Posso coçar o braço, se assim o quiser.
Lavar a jarra de suco, não posso.
É permitido - assim o sinto -,
escrever um poema, mesmo depois de tanto tempo.
A prosa habitual é proibida.
Quis o destino que a caneta hoje estivesse ativa,
e que o teclado repousasse um sono, de temor eterno.
Meu corpo, do qual cada parte não faz mais parte,
não é mais corpo.
E as pernas não obedecem
[ aos desejos dos braços de nadar à tarde.
Mesmo estes casais, de lésbicas e viados,
[ já querem estar separados:
a mão esquerda não sabe o que a direita faz,
tampouco o pé direito conta ao pé esquerdo
[ como foi seu dia.
Estou doente, mas a dor não dói, anestesia,
e o efeito do sorvete gelado é o mesmo da sopa quente:
um céu da boca nublado de um sabor adstringente.
E assim quem pensa não pensa a si mesmo, mas a estranhos,
que fazem ou que não fazem coisas graves e suaves,
todas muito necessárias, mas adiáveis,
bastando um poema a cada dia.
Eduardo Loureiro Jr.
d Os internos do pátiO
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