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Poesias-->O MENINO E AS TRANÇAS -- 12/09/2000 - 17:22 (Antenor Ferreira Junior) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ensaio em Prosa Poética Cantada.



Era menino ainda e já tinha as obrigações da religião.

Minha mãe era a mulher do andor e eu, mais meu irmão segurávamos os pendões na procissão.

E lá íamos nós, cada um de um lado e a já, velha senhora, a transportar o estandarte pesado.

Era uma só brincadeira, mas ela nos separava e de rosto enrustido, só com os olhos nos calava.

Era longo o caminho, e iam todos, cantando tristes, bem devagarinho.

A gente cansava mas gostava daquilo tudo. Tentávamos ficar em silêncio, mas como podem dois fedelhos, ficarem assim, quase mudos.

E o cortejo seguia sempre sob um sol radiante. Bem lá na frente, anjinhos todos em azul e branco seguiam adiante.

Mas numa dessas mostras de fé, estava também um menino e seu nome era José.

Era quase negro e aleijado, o coitado, olhos redondos, enormes bochechas e, antes que eu me esqueça, tinha tranças na cabeça.

Era estranho, naquela cadeira, como sua mãe também negra, a lhe empurrar na traseira.

Largamos os pendões do andor, eu e meu irmão no mesmo desejo, e deixamos nossa mãe seguir só, distraída, em meio ao grande cortejo.

Ficamos ao lado do menino, indecisos, que, com dentes bem claros nos mostrou um sorriso.

Meu irmão, mais atrevido, foi logo perguntando sobre as pernas e sobre as tranças. Não poderia haver discrição. Éramos crianças.

- Nasci assim - dizia ele. Mas minha mãe disse que só corta meu cabelo, quando Deus ouvir seu apelo. Meu irmão retruca, sem pensar:

- Ah! Coitadinho! Acho que não vai dar!

Mas o menino afirmou sorridente:

- Pois sim! Minha mãe pediu para Jesus e ele falou para ela que um dia irei andar novamente...

E a mãe já aborrecida, aperta o passo e segue em frente sem parar, deixando eu e meu irmão, bem lá atrás, a nos entreolhar.

O tempo passou, como aquela procissão de infância. Esquecemos as brincadeiras, as peraltices, mas nunca o menino de tranças.

E um outro dia, ao entrar em uma loja para deficientes, em uma cidade distante, vi um rosto bastante sorridente, e de pronto reconheci aquele semblante.

Era o garoto das tranças, homem agora como nós. A cadeira era outra, bem mais bonita, mas ainda estava no lugar das pernas e então parei ao ouvir sua voz. Não havia mais as tranças. E então eu disse depressa:

- Confessa! Não seja criança! Sua mãe quebrou a promessa!

Ainda de dentes brancos sorriu e discordou:

- Não! Jesus a atendeu! O que você vê sou eu somente a explicar para o vendedor, essa história entre minha mãe e meu Senhor. Sentei-me aqui para lhe mostrar onde passei quase toda minha infância. E graças a Ele agora não uso mais trança.

E eu sem acreditar:

- Então levanta já daí que eu quero te ver andar!

E de pronto pôs-se de pé! Fiquei espantado até. Andou daqui para lá, sem ao menos balançar. Deu dois passos de costas e virou pirueta no ar.

Estava de boca aberta, tanto eu e o vendedor e ele com voz esperta, nos veio falar de amor:

- Minha mãe morreu bem cedo. Eu fiquei só e com muito medo. Fiquei sem eira nem beira, sem conforto e sem carinho. Confinado naquela cadeira, passei a viver sozinho. Andava de porta em porta e rezava à minha mãe morta. Fui morar debaixo da ponte, onde um dia, uma luz me apareceu. Era ela, veio vindo do horizonte, de vestes brancas, e em seus braços me acolheu. Tinha nas mãos duas tranças, e um largo sorriso no rosto. Me disse: “- Levanta filho querido, pois aqui acabou teu desgosto. Jesus está aqui comigo, mas bem sei que não pode ver. Troquei as tranças pelas pernas e isso você há de querer. Vai meu filho! Saia daí bem depressa. Deixa aí tua cadeira, pois já cumpri minha promessa. “

E como veio partiu e feliz passei a andar. Hoje me sinto feliz pois agora já posso sonhar. Graças a minha boa mãe, larguei bem lá trás a minha cruz. Agora vou seguindo em paz, pois quem me carrega e Jesus...





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