Quero mandar para vocês uma forma inusitada de falar sobre a própria mãe. É uma poesia (sem pretensão técnica) que meu filho José Luiz, meu primogênito, me dedicou:
Curso de mãe
Quero aqui falar bem alto,
Tal como um radio de pilha,
Da saudade da amada,
A primeira namorada
Que me iniciou nesta trilha:
Nasci chorando, eu sei,
Como todo mundo nasceu,
Mas vendo seu sorriso franco
Esqueci do meu pranto.
Naquele momento lindo
Ela nascia para mim,
Pois nunca havia visto
Uma mulher bonita assim.
Ela me era gigante
E veio ao meu mundo, falante,
Cheia de beijos e canções.
Apesar do seu tamanho
Parecia indefesa,
Tinha muito a aprender,
Disto eu tenho certeza.
Ensinei-lhe a amamentar,
Fralda em criança trocar.
Fui professor exemplar,
Mostrando minha esperteza.
Dava-me muito trabalho
Fazê-la me obedecer:
No inicio somente gritos
Faziam-na se mexer.
Mas com todo o meu jeitinho
Com todo cuidado e carinho,
Eu a fiz compreender
Numa linguagem fácil
Que de inicio utilizei.
Poucas sílabas, poucas frases,
E uns truques que eu sei,
Fui-lhe comunicando
Que eu a estava amando
E todo meu amor lhe dei.
Muito mais alta que eu,
Com o tempo foi mermando,
Me parecendo encolher.
Aos treze me alcançou,
Depois mais baixa ficou.
Bem mais alto hoje estou
E ela deu no que deu,
Mas continuo a lhe ensinar
Muitas coisas nesta vida:
A ser vovó bem querida,
E dos netos ter saudades,
Ser sogra com qualidades
Nesta vida divertida.
A vocês, queridos filhos,
Eis a avó que lhes dou.
Faze-la me deu trabalho,
Suei o que ninguém suou.
Mas guardem bem na memória
A avó de muita glória,
A avó de muita história
E como tudo aconteceu.
Ela desdobrou a vida,
Com cinco pós-graduações
Com muito esforço e emoções,
Mas do seu bacharelado
Eu fui o professor,
Neste curso bem cursado,
Com muita garra, muito amor.
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