia. Imagine um homem bonito e rico, que nunca me viu, vai me chamá do que então?
Rosa:
Já que estamos de acordo em tudo, eu acho que o cê deveria aproveitar a oportunidade, que é festa de Santo Antônio, fazer umas premessa pro santo, prá vê se dá resultado.

Maria:
Pois vou fazer agorinha mesmo. Vou precurá o santo por aí, e fazê a premessa. E se tudo der certo, dentro de poucos dias estarei me casando. Estarei sendo levada para o artá. (sonha) Até estou me vendo na escadaria da igreja, subindo os degraus, e um bando de mocinhas, todas babando, que chega até escorrer um rio de baba. Todas morrendo de inveja de mim. E o meu príncipe encantado, dentro de um belo terno xadrez feito de gazimira, me esperando junto do padre. Eita que vai ser um dia inesquecível.
Rosa:
Quanta tontice, se você ficar pensando assim, não vai arranjá nem um pau d’água que te queira, quanto mais um bem apessoado e rico.
Maria:
Para com essa conversa minha mãe, parece que té me gorando. Até parece que não quer me ver casada. Tá cum inveja tá?
Rosa:
Pra quê que eu vou querer que você fique em casa me dando gasto? Quero não. Quero mais é que você encontre logo esse... seu... príncipe.
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Jeca:
Era noite de Santo. Noite de Santo Antônio. Tinha quermesse na igrejinha do patrimônio. Então me lembrei de que ia Ter concurso de cantoria, contado de causo e tocador de piano. E como eu gostava de fazê tudo isso, me preparei pra ir na festinha. Fiz uma faxina no corpo inteiro, lavei inté os subacos. Botei uma carsa véia, um paletó de xadrez que eu achei jogado no lixo, me parece que era feito de gazimira. Botei a melhor botina que eu tinha, treis ano de uso. Despejei meio vidro de perfume na carcaça, e virei um peido pra quermesse de Santo Antonho. Mas antes de chegá lá. Passei num boteco.
(Cena do boteco)
(Um pequeno balcão, um garçom servindo, -fantoche-, entra Jeca:
Jeca:
Por favor, bote uma pra esquentá a garganta.
(entra um sujeito do outro lado)
Lampião:
Agora põe a garrafa inteira sobre o balcão.

Jeca:
Gostei de ver seu... Qual a sua graça por favor.
Lampião:
Virgulino. Mais conhecido como lampião. Homem que não leva desaforo pra casa.
Jeca:
O senhor faz bem. Homem que é homem, não leva desaforos pra casa.
Lampião:
Ainda bem que o senhor concorda comigo. Vai ser mais fácil eu engolir essa garrafa de cachaça de uma só veis.
Jeca:
Mas também não precisa exagerá. Sei também que o Senhor é um homem ponderado, até chega ser bondoso.
Lampião:
Tá me chamando de frouxo cabra da peste.
Jeca:
Chi, quem sou eu pra lhe chamar de frouxo. O senhor é muito homem que eu sei. Mas é um homem de bom coração. E ser um homem de bom coração não afeta a imagem de ninguém.
Lampião:
Essa conversa tá ficando comprida por demais pro meu gosto, vossa Senhoria, vai ou não vai tomar essa cachaça de uma vez? Pro que homem que enche a cara pra mim, é um safado, sem vergonha, que não tem dó dinheiro e nem dos amigos. Pois fede como gambá. E por isso, vou lhe fazer engolir esse litro de cachaça de uma só vez. Pra tu sair vomitando por aí, e adespois nunca mais querer beber.
Jeca:
Será que não dava pra ser só meia?
Lampião:
Não.(bravo) Eu disse todinha. E vai ser todinha.
Jeca:
Acho que to bico do urubu.
Lampião:
Anda, bebe.
Jeca:
Tudo bem, eu bebo. Mais sob protesto. (Pega a garrafa e toma tudo) Acho que o mundo tá virando de cabeça para baixo. (vai saindo)
Lampião:
Homem que bebe pra mim. Deveriam todos morrerem de sede. Quero ver se faltasse água, se a cachaça ia suprir as necessidades.

Jeca:
(de volta à cena anterior) Saí de lá de um jeito, que nem mais sabia o que estava fazendo. Vi umas luzeira acesa, prás banda da igrejinha, me bandeei prá lá.

Cena na Festa.
Tião:
(Um negro está querendo fazer Xixi. –fantoche-) Acho que eu tomei muita cerveja hoje, tô com a bexiga derramando, preciso fazer pipi, e vai ser aqui atrás do poste mesmo.
Maria:
(chegando de longe) Aquele dali deve ser a imagem do Santo. Vou logo fazer a premessa. (chega perto) Meu querido Santo Antônio. Prometo lhe comprar uma roupa novinha, pra senhor não ficar assim peladão. Se o senhor me ajudar a encontrar um namorado, que seja bonito, carinhoso e rico. Mas tem que ser logo, viu. (saindo) estou a perigo.
Tião:
Eu tenho cara de Santo? O que será que ela viu em mim, prá me chamar de Santo e fazê uma promessa? Acho que é efeito da geladinha que eu tomei. (se benze) Deus me livre, vou me embora daqui. (sai).
Maria:
(Voltando) E tem mais meu querido Santo Antônio. (Olha) Uai, cadê ele? Mistério... cuma que ele foi-se embora? Será que ele já foi dá um jeitinho no meu caso? É isso mesmo, ele já foi arranjá uma homem pra mim. Eita Santo Porreta sô. Acho melhor eu ir logo para a festa intão. Pois é lá que as coisas vão acontecer. É hoje que Maria Chiquinha tira a barriga da miséria e coloca os fundilho a juro. Juro pro ceis, que desse mel vou comer até me lambuzar. Oba vou me casar, oba vou me casar. (sai cantando e saltitando)

Apresentador:
Boa Noite Senhoras e Senhores. Moçoilas, rapazes e crianças. Daqui a pouco daremos o início ao grande Concurso intitulado; QUEM VAI FICAR COM A DONZELA DESCONHECIDA? Sabemos que só há dois candidatos nesta noite. JECA TATU PEBA E TIBURCINO MALACUBACO DA CONCEIÇÃO. Que irão disputar os beijos desta donzela, cantando, tocando e contando causos do sertão. Portanto fiquem atentos. Os jurados já estão em busca da Donzela desta Noite. E ela está no meio de vocês. Quando for escolhida, o seu nome será anunciado. E lembrem-se, a donzela escolhida terá o direito de beijar ou não o galã vencedor das provas artísticas. Mas creio que ela terá o maior prazer em beijar o vencedor. Por que os dois são demais.
Maria:
Será que vão me escolher minha mãe? Se isso acontecer, deve ser trabalho de Santo Antônio. (Olha Para o céu) Me ajude meu Santinho a arranjar um maridinho, bem bonitinho e riquinho.
Rosa:
Apague esse facho menina, você nem sabe quem são os concorrentes, e já está aí se derretendo feito banha no fogo. E tem mais uma, será que você vai ser a escolhida?
Maria:
E porque não? Feiura também é curtura.

CENA COM MARIA BONITA
(Jeca vai entrando, todo desmelingüido, caindo de bêbado, aparece Maria Bonita num empanado)
Bonita:
Ei, cabra da peste, tu viste meu homem por aí?
Jeca:
Homem eu vi um monte, o que eu estou procurando é uma mulher, bonita e carinhosa, que faz o homem gemer sem sentir dor.
Bonita:
Tu tá falando de mim ochente? Apois fique sabendo que já matei uns duzentos atrevidos que me disse isso.



Jeca:
Eu não sei de quem eu estou falando. Eu ainda não achei. Mas estou procurando. Agora se a Senhora se encaixa nesses predicados, poderá ser a minha escolhida. É só dizer que sim.
Bonita:
Eu até posso dizer o seu sim, mas se você em vez de ficar comigo, ficar é com o meu marido.
Jeca:
Voote, arre égua. Tu pensando que eu sou o que? Estou bêbado mas não sou burro. Quero é uma donzela, não quero essas coisas não. Por um acaso o teu marido é... Quer dizer...num gosta de mulher?
Bonita:
Até hoje não posso reclamar. Tu sabe quem é meu marido?
Jeca:
Mas é claro que não.
Bonita:
É capitão Virgulino, mais conhecido popularmente como Lampião.
Jeca:
(Põe a mão na barriga) Hum, me deu uma dor barriga daquelas agora. Acho que vou me embora. Eu heim, com quem estou me metendo...
Bonita:
Nessa festa só tem homem frouxo. Quando falo no nome do meu marido, todos tem a mesma reação. Uma dor de barriga danada. Por que será? Mas chega de conversa fiada, vou procurar ele por aí. Já tá é demorando demais e espero que ele não esteja botando um par de corno na minha cabeça. Porque se tiver eu corto os dele.


(Música de festa junina, o apresentador aparece.)
Apresentador:
E para iniciar a competição desta Noite, vamos chamar o candidato que veio lá das Minas Gerais. Proprietário de grandes fazendas de gado e café. Que só está aqui hoje, interessado apenas em ganhar os beijos da donzela do Arraiá de Santo Antônio. Com vocês, tocando ao piano: Tiburcino Malacubaco da Conceição.
(Tiburcino entra e fica se apresentando e agradecendo o povo)
Maria:
Mãe do céu. Ele é um pão. Eu quero ele para mim, minha mãe. Mãe eu quero esse pãozinho pra mim. Vou passar manteiga, doce de leite, doce de abóbora, doce de mandioca, doce de mamão, vou passar tudo o que ele deixar. Mãe, pelo amor de Santo Antônio, eu quero ele para mim.
Rosa:
Cala a boca minha filha, vamos ver o rapaz tocar esse troço aí.
Tiburcino senta-se ao piano, começa a tocar uma música lenta, muito bonita e romântica. Maria fica sonhando, ao terminar: muitos aplausos, assobios.
Maria:
Já ganhou, já ganhou. Já ganhei, já ganhei, ele é meu. (disfarça) Isso é, se ele me Quiser né?
Apresentador:
E agora vindo diretamente da fazenda “TRAIS DOS MONTES” para tocar ao piano o Senhor: JECA TATU PEBA DA CUNHA. (palmas, Jeca entra bêbado, cambaleando para todos os lados, carrega um grande guarda chuva aberto. Ao chegar perto do piano) Porque o senhor traz o guarda chuvas aberto? Não está chovendo, e nessa seca que anda o nordeste, não há previsão de chuvas pelos próximos dois anos.
Jeca:
Estou apenas prevenindo. E se chover, eu já estou preparado. (vai sentar-se ao piano, acaba caindo, vai tocar, bate com a testa no piano.)
Apresentador:
Acho que o nosso amigo não está muito bem hoje.
(Ele faz sinal de positivo e começa a tocar o piano, toca tudo fora de ritmo, desafinado, e o povo começa a vaiar. Ele levanta-se nervoso, pega o guarda chuva e sai bravo.
Maria:
Credo que homem feio... Bêbado. Parece um gambá.
Rosa:
Mais tá vestindo paletó xadrez de Gazimira.
Maria:
Pode esquecer esse detalhe, quem vai ganhar é o Tiburcino, e eu vou ser a escolhida.

Apresentador:
E agora vamos para a Segunda prova da noite. A prova do melhor contador de causos do sertão. E para iniciar, vamos chamar o concorrente Tiburcino Malacubaco...
Maria:
Já ganhou, já ganhou, já ganhou. (disfarça) Chi, mas ele nem começou ainda.
Apresentador:
Eu só queria pedir um favorzinho para todos aqui. Que prestassem muita atenção nas histórias. Porque são bonitas histórias. Conto com vossa cooperação.
Rosa:
Toma cega, parece que tem formiga no... fiofó.
Tiburcino:
(Entra) Vou contar pra vocês o causo do sujeito que tinha medo de cemitério. Vocês tem medo de cemitério? Eu não. Quer dizer só um receiozinho. Mas o Joaquim tinha muito. Joaquim era um sujeito que trabalhava toda noite como guarda Noturno é claro. E em todas madrugadas quando saia do serviço, tinha que passar perto de um grande cemitério para ir embora. E todas as vezes que ele passava por ali, seus cabelos arrepiavam, o seu coração disparava. Tum, tum, tum. Queria sair pela boca. Joaquim sentia um medo horrível. E eis que numa dessas madrugadas muito escura, que o vento corria solto, levando consigo as folhas árvores correndo pelo chão, deixando a noite arrepiadora. Joaquim voltava para casa após uma longa e eterna noite de trabalho. Cansado, olhos trêmulos pelo cansaço e sono. Queria chegar logo em casa para poder dormir. Todavia, ao passar de fronte o cemitério ouviu um grande Gemido. (som do gemido) Joaquim parou. Seu coração disparou. Seus olhos que ora estavam trêmulos de sono, agora tremiam de medo. Um líquido quente e amarelado, correu pernas abaixo. Esvaziou a bexiga. Ouviu outro gemido, (som do gemido) dessa vez ele sujou foi para trás. Pensou em correr, mas suas pernas não colaboravam, estavam endurecidas. Resolveu colaborar e perguntou.
n O que você quer? Uma oração?
n Não.
n Respondeu a voz que antes gemia.
n Você quer que eu reze um terço?
n Não.
n Respondeu a voz meio que nervoso.
n Por um acaso você quer uma missa?
n Não, eu já disse que não.
n Respondeu-lhe a voz furiosa.
n O que você quer então?
n Um sabugo ou um rolo de papel higiênico seu burro.
Apresentador:
Muito bom, obrigado pela sua participação.
Maria:
Eu quase sujei foi a minha roupa de medo. Ele é muito bom. Já ganhou, já ganhou. Já ganhei, já ganhei.
Rosa:
Cala a sua boca assanhada.
Apresentador:
Agora vamos ouvir a história do Senhor Jeca Tatu Peba da Cunha.
(Aplausos, ele entra cambaleando, senta-se num banco de praça)
Jeca:
Eu vou contar pra vocês, uma história que aconteceu comigo. Esse causo é verdadeiro. Dia desses fui levado preso pra chefatura. Pela primeira vez andei de carro nessa vida. Estavam me acusando de um crime. Que eu juro pra vocês que eu não cometi. Quando eu cheguei lá na delegacia, tinha um outro homem que ia ser interrogado, fiquei só de butuca, pra mode escutar tudo. Afinal das contas, tinha que esperar a vez mesmo. Então entrou o Delegado, com uma metralhadorona desse tamanho nas mãos, sentou-se e foi logo perguntando pro indivíduo:
(Voz do Delegado) Conte a sua história cabra da Peste, se não vai morrer na cadeia.
Jeca:
E o homem então começou.
(voz do acusado)
Seu delegado, comparo a vida de um animal como a vida de um homem. Porque um animal bem cuidado é uma vida protegida, e toda vida deve ser preservada. (Música triste de fundo) A três anos atrás, quando eu pescava num rio, pra mode levar alimento para os meus filhos, encontrei uma bezerrinha. Ela estava deitada embaixo de uma moita de bambu. Fazia frio, e a coitadinha estava congelada. Fraca, não podia andar, tinha muita fome. Apanhei-a com essas minhas mãos que carrega essa algema, abracei a pequena e frágil bezerra e a levei para minha casa. Dei a ela leite, ração, aqueci, até que ela melhorou. Nos tornamos grandes amigos Seu delegado. Corríamos pelo quintal como duas crianças. Ela uma bezerra e eu um adulto brincalhão. O tempo passou e aquela frágil bezerra, se transformou numa maravilhosa vaca, que hoje dá leite para matar a fome de crianças carentes, para as quais eu dôo tudo. Creio que não cometi crime algum Senhor Delegado, mas me acusaram de roubo. Só depois que a Bezerra é o que é.
(Jeca volta ao normal)
Jeca:
O delegado, ao ouvir a história do homem, mandou que ele fosse embora com a benção de Deus. Em seguida me chamou e foi logo me intimando.
(Voz do delegado)
Você trate logo de abrir essa matraca, seu pau d’água sem vergonha, antes que tu apodreça atrás do Xadrez.
Jeca:
Fiquei então nervoso, não sabia o que falar. Tremendo até os cabelos do braço eu disse: Sabe que é se Delegado. É que eu encontrei essa espingarda, aqui, já faz dois anos, ela ainda era um revolverzinho. Estava morrendo de frio e fome. Levei ele pra casa, e dei muito leite e carinho, e o danado cresceu seu Delegado, mas cresceu tanto que se transformou nessa baita espingardona. E por isso, tão me acusando de roubo seu Delegado. O que o Senhor me diz disso?
(Voz do Delegado)
Cabo Sebastião, peque esse cachaceiro, dê-lhe uma boa surra de relho, e depois jogue ele pelado sobre um monte de formiga saúva faminta, pra ver se ele toma vergonha nessa cara ou traseiro.
Jeca:
Por causa disso, eu tenho problemas pra sentar hoje. (vaias)
Apresentador:
Mais é um tremendo de um vigarista, mentiroso. Vem aqui contar essas maluquices e não fica nem vermelho.
Maria:
Eu não disse que ele era um porco. E além de porco é tontão.
Rosa:
Agora só falta a prova das músicas cantadas.
Maria:
Agora, eu quero ver o meu príncipe dar um show. E depois, como serei a escolhida para dar o prêmio. Vou subir lá no palco e acabar com a boca dele. Em seguida, com certeza, me pedirá em casamento e eu sairei do caritó.
Rosa:
Eu hein, você tá é maluca. Vai com tanta sede ao pote porque? Cuidado menina, você pode encontrar um sapão boiando lá no fundo. (desdenha) Príncipe, essa é boa.
Maria:
Há, mais o meu Santo Antônio vai ajudar.
Apresentador:
E para finalizar o concurso dessa noite, chamamos Tiburcino Malacubaco para cantar a sua música.
Tiburcino:
(Entra cantando uma música sertaneja, aplausos, assobios, etc. ao terminar ele diz) Essa música eu cantei em homenagem a todas as donzelas dessa quermesse, com muito amor e carinho, obrigado. (aplausos)
Maria:
Viu mãe, ele está falando de mim. Eu estou nas nuvens.
Rosa:
Cuidado prá essa nuvem não se transformar numa fumaça bem fininha, e você se despencar pro chão, feito uma jaca madura.
Maria:
Ara mãe, me deixe.
Apresentador:
Com vocês o último concorrente da noite, Jeca Tatu Peba.
Jeca:
(entra, sem o efeito da bebida) Bem, o efeito daquela cachaça danada que eu tomei já passou, por isso quero dizer para vocês que vou cantar uma música de minha própria autoria e ofereço para todos vocês. (vaias e mais vaias)
(Ele começa a cantar uma música inédita, o povo vai aquietando até que o aplaudam. Aplaudem bastante. A música enrosca e ele fica desconcertado, para.)
Muito obrigado, muito obrigado. (disfarçando)
Tiburcino:
Gente, esse sujeito é um impostor, vejam o disco. Ele estava dublando.
Apresentador:
O senhor está desclassificado Seu Jeca Tatu Peba da Cunha.
Jeca:
Não foi por querer. (chora engraçado) Eu só queria arrumar uma namorada, uma pretendente pra mode eu poder me casar. Era só isso que eu queria. Eu sou um Azarado mesmo, eu sou um azarado. (sai)
Apresentador:
Bem. Acredito que o nosso amigo estava um tanto ao quanto desesperado. É perdoável. Mas vamos deixar isso para lá e vamos logo para o resultado final. Como o Jeca Tatu Peba foi desclassificado o vencedor é...
(Gritos e Assobios)
Tiburcino Malacubaco da Conceição.
(Ele entra e todos aplaudem novamente)
Mas esperem aí gente, ainda não foi escolhida a Donzela representante da quermesse. Quem será a vencedora? Os nossos jurados andaram por toda a festa, e a donzela que está mais caracterizada de tribufu é aquela que está lá, do outro lado, perto do muro, ao lado de uma senhora elegante.
Maria:
Eu?
Apresentador:
Isso Mesmo. Venha para cá.
Maria:
Eu não acredito. (desmaia)
Rosa:
Alguém me ajude.
(Tiburcino chega perto, olha)
Tiburcino:
Mas é isso que eu vou Ter que beijar? Nem morto. Isso não é caracterização nem fantasia, é feiura mesmo. Credo em cruz que troço mais esquisito. Esse concurso é uma farsa. (saindo bravo) Eu vou é me embora desse lugar. (sai)
Maria:
Vai esnobar a sua mãe, orgulhoso.
(todos vão saindo de perto)
Ei, onde vocês estão indo, não me deixem aqui sozinha.
Rosa:
Você não estava desmaiada?
Maria:
Eu não. Eu só queria que ele viesse fazer respiração boca a boca.
Rosa:
Você é doida. Eu também vou embora daqui. (sai)
Maria:
E agora? Continuo sem namorado. Sem futuro marido, sem nada. O meu Santo Antônio se esqueceu de mim. Mas vou fazer ou promessa. Olha aqui meu Santinho, prometo rezar 40 dias e 40 noites em seu louvou, se o senhor se o senhor me arranjar um maridinho. Não tem necessidade de ser bem bonitinho, também não precisa ser rico. Basta só que ele seja homem de verdade. Porque é disso que eu preciso.
(Nisso entra Jeca)
Jeca:
Meu Deus, o que os meus olhos vêem?
Maria:
Uma flor?
Jeca:
Não. Muito mais que isso.
Maria:
Uma jóia?
Jeca:
Nada comparável, de muito maior valor.
Maria:
Uma tonelada de diamante?
Jeca:
Nem chega perto.
Maria:
Então me conte, o que é que os seus olhos vêem
Jeca:
Uma donzela. Feia que dói, mas é uma donzela. Quer namorar comigo?
Maria:
(Olha-o) Assim no seco? Quer que eu lhe dê a resposta já?
Jeca:
Porque não. Nós dois estamos na mesma situação. Vamos mudar isso.
Maria:
Você também é muito feio, mas é homem.
(Música romântica, os dois se encontram e dançam uma valsa )
Apresentador:
E assim termina o nosso concurso de hoje, com um pedido de casamento e uma bela valsa de Straws.
(Os dois saem)
A nossa quermesse é feita para isso mesmo. Unir os encalhados, alegrar os enferrujados, e acima de tudo, homenagear Santo Antônio. (Vivas, Música de Quadrilha, passam alguns bonecos dançando no empanado.
Jeca:
(Volta Velho) E foi assim que há 40 anos, eu mais Maria Chiquinha nos encontremos. Passou um tempo nóis casemos. Tivemos 17 lindos filhos, até que um dia, muito agradecida pela vida, foi morar junto do seu Santo Protetor. E hoje, lá no céu ela caminha sempre ao lado de Santo Antônio. Protegendo os casais e ajudando as pessoas aqui da terra a se casarem.
Voz:
Te cuida Jeca.
Jeca:
É claro que eu vou me cuidar. Imagine se eu não vou me cuidar. (treme a fala) Cuidar é? Quem foi que disse isso? Ai meu Santo Antônio, não vai me deixar fazer sujeira na roupa.
Voz:
Isso é com você seu Jeca.
Jeca:
Pronto Já fiz.
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