Usina de Letras
Usina de Letras
142 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62182 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22532)

Discursos (3238)

Ensaios - (10351)

Erótico (13567)

Frases (50584)

Humor (20028)

Infantil (5425)

Infanto Juvenil (4757)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140793)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1959)

Textos Religiosos/Sermões (6184)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->A tragédia -- 09/02/2003 - 01:50 (Eduardo Amaro) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A chuva cai lentamente. A tempestade já passou. No vazio da noite, caminho a 120 Km por hora. Meus pensamentos, não ouso defini-los. Como uma vida de felicidade e amor pode se transformar num inferno na Terra? Como o amor verdadeiro pode esconder o fruto de outro amor? Por medo ou por pura infidelidade? Um filho que não pertence ao meu sangue... mesmo assim, amei-o como se fosse meu. E agora, não sei o que fazer. E não entendo. Ele tem os meus olhos, o meu tipo. Quem explica a vida, afinal?
Acelero o meu Santana, a chuva começa a se intensificar. Ao som de "Metal Icarus", tento esquecer os problemas. Pobre Dédalo que pela própria engenhosidade perdeu sua semente.
Começo a entender o motivo de todo o tormento. Vem, de relance, como do nada, uma pergunta: qual o próximo passo?
Minha mente torce e retorce, contorce e estica, procurando uma saída viável. Minha cabeça dói como nunca doeu antes. Supera até a dor do traumatismo craniano que sofri quando era garoto. Ela sangra, um sangue invisível, porém quente como o ácido que corrói meu cérebro, sem piedade. O amor, ah!, o amor, quem explica? Amor é a outra face do tormento. "Eu te amo. Quero passar o resto dos meus dias com você". Pregaram uma grande peça em nós, seres humanos. Somos palhaços marionetes controlados por uma força que não conhecemos: amor.
Ao longe, perto de um cruzamento onde imponentes árvores mesclam-se ao asfalto negro e liso, vejo uma mulher vestida com lingerie branca semitransparente. O que, diabos, estaria fazendo uma mulher vestida dessa maneira, num cruzamento deserto no meio de uma chuva torrencial?
Curioso, como sempre fui, diminuo a velocidade do carro e paro no acostamento. Abro a porta e... a chuva forte torna-se apenas uma chuva de verão? Deve ser o nervosismo... não estou muito bem das faculdades mentais. Minha vida, na última semana, foi o caos. A mulher acena para mim, adentra a mata escura. Eu fico em dúvida mas a curiosidade e o desejo de descobrir o segredo que aquela pessoa escondia foi, novamente, mais forte. Corro ao seu encalço.
Por mais que eu tentasse alcançá-la, ela sempre seguia à minha frente. O chão estava liso por causa da chuva e isso fez com que meu corpo se desequilibrasse. Uma dor forte atinge a minha cabeça.
Arcanjos me cercam. Tinha eu, por causa do tombo, batido a cabeça e morrido? Imagens celestiais ao meu redor, uma mão se estende para mim. Seguro-a com força. Ora... seu rosto não me é estranho. Uma sensação de deja-vu percorre meu corpo. Os demais seres angelicais desaparecem. O anjo, por mais incrível que pareça, apresenta traços femininos e não masculinos, como costumamos concebê-los. Ele (ou ela?) sorri para mim, um sorriso tão radiante que seria impossível descrevê-lo em palavras, levanta-me e parte através da noite.
Eu estava no chão ao acordar alguns minutos depois, todo molhado e ainda um pouco tonto. Foi uma visão! Não existia nenhum anjo, tudo apenas devaneios de minha mente atormentada pelos desenlaces do passado recente.
Mas qual é a minha surpresa quando, ao me recompor, inacreditavelmente, a mulher misteriosa continuava, ao longe, fitando-me. Retomo a perseguição, agora mais devagar e cautelosamente.
A cada passo, a curiosidade e o mistério crescem. A mulher, que deveria estar correndo, tentando sua fuga, já que eu, quase andando, estou praticamente desistindo da perseguição, parece andar na mesma velocidade. À medida que eu aperto o passo, ela toma a mesma providência. Em outras palavras, a distância entre mim e minha "desconhecida amiga", não aumenta tão menos diminui.
Ao que tudo indica, aquela mulher misteriosa guarda um grande segredo que, certamente, revelar-me-ia. Ela não tem medo da minha pessoa, seu intuito é apenas de fazer-me segui-la sem, no entanto, alcançá-la. Até quando?
Minha empreitada por aquela mata, atrás de uma mulher que eu não tinha idéia de quem era, parece ter chegado ao fim. De repente, ouço um barulho entre a relva. Pássaros da noite levantam vôo de forma estupefata, emitindo uma enorme algazarra bélica. Que susto! Cubro minha face num reflexo de auto defesa. Quando retomo meu campo de visão anterior, a mulher havia desaparecido. O que há agora? Um abismo! Novamente, os pássaros pregam-me um susto.
Meio fraco, vindo do conjunto de árvores fechadas de onde o esquadrão cinza de aves irriquietas voaram, ouço um choro. Não um choro de tristeza, mas sim de dor e medo. Corro para o local.
Um carro! Um Gol GLS de cor azul metálica, parcialmente destruído. O capô do veículo deve ter colidido com aquelas onipotentes construções vegetais de colossal estatura. Mas e o som? De onde procede?
Quando levanto os olhos... o anjo! O mesmo anjo de semblante feminino e sorriso celestial que havia aparecido quando desmaiei. Ele sobrevoa o carro, leve, como se apenas sua imagem estivesse flutuando, macia e tranqüilamente. Sua luz ilumina minha percepção. Seria outra brincadeira que minha mente estava me passando?
Reparo no motorista do carro: uma mulher de cabelos longos e lisos. Nenhuma chance de estar viva. Sua cabeça de cabelos claros mescla-se ao sangue que contrasta com a cor do painel e do volante. Ela certamente morreu instantaneamente no impacto. O carro não tinha airbag. Quem é aquela pessoa? Talvez a placa possa me dar algumas informações.
Antes de colocar meu pensamento em prática, vejo um garoto, que aparenta uns cinco anos de idade, caído entre as árvores. Ele geme atordoado... está vivo! Graças a Deus! Olho para cima, o anjo não está mais lá. Apenas um contratempo de alguns segundos. Vou verificar o estado daquele menino. Quando me debruço para socorrê-lo, Deus!, por que meu erro teve um preço tão caro? A criança, quase sem voz, volta-me seus olhos mais azuis que o céu límpido e claro, suplicando-me:
_ "Papá... é você. Eu sabia que você vinha. Tô com medo... ajuda eu"
_ "Filho! Como pode? Eu estava voltando para casa, meu anjo..."
_ "Ajuda eu, papá... tá dueno. Cadê a mama? Ela disse que a gente tava indo ver você"
_ "Não chora, meu anjinho. Está tudo bem agora. Papai vai levar você ao doutor. Vai ficar tudo bem"
Foi quando o anjo reapareceu, iluminou-nos, sorriu e, como antes, desapareceu através da noite, deixando em seu rastro uma mensagem: "Cuide bem do nosso garoto, meu amor"
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui