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Contos-->POR UM LUGAR NA CALÇADA -- 09/02/2003 - 00:43 (lira vargas) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
POR UM LUGAR NA CALÇADA

Domingo de sol, alguém chega com alegria informando que trouxera peixes
E camarões para a caldeirada. Dona Isabel falou baixinho para Seu Antonio que só podia ser Lurdes chegando, pois ela trazia alegria e gritaria.
Reunidos na cozinha, dividiam as tarefas para o almoço. Sandra ficou pra cortar os legumes, Magali pra limpar os peixes, Marina a cunhada, mulher de Alberto, grávida, foi poupada, ficaria sentada participando da conversa.
De repente Lurdes pergunta por Roberto, o irmão mais novo de dezesseis anos. Dona Isabel responde com aquele jeito de carinho e preocupada, que ele está dormindo. Lurdes faz sinal de crítica, vai até o quarto e para na porta olhando Roberto adormecido que resmunga para que ela saia. Lurdes senta na beirada da cama e pergunta o motivo dele estar dormindo até àquela hora e com tanto calor. Roberto não responde, e vira para o outro lado.
Lurdes se afasta, em seu olhar transparece a preocupação, e fica sabendo que Roberto chegara quase ao amanhecer. Sua mãe informa que a maior preocupação dela é com acidentes e assaltos.
Roberto levanta da cama, e vai tomar banho. Ao chegar na cozinha, procura algo pra comer. A família o olha com atenção e logo alguém oferece café e tenta iniciar uma conversa, mas Roberto recusa, toma o café olhando para a janela silencioso. Lurdes é enfermeira, estava separada e não tinha filhos. Fica observando o jeito de Roberto, mas não fala nada. Roberto se despede da família e Dona Isabel reclama que ele não fica mais em casa como antes e que não entende seu modo de viver. Lurdes discretamente vai até o quarto de Roberto e tenta abrir seu armário. Depois de muitas tentativas, Lurdes depara com uma pequena maleta. Ao abrir, toma um susto. Lurdes sempre temeu que Roberto se envolvesse com droga ou furtos, mas o que ela acha na maleta, é um diário em que ele confessa suas tendências sexuais. Lurdes dá um grito e chama as irmãs, os pais se aproximam, mas Marina tenta disfarçar fazendo sinal para Lurdes não falar para eles, mas foi tarde demais. O almoço transcorreu em clima de tristeza, cada um tramou uma maneira de falar com Roberto quando voltasse. Marina tentava tranqüilizar a família, dizendo que o homossexualismo era natural, que na história da humanidade, existiram grandes personalidades que deixaram grandes obras e muitos respeitados, e que até nos animais existem essa opção. Mas nada adiantava, Dona Isabel e Seu Antonio, passaram a tarde no quarto envergonhados. O tempo foi passando, a noite chegou, todos foram embora e Roberto não voltara. Da raiva passou a preocupação. Amanheceu e nada da volta. Resolveram procurar na policia e nos hospitais, quando Marina percebeu que a preocupação aumentava há cada hora resolveu contar que tinha ligado para o celular de Roberto informando o que descobriram e que ele não mais voltaria. A reação foi geral, começaram a chorar e diziam que Marina não deveria ter tomado aquela atitude.
O ônibus sai da rodoviária, Roberto está na janela, de seus olhos rolam lágrimas, era uma mistura de vergonha e saudade, não se despedira de seus pais, sempre pensou ir embora, viver sua vida, mas não daquele jeito, fugindo como um criminoso. Sabia que aquela viagem seria longa, escolheu o Rio de Janeiro, lá ninguém o conhecia, lá não precisaria esconder sua verdadeira sexualidade, lá encontraria a liberdade.
Na rodoviária o tumulto era grande, pessoas que vinham, outras que iam, Roberto deu a ultima olhada para o ônibus de sua cidade, suspirou e sorriu como um menino. Trazia pouco dinheiro, pois fora muito de repente. Procurou um banco e sentou esperando o dia amanhecer. Nada sabia daquela cidade. O dia amanheceu, Roberto levanta do banco, procura um banheiro para se arrumar, lava o rosto, passa as mãos molhadas pelos cabelos e lembra que não tinha pente, a roupa amarrotada, mas o rosto jovem e bonito o anima para partir para a luta pelo desconhecido. Dá um sorriso e sai.
Caminha sem direção pela calçada, o suor escorria pelo rosto, palpava o bolso, preocupado. Chega no centro do Rio, entra numa lanchonete e pede um salgado e um refresco. Como devagar, para matar a fome, não poderia comer outro. Senta em um banco, não sabe em que trabalhar. Seu corpo franzino, rosto de menino, não tinha forças para pegar em trabalho pesado. A sua frente os garis da prefeitura faziam a limpeza, Roberto admira a força daquele pessoal, mas sabe que ele não poderia optar por aquele tipo de função. Olha para os restaurantes, nada sabe de servir refeições. De repente sentam dois meninos ao seu lado, um deles com uma faca, impõe que Roberto entregue o dinheiro. Roberto assustado tenta negar, mas a faca é espetada em suas costelas lentamente, e ele não tem outra saída, entrega o pouco que tinha. Os meninos saem lentamente e olham rindo. Roberto volta para o banco e chora, um choro sentido um choro de menino. Ele sae daquele lugar e anda pela cidade. A noite foi chegando, as pessoas voltando para suas casas, Roberto sente fome. Vai andando, procurando no chão alguma moeda para comprar o que comer acha uma aqui outra ali, mas não completam o valor de um lanche. Não tem outra alternativa, entra nas lanchonetes e aguarda discretamente alguém jogar um resto de lanche no lixo, mas nada acontece, vai para outra lanchonete. Entra e aguarda, nesse instante um cachorro de rua para perto da lixeira, parecia estar com a mesma intenção, e alguém joga um salgadinho que bate na lixeira e cai fora, Roberto se aproxima mais rápido que o cachorro, que o olha decepcionado, Roberto se afasta e o cão o acompanha, ele reparte o pequeno pedaço e vai embora. Anoiteceu, ele escolhe um local para dormir, a praça parecia segura, pois tinha muitas pessoas. Roberto senta no banco se acomoda e fica olhando as pessoas passando a sua frente. De repente sente um homem ao seu lado e pergunta se ele não gostaria de tomar um banho em sua casa. Roberto aceita imediatamente, sem nada falar. Caminham pela rua e chegam num pequeno apartamento. Roberto enfraquecido olha para a cozinha e a fome aumenta, mas o homem indica o banheiro. Depois indica o quarto. Quando o homem adormece, Roberto tenta acorda-lo para pedir algo pra comer, mas o homem mal humorado levanta, vai até a cozinha e volta com cervejas, ele recusa e diz que precisa ir embora, o homem pergunta o valor daquela transa, Roberto surpreso responde um pequeno valor, pois a intenção dele era comer algo. Ele pega o dinheiro e sai pulando pelo corredor, sentia muita fome, vai a procura de uma lanchonete, mas já era tarde, estavam fechadas. Roberto preocupado em não ser roubado, esconde o dinheiro sob uma pedra perto do banco. E acertara, pois não demorou, dois rapazes o abordam exigindo dinheiro, ele nega e mostra os bolsos vazios, antes de se afastarem, dão socos e pontapés em Roberto. Ele adormece e as lagrimas, misturadas ao sangue, que corria de suas narinas, mostrava uma aparência desagradável. O dia seguinte foi mais fácil, pois fez as refeições necessárias. Perambulou pela calçada, até que anoiteceu e Roberto voltou para o mesmo banco. Conheceu outros e outros homens, comprou algumas peças de roupa e decidiu procurar um emprego. Perambulava pelo comercio à procura de uma vaga, nada conseguia.Quando anoitecia retornava para a praça. Uma noite estava à espera de algum homem, quando foram abordadas por outras prostitutas elas exigiam que Roberto saísse dali, pois ele estava atrapalhando o trabalho delas. Ele tenta explicar que não conhecia outro lugar, foi humilhado e ameaçado de levar uma facada. Na confusão, a policia chegou e foi levado preso. Na delegacia, tentou explicar, mas foi jogado numa sela. Os presos tentaram estupra-lo o pavor era nítido em seu rosto, tentava se defender, quando Valeria, um o defendeu daquelas pessoas.Sem entender, os presos desistiram. No dia seguinte foi libertado sob recomendações da policia para não arranjar mais confusões. Roberto tentou explicar que não fora ele, mas não quiseram ouvir. Ele e valeria foram libertados. Durante o dia Roberto ficou afastado da praça, até que anoiteceu, retornou ao lugar, com intenção de se explicar às prostitutas, quando encontrou com Valeria. Que falou que o observava há dias, e ofereceu ajuda. Roberto aceitou. Mas teria que esperar até o dia amanhecer, pois Valeria tinha que “trabalhar” naquela noite. Quando amanheceu, Roberto foi acordado por Valeria. Foram para seu apartamento. Valeria disse que ele poderia ficar ali, mas teria que pagar o aluguel. Ele vai até a janela, em seus pensamentos a lembrança de sua família, a saudade fazendo parte de sua nova vida. Valeria o chama e oferece uma roupa feminina, ele aceita e dá um sorriso triste. Valeria animada, informa que daquele momento em diante ele sofreria uma transformação.Suas pernas foram depiladas, a roupa extravagante, Roberto desajeitado, mas feliz. Valeria sugere vários treinos pela casa, aguçando um lado extravagante feminino, ele obedece. Valeria diz que aquela seria sua primeira noite de mulher na rua do Rio. Escolhem um nome exótico “Sarita”., Roberto ficaria no passado.
Inicia uma nova vida, as aventuras da rua variavam entre agradáveis ou às vezes desastrosas, Sarita agora com as feições femininas. Uma noite estava na calçada de uma avenida, quando foi abordado por um casal que o observava de longe, Convidou-a para um teste no show de travestis, Sarita aceitou e sua atuação foi sucesso.Quando cantava sua voz grossa, contrastava com suas feições, era destaque no show. Valéria exigia mais dinheiro dele, até que uma tarde, Sarita não teve disposição para levantar, Valeria vai até sua cama e percebe que ele ardia em febre, temerosa pelo motivo daquela febre, sugere que ele procurasse um medico. No dia seguinte Sarita foi ao posto medico e voltou com a informação que o medico exigiu um exame de HIV. Valéria deu um suspiro nervoso e voltando o olhar para Sarita diz que independente do resultado, ela não o queria em seu apartamento, pois isso implicaria em comentários que poderiam prejudicar sua clientela. Sarita ainda febril foi para a rua. Foi até a casa de show a procura dos donos e quando lá chegou ficou sabendo que eles só voltariam no dia seguinte. Sarita mais um vez foi para a rua. Tudo que ganhava, entregava a maior parte para Valeria, não tinha economias, o estado de saúde piorando. Fraco e faminto Sarita voltou para a praça. Quando conseguiu procurar os dono da casa de show, ao chegar, fora dispensado, Valeria tinha infomado ao pessoal que Sarita estava contaminada por Aids, antes do resultado.
No coral da igreja no interior de Minas, a voz de Nair se destaca das demais, o maestro a elogia e a incentiva que ela continue a fazer parte daquele coral, mas Nair não esconde seu desejo de sair para as grandes cidades a procura de uma nova vida. Quando comenta em casa sobre seus sonhos, sua mãe muda de assunto dizendo que não repetisse essa conversa.
A noite era fria, Nair arruma uma pequena mala e vai para a rodoviária. Chega no Rio de Janeiro ao amanhecer e sem rumo, segue pelas calçadas até que chega na praça. Senta ao lado daquela pessoa ainda adormecida em plena luz do dia. Fica olhando-a com carinho. De repente Sarita acorda e depara com Nair. Apresentam-se e falam de seus problemas. Nair é muito animada e diz que juntariam seus sonhos para saírem daquele pesadelo. Nair trouxera algum dinheiro e procuram uma pensão. Trata de Sarita e procuram o posto médico para saberem do resultado, e ficam sabendo que Sarita tinha apenas uma virose e que o exame de HIV fora negativo. Comemoram com alegria, até que Sarita confessa a Nair que era travesti. Nair sorri daquele episodio e tramam projetos de vida. No pequeno quarto Nair canta musicas da igreja para treinar a voz. Os dois fazem duplas com musicas populares.
Os dois saem numa manhã a procura de uma casa de show. Ao fazer o teste, foi reprovada. Os dois voltam decepcionados. Na rua Nair fala para Sarita que o dinheiro era pouco, que tinham que arranjar algo para fazer o mais rápido possível, para pagarem a pensão. Sarita sugere que deveriam procurar uma casa de show de travestis. Ao chegarem, Sarita se apresenta e é marcado outro teste. Nair está na sala de espera, e passam dois homens dizendo que precisariam de cantores para fazer uma dupla. Nair dá um sorriso e tem uma idéia. Na pensão, ela diz para Sarita que se apresentaria como travesti para o teste. Sorrindo os dois tramam como se apresentarem. Sarita ensaia com ela como se portar. Seguem de volta para a casa de show.
Na platéia os empresários sentados, esperam a dupla se apresentar.Sarita entra no palco, no rosto com maquiagens extravagantes, canta uma canção logo em seguida Sarita acompanha, fazendo uma voz forte. Os empresários entusiasmados contratam os dois para ensaios. Não sabem que Nair era mulher.
A estréia é marcada. Nos cartazes a dupla chamava a atenção das pessoas que passavam. A platéia lotada. A luz colorida é anunciada o inicio do show. Quando Nair entra seus olhos correm pela platéia sua voz emociona o publico logo em seguida Sarita entra e os dois fazem o show. Sarita com uma fantasia de mulher de cabaré, cantando:
A CIDADE ACENDEU AS LUZES,
É HORA DA SAUDADE CHEGAR
NO CABARÉ O PERFUME EXALA
MISTURANDO NA FUMAÇA
NO PIANO A CANTORA BRINDA OS VISITANTES
LÁ FORA AS LUZES JÁ SE APAGARAM,
SO FICARAM AS QUE ILUMINAM OS BOEMIOS
A SAUDADE JÁ MISTURADA AO PERFUME DO CABARÉ
E DISFARÇO AS LAGRIMAS
COLORIDAS DA PINTURA DE MINHA FACE.
O BATON SE PERDEU NO COPO
MEUS CABELOS EM DESALINHOS
NA LEMBRANÇA A FALTA DE SEUS CARINHOS...

Sarita entra vestida de boêmio, chapéu e roupas brancas,mas a maquiagem feminina contrasta com a roupa.

EI...NÃO DESMANCHE SEUS CABELOS ASSIM
ESTOU AQUI PRA DIZER QUE VOLTEI
LA FORA DEIXEI OUTRA AMADA SOFRENDO
E CONTRA O VENTO, VIM CORRENDO
PARA BRINDAR COM VOCE A SAUDADE
PASSE OUTRA VEZ O BATON
QUERO TIRAR COM MEUS BEIJOS E AFAGOS
NO PIANO OUTRA VEZ ALGUEM VAI TOCAR
A CANÇAO DOS AMANTES DA NOITE

Os dois cantam com o rosto colado, dançam em ritmo de tango e se beijam,
Um grupo de bailarinas entram dançando. Arrancando aplausos da platéia.

. O empresário Walter desvia o olhar de Nair. Sarita percebe que ambos estavam apaixonados mas, Walter evita aquele sentimento por não saber que Nair era mulher. E Nair pede a Sarita que não fale do segredo pois, se ele soubesse, ele teria que terminar com a dupla,pois nos contratos nas casas noturnas, ele dizia que os dois eram travestis, e isso poderia implicar em encerramento de contratos e até em processo. Sarita concorda com ela.
O sucesso da dupla chega ao conhecimento de uma casa de shows da França. Walter agiliza um contrato e os dois são convidados.
Na França, eles se hospedam num luxuoso hotel. Sarita e Nair ficam no mesmo quarto. Na véspera da estréia, Walter liga para o quarto apressando os dois para o ensaio.
Sarita desce até o shopping do hotel para comprar um presente pra Nair que fazia aniversário naquele dia. Walter preocupado com a hora vai até o quarto. Nair estava saindo do banho, joga a toalha na cama cantando a música do show. Depara com Walter e se olham por um longo tempo. Walter da um sorriso e pergunta por que ela não falara que era mulher. Nair cobre-se com a toalha. Nesse instante Sarita entra com o presente cantando “parabéns pra você...” Os três sorriem abraçados.
Descem para a rua, a neve caindo eles se dirigem para o carro.
Na casa de Roberto, e de Nair as família recebem um cartão postal da França.
“O tempo passa a distancia aumenta, as lembranças vivem, e a saudade finda”.
Lira Vargas.




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