TED, O INFANTE CANSADO E A VALSA DANÚBIO AZUL
Quão bela é a vida, Vida!
Maneiramente o cão da casa se aproxima,
Final da tardinha, muito frio,
Rua vazia, nenhum andante;
Eis que um velho portão se abre,
Senhora de cabelos prateados se apresenta,
De um lado ao outro, olha,
Ninguém, ia fechando a visão...
Êpa, um cão!
Cauda baixa,
Olhar humilde,
Meigo, magro;
Assim, pede licença, se aproxima,
Ressabiado, com vagar, vistas com vistas,
Olhares se cruzam,
Há, dela, o aceite...
Diálogo olhos corações,
Idioma universal,
Nada é coincidência,
Tudo é Providência!
Vem cá, chama o cão a senhora,
Aonde você mora?
Qual o seu nome?
Está com fone, né?
Por favor, um instantinho,
Fique aí, quietinho,
Irei preparar algo quentinho,
Você está geladinho .
Dúvidas passam no seu pensar,
Será o que ela vai fazer,
Nem o portão fechou,
Então aqui estou.
Sinto cheiro de comida,
Ouço barulho de talheres,
Tento adivinhar ,
Será algo para eu comer?
Não tenho relógio,
Mas havia passado a manhã,
Também a hora do sol a pique,
A lua quase aparecendo,
Ai, até pequena dor na barriga,
Já ouço seus passos,
Avança a delicada senhora,
Parecia uma garçonete anjo!
Vinha ela toda sorridente,
Chamou para dentro,
Fechou o portão,
Ah, quanta emoção.
Sem ela perceber,
Fixei meus olhos nos dela,
Percebi pequena lágrima a escorrer,
Nascia do coração daquela mulher.
Deixou linda vasilha,
Ao lado dum vazo com flor,
Carinhou minha cabeça,
Apontou a bela e cheirosa guloseima!
Nossa, parecia estava sonhando,
Que sabor, que acolhimento,
Sabem, eternizei aquele momento,
Nem mais lembrei do meu sofrimento .
Nada demorou,
Meus olhos levantaram,
Aos delas se encontraram,
Tudo em mim sarou.
Latido ouvi, do quintal, dos fundos,
Era um cão pequeno,
Arisco, rosnou, mas à ordem dela parou,
Rodeou, observou, cheirou, aceitou!
Vislumbrava a continuidade de minhas patas naquele lar,
Pairava no ar, dúvida, se ali iria morar,
Parecia que tinha mais alguém para chegar,
Não foi engano, homem estava à casa adentrar.
Surpreso disse negativando: Ah, não! não e não!
Mas não tem dono, ela respondeu,
Estava com muita fome,
Tudo isso estava cheio, ele comeu.
Dele irei cuidar,
O Tico e a Tilim precisa mais um para brincarem,
Além do mais, ele não tem aonde morar,
Está noitinha, posso dele cuidar.
Coração mole, senti o dele,
Não demorou nadinha,
Fez só aceitar,
O pedido da rainha do lar!
Vários e vários anos ali fiquei a guardar,
Nunca consegui namorar,
A Tilim não era flor de se cheirar,
Dentro da casa, só saia para necessidades sanar,
Tico e eu, vez outra auxiliávamos a casa guardar,
O lixo, aquele homem dia sim , dia não, a levar,
Um grande carrão vinha pegar,
Nós na rua a passear.
Mas... hoje 06 de setembro 2013,
A doença há muito que me pegou,
Há uns dias piorou,
Ela, a rainha, meu anjo me medicou...
Tenho pescoço inchado,
Só fico deitado,
Fico quente e vezes gelado,
Nem latir faço, só calado.
Aguardo a Vontade do Criador,
Sinto ainda muita dor,
Muito mais sentiria,
Se não fosse este Lar com amor.
Tilim partiu há anos,
Tico aqui permanece,
Eles, o casal, tem um Anjo de nome Rafael,
Sei que são ocupados, não causo danos.
Estou medicado, minhas dores são menores,
Sinto muito sono, misturo o pensar,
Creio ser efeito da medicação,
Devagar prossegue meu coração.
Lá, na parte de cima do lar,
Noite alta, fria de singelo luar,
Sem nuvens vejo estrelas a brilhar,
Quiçá é preciso de lá aqui guardar?
Sem sono, sei que eles estão a pensar:
Quando será que o Pai vai autorizar,
Meu corpo na Terra ficar,
E eu, meu espírito levitar?
Enquanto esta fase difícil não ocorrer,
Ele, lá no computador está a ver e ouvir,
A valsa Danúbio Azul e vídeo de bailar,
Transportando-se ao Alto a Orar:
Pai, todo Justiça, todo Amor,
Eis o Empréstimo, Cão, Ted,
Que as nossas vistas está a sofrer,
Só ao Senhor está a Concessão da Vida!
Ampare, Pai, esta alma de nós querida,
Amenize a dor das pessoas e animais envolvidas,
Permita embalarmos esse espírito,
Nas notas dessa valsa sentida;
Que nas Moradas,
Rodeadas das estrelas,
Acolha o Ted, fazendo alí sua Estada merecida,
E em Paz permaneça nessa Verdadeira Vida!
Prossiga, infante valente,
Amanhã, Sete de Setembro, já desfilará,
Ao lado dos cães heróis,
Daqui, receba a Continência de todos nós!
Boanerges Saes de Oliveira,
Maria Alice Cosentino Saes
Rafael Cosentino Saes
Tico (cão), Belinha e Nanah (gatas)
06Set2013 . 23.30 h
Nota de Falecimento:
Às 00.55 h do dia 07 de setembro de 2013, TED O CÃO INFANTE, agora perfilado aos melhores Soldados-Generais, desfila emplumado, orgulhoso, leve, com colar de medalhas conquistadas nesta Jornada.
É feriado Nacional, comemora-se o Dia da Independência do Brasil, a Pátria Doada como Morada do veículo de seu espírito, o qual, agora pela manhã, será sepultado na Rua Sonia Ribeiro, 742 – Brooklin Paulista – São Paulo – SP, nas dependências ajardinadas de nosso lar.
À Deus e ao TED , nosso Agradecimento sem fim. 07.55 h.
|