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Contos-->Naquele quintal -- 05/08/2000 - 21:18 (Márcia Cristina Rodrigues Pereira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Naquele quintal, o menino brincava todos os dias. Brincava e brincava com tudo que via, ouvia e encontrava pela frente. Sua liberdade fazia com que o pedaço de madeira se tornasse espada de batalha... a pedra, fonte de uma grande força, capaz de salvar o mundo... o pássaro pousado no muro, seu amigo, que por encanto tornara-se ave, para segui-lo e protegê-lo de todos os perigos do universo... O menino via nos cantos do terreno, lugares próprios para guardar seus mais preciosos tesouros, aqueles que conseguiu encontrar, antes dos piratas do navio... Uh!!!! Uh!!!! Corria assustado, a se esconder do fantasma que surgia ao anoitecer... era o barulho do vento.
Sim, ele fazia de seu quintal sua maior fonte de alegria e sonhos. Sua mãe o observava sempre; não a notava, por entre as cortinas da cozinha. Pensou, então: "Sua infância será inesquecível, mas sozinha. Preciso fazer algo". Foi até o menino e sugeriu que chamasse os amigos da escolinha. Sua cabeça pequenina abanou de um lado para o outro. Sugeriu um primo, seu grande amigo nas férias escolares; ótimo, ele seria ótimo... Não, não era ainda o que queria. Que tal um animal de estimação? Sim, um beija-flor! Não, filho... não podemos prender um beija-flor... Como foi complicado ela entender!!! Queria um amigo voador e não, pra ficar todo quieto, só piando. Falei que via na vizinha um amarelinho que morreu, dia desses, de desgosto. Não conseguia voar; eu sei que foi por isso que morreu. Foi, foi.
Sem nenhum acordo, pensou-se ainda no beija-flor. O que poderia fazer um pássaro desses chegar perto de nosso quintal? Deixa pra lá, filho. Não! Agora tem que dar um jeito.
Uma árvore! Não tem... Vai Ter!!! O menino saiu em disparada pela casa, escapuliu pela porta principal. A mãe, assustada, só foi encontrar o garoto mais tarde, chegando com uma muda de árvore nas mãos.
- Que isso, filho? Onde encontrou? Aliás, onde foi? Fale-me...
- Mãe, lembrei do Sr. Álvaro. Ele falou que colocava quando podia umas plantinhas perto do rio. É pra manter tudo verdinho... bem, parece que tem a ver com os passarinhos também, porque já viu passarinho descansar no chão? Eles gostam de árvore grande... pode ser pequena também, mas essa vai ser grande..- dizia tudo respirando bem devagar, carregando com esforço a muda que chegava quase ao seu tamanho. Bem grande, mãe.
Ao abrir a porta em direção ao quintal, a mulher, sem saber o que perguntar, ainda se refazendo do susto, só quis entender o que queria dizer seu filho.
- Mãe, vou plantar aqui no fundo de casa. O beija-flor vai querer aparecer aqui todo dia. Vou colocar comidinha pra ele, água. E quando tiver sombra, nossa! Vai ver como ele vai aparecer.
Ela compreendeu tudo e foi acompanhá-lo na colocação da muda na terra. Enquanto ajudava o filho, pôde notar que esta árvore seria de flores. Não entendia nada das espécies, mas lembra-se da infância na casa dos avós. Tinha certeza que esta era a mesma árvore da qual colhia belas flores amarelas pra brincar e colocar nos cabelos compridos.. adorava...
- Ajuda mãe, ajuda...
- Tô indo, filho...
Os dois conseguiram enfim, ver a muda, verde, viva, forte, enterrada no chão de terra vermelha.
- Mãe, é só colocar água todo dia?
- Não filho... precisa conversar com ela também. Ela vai ouvir tudo. Fala pra ela crescer forte, assim como você cresce. Ah, fala também pra ela chamar o beija-flor que tanto quer pra perto de nossa casa. Tenha a certeza que vai ouvir você.
- Ela pode ser minha amiga agora?
- Pode sim.
- Que beleza! Vou mostrar pra ela onde fica aquela mina, a do mapa, sabe?
- Sei, sim, filho. Mas, faça isso depois. Vamos comer alguma coisa bem gostosa?
- Vamos... faz chocolate quente pra mim?
- Faço! Agora, vamos logo...
Uma correria toda animada fez filho e mãe entrarem em casa, risonhos, felizes e contentes pela nova companheira. E enquanto o leite esquentava, os dois olhavam pra janela. Ah, flores novamente na minha vida!!! Meu beija-flor vai aparecer logo...

A cada dia, galhos e folhas novas nasciam. O sol, radiante a cada manhã, era o guardião da pequena árvore, enquanto ia na escola o menino. Os livros, na volta, ficavam logo na porta, depois do beijo na mãe. Os olhares iam para o quintal, observando cada novo brotinho despontando pra vida. Pequenos saltos comemoravam a chegada de todas as folhas, assim como as possíveis pequenas flores eram vislumbradas com seus olhos de criança. Eram olhos para um beija-flor, porque beija-flor beija qualquer flor! Beija e vai ver meu jardim se aqui tiver flor!
Cresciam: flores, galhos, árvore, menino, esperança... Cresciam ao calor do ar, à graça das chuvas e dias. Chegava o tempo das cores e uma flor surgiu, diferente. Era uma flor de verdade, dessas que podiam chamar o beija-flor que o menino queria. Iuuuupppiii!!! Finalmente este dia chegaria. Coração na mão, olhar na janela, vida pulsante. Assim o menino passava as tardes dividido entre os cadernos, o sonho e o beija-flor.
Chovia um pouquinho naquele dia. Garoava devagar, ao sabor do ventinho de fim de tarde. Havia uma lágrima escorrendo pelo rosto do garoto. Não via mais o brilho do sol, nem admirava aquela linda flor que aparecera a poucos dias. Não fazia sentido, por quê? Ainda não entendia. Por quê? De cabeça baixa, corpo encostado no parapeito da janela, ouviu um som diferente. Era muito baixinho, mas poderia ouvir de longe sua intensidade. Olhar ao longe pra ver o que acontecia e .... Era ele!!! Finalmente.... ele veio... foi correr, só que antes pensou: "Não vou lá, ele não me conhece. Pode fugir de mim. Com o tempo vai ver que sou seu amigo. Acho que vou olhar daqui". Seus passos se dirigiram para a janela, calmamente e pôde ver. Sua bela flor ser beijada, com todo carinho. Não entendia a razão do bico tão grande, até poder perceber que sem ele, o beijo não seria beijo. Olhava, olhava.
Foi muito rápido e o encanto acabou. Suas asinhas o conduziram pra outro lugar, talvez outro quintal, quem sabe.
O menino, saindo de sua observação, parou perto da cama, em seu quarto. Pensou um pouco. Caminhou até o quintal, sem a pressa de antes, de nariz baixo, de alma elevada (e nem sabia disso...). Chegou à sua árvore tão estimada, esticou-se nas pontas dos pés, procurou pela flor. Onde estaria? Rodou em sua procura e encontrou... Esticou-se mais um pouco. Beijou-a. Beijou-a. Caminhou de volta pra casa, com um sorriso nos lábios.
Deitado na cama, percebeu que tinha aprendido onde olhar todos os dias: na flor... era ela quem o fazia levantar todos os dias. Era ela que recebia a cada instante olhares carinhosos e era por causa dela que acreditava no sonho de Ter um beija-flor em seu quintal. Era ela... Agora, seria ela, depois de tudo, que permaneceria ali. Até que a próxima chuva, o próximo vento, a próxima estação pudessem levar sua amiga pra longe, pra nunca mais. Teria então que esperar por outra chance. Pra ver o beija-flor surgir, precisava acreditar. Sim, ele acreditaria na chance. Dormiu, de coração acordado ... debruçado na janela, olhando pra vida.



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