DESPERTAR
Nada parecia diferente
O velho tapete, os móveis,
Os enfeites, a antiga corrente
Na porta da frente
O cheiro de todas as manhãs
De café e leite quente
Assoalhava a rotina da gente,
Fazia o hoje com cara de ontem
O dia passou quieto
Com jeito encabulado,
Acabrunhado
A noite chegou macia, calada,
Parecia que estava ferida
A lua, sem brilho, espiava e ria
As horas passaram vazias
Sem correria,
Tudo dormia, menos a minha vigília,
A esperar pela tua alegria
Para a noite virar dia
Na falta das horas, contei o agora
No ponteiro da tua demora,
Me pus à prova da tua companhia,
Não sei lidar com essa emoção nova
Que me deixa na boca o gosto da
Derrota
E o travo amargo da tua vilania
Não sei se voltas ou fostes embora
Deixando o rastro da tua covardia
Na esteira cega da minha agonia
Não percebi que teus apelos
Não passavam de fantasia
Com a minha alma em pelo
Me fiz pasto de histeria
No silêncio da tua ausência
Me obscureci, entendi, te esqueci
Não te quero mais em mim
Cresci
Me fiz minha única raiz
Sem cicatriz
Filial e matriz,
Não reparto emoção,
Não vendo ilusão,
Não vivo mais por um triz
Sou feliz
MORGANA
Rio de Janeiro, 17/05/03
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