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Artigos-->KOELLREUTTER: A GESTAÇÃO DO ÁBACO DE ROCHA BRITO -- 03/09/2015 - 11:43 (LUIZ CARLOS LESSA VINHOLES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

                                                                                                                                                          KOELLREUTTER: A GESTAÇÃO DO ÁBACO DE ROCHA BRITO                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                 L. C. Vinholes



No dia 2 de setembro deste ano, data em que se comemora o centenário do nascimento do compositor H. J. Koellreutter, Brasil Eugênio da Rocha Brito doou à Fundação que tem o nome do seu mestre 53 cartas, aerogramas, cartões postais, telegramas dele recebidos e 3 cartas a ele dirigidas. Com esse material ofereceu também um texto preparado com a intenção de comentar e esclarecer circunstâncias da época de sua formação e de eventos registrados na mencionada correspondência que, por sua vez, com detalhes e precisão, ajuda a perceber quão intenso e produtivo foi o profícuo relacionamento entre mestre e aluno. No referido texto chamam a atenção os parágrafos que comentam a gestação do "ábaco das funções na harmonia tonal tradicional", criado por Rocha Brito, e os diálogos e reações do mestre que acompanhava os diferentes momentos do fazer do novo instrumento destinado a auxiliar aos que desejam entender as estruturas harmônicas, capacitando-os a realizar, com profundidade, a análise das obras escritas na linguagem tonal. Rocha Brito recorda que acedeu ao convite de Koellreutter para que seu ábaco figurasse do livro Harmonia Funcional – Introdução à Teoria das Funções Harmônicas, publicado pela Editora Ricordi, de São Paulo, em 1980, obra na qual atuou como revisor, inclusive dando valiosas sugestões.



Nesta importante publicação de Koellreutter figura também capítulo didático preparado por Rocha Brito intitulado Modo de Operar o Ábaco. Finalizando esta introdução, permito-me recordar que o referido ábaco foi objeto de dois artigos que publiquei na coluna Música do Diário de São Paulo, em 13 e 14 de fevereiro de 1957, bem como de outro trabalho, de 30 de setembro de 2011, disponível no site www.usinadeletras.com.br, intitulado Ábaco, Coincidência ou Plágio, no qual analisei a notícia publicada no Canadá, em 20 de outubro de 1979, sobre um ábaco por demais semelhante ao criado por Rocha Brito e divulgado 22 anos antes. Eis o que escreveu Rocha Brito sobre os encontros com seu mestre para apresentar seu “ábaco das funções na harmonia tonal tradicional": “Cerca de setembro de 1955 já havia estudado com o professor as 5 leis tonais da “Harmonia Funcional” segundo a concepção dele. Comecei então a pensar no paralelismo que existiria entre, por exemplo, o que se aprende na matemática em especial nos teoremas sobre geometria ou mesmo análise algébrica nos quais surgem as chamadas "condições necessárias e suficientes” para que possamos concluir por isso ou por aquilo. Na minha cabeça, desse modo, comecei a pensar de como o acorde relativo da tônica de uma tonalidade é também o acorde da tônica da tonalidade relativa, o que se expressaria, mais concisamente pelo dito: "o relativo da tônica é a tônica do relativo". Tal linguajar logo aponta para aquele usual nas ciências como Matemática, Física, Química, etc. Deve-se atentar quanto a que o afirmado para a função tônica é totalmente aplicável quando consideramos a função subdominante e o relativo da subdominante, etc. Foi então a partir de tais elucubrações que acabei criando aquilo que chamei de "ábaco das funções na harmonia tonal tradicional", invento do qual fiz pedido protocolado de patente brasileira no Ministério do Trabalho de nosso país, em data registrada de 17/11/1955. Tal pedido de patente o fiz baseado em dois motivos principais, ambos muito inter-relacionados. De um lado, atendia à recomendação de muitas pessoas, inclusive colegas e professores de música com honestas preocupações quanto à salvaguarda dos direitos de quem inventou tal dispositivo. Por outro lado, atendia a uma curiosidade, não apenas minha como de alguns amigos meus, quanto ao que viria resultar de um pedido que a muitos pareceria tão esdrúxulo. Creio ser importante, mesmo porquanto muito isso diz sobre a pessoa e o músico Koellreutter, registrar o que adiante se segue. O período de gestação do ábaco se deu, de modo preponderante, mais no segundo e terceiro trimestres daquele ano de 1955. À medida que avançava nas conjecturas, não apenas sobre aspectos digamos "nucleares" do invento, abria considerações sobre a expansão de informes que ele poderia fornecer, de como outros dados que se situavam como "periféricos" (porquanto afastados do núcleo da proposição), vinham a ter lugar. Tudo isso, à medida que tais elucubrações caminhavam, semanalmente apresentava ao professor tais assuntos/problemas. Notava nele ao mesmo tempo certo regozijo pelo que acontecia e pelo que talvez pudesse acontecer de positivo, por outro lado ele se mostrava muito cético, fazendo, com plena honestidade que lhe era peculiar, o papel de "advogado do diabo", me inquirindo sobre aspectos que poderiam ser entraves para chegar a algo que eu pretendia inventar. Talvez buscando e presumindo com tal invento realizar coisas tão desmesuradamente amplas, eu não conseguisse isso realmente realizar. Quando dei por encerrada a tarefa de inventar/criar tal ábaco, levei o invento a ele. Não de modo ininterrupto, mas sim, talvez umas três vezes durante uma semana, nos reunimos por cerca de 20 minutos cada vez para discutirmos o assunto, procurando tirar as dúvidas que nele permaneciam. Enfim, ele se declarou completamente convicto do que o ábaco representava o importante recurso que ele vinha a incorporar, etc. A partir desse momento, o professor não apenas apreciou o ábaco, mas de certo modo o difundiu. Assim, ele levou, a partir do fim de 1955, início de 1956, exemplares do ábaco para serem usados nos cursos da Bahia, de Teresópolis, em reuniões/palestras/aulas pela América do Norte e outras partes da América, na Europa e posteriormente no Oriente, tudo isso com o passar de muitos outros anos. Para isso poder vir a acontecer foi produzido um desenho das partes do dispositivo, em papel vegetal (em dois círculos concêntricos). Uma vez feitas cópias heliográficas, se montavam tais cópias sobre cartolina grossa, permitindo serem produzidos dois discos assim com baixa (mais adequada) rigidez, o externo com cerca de 30 cm de diâmetro. O ponto central abrigaria então um minúsculo parafuso que seria o eixo o qual permitiria a rotação dos dois discos para se obter as leituras várias do ábaco. Já o que mais importa, em tudo aqui relatado, é falar sobre o músico, a pessoa que era nosso professor, nunca poderia deixar de aqui inserir uma conversa que tivemos, talvez, cerca de um mês após aquelas reuniões que conduziram à aceitação/aprovação dele ao meu invento. O que registrarei está longe de ser o textual ocorrido, mas tenho certeza que a mensagem que ele me passou na ocasião estará bem razoavelmente retratada no que será escrito. Em uma quase noite na primavera de 1955, ele irrompeu: "Brasil. É imperioso que lhe diga o que vou dizer. Talvez você tenha achado que, desde que você cismou em realizar tal tarefa de criar o ábaco, não terá ficado contente com o modo como eu tratava o assunto quando, com tanto entusiasmo e confiança neste professor e amigo, você me punha a par das suas especulações, das dúvidas tidas e superadas, dos vai e vens desse empreendimento e de mim recebia palavras que podiam apresentar mais desconfiança e rejeição do que confiança e aceitação. Há uma honesta explicação de tudo o que em mim se passava. É certo - e você bem sabe de como é verdade o que afirmo - que, desde o início do tempo que você se tornou meu aluno, muito apreciei seu anti-diletantismo, o seu empenho em aprender, em pesquisar, sua inteligência, sua posição sempre ética. Tudo isso já lhe havia confessado, dizendo pessoalmente a você próprio. Mais que isso, em ocasiões como nossas aulas coletivas de análise aos sábados, por várias vezes ressaltei para todos os presentes, de como apreciava suas qualidades, em especial seu anti-diletantismo, sua sincera procura em adquirir mais conhecimentos, em galgar progressivamente degraus dessa empreitada, etc. Justamente pelo apreço que dedico a você como aluno e como pessoa, andava, já havia tempo, muito temeroso do que lhe poderia acontecer quando você se lançou a algo que achei tão arriscado, temerário. Afinal, você se iniciou no estudo das 5 leis tonais comigo lá por março de 1954. Creio que nem bem um ano se completara quando agora em 1955 você trouxe a mim esta questão de que pretendia realizar um dispositivo como veio a ser o tal ábaco. Claro que já me impressionara com várias realizações suas, inclusive quando você fez aquela análise do coral do Prelúdio, Coral e Fuga, de César Franck, e me demonstrou procedimentos paralelos em peças de jazz e da música popular brasileira, por você analisados. O que temia é que você, com tão pouco tempo de haver mergulhado na compreensão da sofisticada estrutura musical, viesse a se lançar em tamanho voo estratosférico, algo que poderia levar a um desfecho muito desagradável (sic). Sinceramente eu pensava: não seria melhor o Brasil, quando muito, tentar um voo em algo como um 707? (Boeing 707 era o avião comercial mais festejado da época). O que se passava na minha cabeça era a possibilidade de você, apesar de todas as qualidades positivas que em sua pessoa reconheço, haver se lançado em perseguir algo tão difícil de ser atingido que, em não conseguindo, fica, por demais, frustrado e talvez até se desencantasse e tirasse longo ou mesmo definitivo afastamento do estudo da música. Temia que você se machucasse com prejuízos como pessoa; não falando de como sentiria perder você como aluno e interlocutor, como amigo tão próximo". Na ocasião dessa ocorrência certamente me vieram lágrimas nos olhos quando o professor terminou tal fala. E não seria para menos!.  


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