Usina de Letras
Usina de Letras
113 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62237 )

Cartas ( 21334)

Contos (13264)

Cordel (10450)

Cronicas (22537)

Discursos (3239)

Ensaios - (10367)

Erótico (13570)

Frases (50635)

Humor (20031)

Infantil (5434)

Infanto Juvenil (4769)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140809)

Redação (3307)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6192)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->CASAMENTO DA BOMBA -- 09/02/2003 - 00:48 (lira vargas) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
CASAMENTO DA BOMBA

Américo recebeu seu primeiro pagamento como estagiário do hospital universitário. Com muita alegria chega em casa, sob a roupa branca, suas mãos passeavam num misto de vitória e preocupação pelo destino profissional que escolhera.
- Mãe, estou realizando meu sonho, aqui está nossa recompensa.
Plantão difícil, uma noite de agonia, o cansaço apodera-se de seu corpo febril, Américo resistia, não podia deixar-se abater.
Sua mãe o abraça pergunta o que deseja comer, Américo nada responde, toma uma aspirina. De sua janela a rapaziada deixa escapar risos, brincadeira da juventude, é irresistível aquela turma, tantas farras feitas num passado tão recente.
- Americoooooo, vem até aqui, temos uma bomba!
E o pensamento chegava até Telma, amiga de infância, medrosa e delicada, namoro infantil e sem promessas, fugas até a esquina mais próxima, beijos e abraços e palavras carinhosas, carícias perigosas e ameaçadoras.
- Américo, uma bomba!
Um deslize no pensamento, um pulo até a esquina, a turma reunida, o sorriso de Telma, meigo, sem promessa, amor, seria amor o sentimento que os prendia? Alguém cantando “... eu sou free, sempre free..." nas ruas os carros passando, pessoas atravessando a rua, numa competição absurda, a lugar nenhum.
Renato, camarada atrevido, o único que não estudava, não queria nada com compromisso, era um tanto rebelde, mas insistia em fazer daquela turma, era difícil exclui-lo, apesar de muitas vezes o desentendimento o afastava. Seu defeito era o cinismo e sangue frio, mas levavam sua presença como algo costumeiro entre a turma.
O ônibus passa, poucos passageiros, a luz do poste piscava, isso encomodava Américo, botava as mãos para defender-se, aquele poste era ruim, a febre aumentava, e aquela turma o segurava. Renato amarrara umas bombas explosivas, era uma das suas maldosas brincadeiras, o pipoqueiro buzinava atrás do ônibus que já se movimentava lentamente, Renato joga as bombas dentro do ônibus. Américo tenta impedi-lo, agarra seus braços, e as bombas explodem sobre o rosto de um bebê. Gritos, todos correm atras do pipoqueiro, uma mulher larga o carro, corre até o ônibus e ordena ao motorista que imediatamente socorra a criança até o pronto socorro, a mãe grita desesperadamente, Américo assiste a tudo, olha para o fim da rua e Renato correndo e sumindo.
A mulher desce, caminha até Américo o agride-oe uma turma o lincha, seu corpo sobre a calçada, de seus lábios saia um murmúrio de choro, um choro infantil, um choro de febre, tentando explicar que não fora ele o autor da bomba.
No hospital Américo nada entendia, a injustiça da justiça dos homens. Seus pais acreditavam em sua inicencia, nos jornais o caso virara manchete, a buzina do pipoqueiro encomodava seus pensamento confusos. A luz da rua ainda piscava, era febre alta. A mulher que tentara fazer justiça ainda permanecia viva em sua mente, sua força era como a pá de um trator que varria as pedras de uma pedreira, sua voz ainda ecoava em seus ouvidos.
- Você não contará essa história, se aquele bebê morrer. Ameaçava.
- Não fui eu, gritava inutilmente, sua voz não saia.
Os rostos furiosos, os chutes quebravam suas costelas, tentava gritar pôr sua mãe, mas acertaram sua boca.
No hospital seu rosto completamente deformado, suas mãos cruelmente amarradas, o soro pingava, uma proposta de lenta recuperação de sua vida ameaçada pela irresponsabilidade de Renato.
- Américoooo uma bomba...!
Uma irresponsabilidade em conseqüência àquelas dores, a acusação de uma multidão que despejara sobre seu corpo toda a raiva contida do dia a dia, sobre a calçada o aparelho de aucustar, seu relógio novo comprado com o primeiro pagamento.
- Será que foi passageiro todo meu sonho de medico, meu Deus. Perguntava sobre aquela cama, já adormecia, seus olhos ardiam, a febre aumentava, o corpo todo dolorido, um avião passou, o barulho parecia terrível, mas não o tirou daquele êxtase, a multidão ainda o atormentava, sob sua janela ainda gritavam querendo vingança mortal. Américo assistiu a artimanha da mulher que iniciara o linchamento. A porta foi abrindo lentamente, a mulher disfarçou-se de enfermeira, entrou em seu quarto, no rosto a máscara branca fazia destacar seus olhos, pareciam os de Telma, mas não eram meigos como os de Telma, brilhavam, um brilho de sucesso, de vingança, foi até seu leito esbarrando brutalmente, Américo tentou se enganar, não podia ser ela, era parecida, Telma, onde estaria, pôr que não estava ali para desamarrar suas mãos, tirar aquelas gazes de seu rosto, libertar sua boca para que pudesse gritar, pedir socorro, gritar sua inocência, mas lá fora a multidão gritava..."Morte ao assassino”.Será que o bebê morreu? . A falsa enfermeira chegou a até sua cama, sua voz macia parecia com a de Telma, seu corpo perfumado, aproximou-se de Américo, tocou suas cobertas e perguntou.
- O que foi isso? Uma trombada de trem?
Um trem apitou longe, apito de Maria-fumaça. Américo lembrou de uma lição na escola primária "café com pão, bolacha não...” tentou falar, mas seu rosto estava enfaixado, em sua boca estava um pequeno orifício para futura alimentação e a enfermeira respondeu: "Não, não foi um trem, o menino mimado levou uma surra pôr que fez arte?" Em tom de deboche.
Telma, onde estaria? Nos braços de Renato, ou sob as cobertas chorando, lembrando da injustiça dos homens ou das caricias proibidas, dos beijos sem promessas, das tardes, da coca-cola gelada, dos sorrisos, do adeus!
E a voz da falsa enfermeira:
- Sabe que aquele bebê morreu fulminado pela bomba que você jogou no ônibus? Sabe? O rosto do bebê ficou pior do que o seu. Sabe o que tenho nesta seringa? Éter, éter para deixar você doido, vai injetar no soro, sua morte será lenta, mas cheia de dores e alucinações.
Ela aproximou-se, Américo passeava os olhos pelo teto, parava na porta, desesperado, pedia que alguém abrisse a porta, pensou em Telma, ela viria, ela o salvaria, ela tinha que impedir aquela mulher de aplicar aquele éter no soro, seus olhos desesperados se moviam, suplicava uma chance, mas impeduosamente o éter foi misturado ao soro, o cheiro forte enfestou o quarto, seu pensamento ia se perdendo juntamente com a esperança de Telma salvá-lo.
Telma entrou desesperada, agarrou o tubo do soro, gritando, mas não conseguia os adesivos que escondiam a agulha enterrada em sua veia.Suas forças iam se acabando, os gritos de Telma falando pôr Américo. "Ele é inocente, não foi ele...” mas os adesivos não saiam.
- Não, não, naoooooooo.
A mão de sua mãe o sacode, tirando Américo daquele pesadelo, Américo estava febril.
- Mãe, mãe, que sonho terrível.
A turma lá fora gritou outra vez:
- Américo, uma bomba! Telma está namorando o Renato.
Américo deu um sorriso desajeitado.
- Ainda bem.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui