Eu não quero, neste momento, escrever um poema de adoração,
Adoração à vida, adoração à uma mulher, adoração à sorte...
Eu quero escrever um poema que retrate o meu silêncio,
O meu silêncio jogado no lodo da esquina,
Absolutamente silencioso...
Eu não quero também lembranças como forma de fuga,
A minha lembrança distante de tudo que sou,
A minha lembrança perdida no descaso do cotidiano
Que se atropela segundo por segundo
E não se respeita.
Não! Eu quero o silencio... Puro e simples silêncio!
Eu quero o mesmo silêncio de um deserto inabitado,
O mesmo silêncio contido no olhar dos amantes
Que não conseguem mais expressar tanto amor com palavras,
O mesmo silêncio de um deprimido em agonia espiritual,
Eu quero o mesmo silêncio dos que se enganam em silêncio
Mas também quero o mesmo silêncio dos que sofrem em silêncio...
Eu não quero celebrar a vida, a glória ou o amor...
Não há poesia em mim suficiente para tanto!
Neste momento eu quero escrever um poema
Que retrate este estado envenenado de soluço,
De pausa, de perplexidade, de inconformação,
De devaneio, de ausência, de fuga, de silêncio...
Absolutamente silencioso...
|