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Contos-->A janela -- 13/02/2003 - 23:42 (Barbara Amar) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
- O que você quer com meu marido?
- Como é que é? Tá falando comigo?
- Tô. O que você quer com ele?
Sua voz fica trêmula, como se fosse chorar. Parece uma menina se fazendo de gente. Meio feinha. Cabelo louro preso em rabo de cavalo, corpo inexpressivo mais para magra com um resquício de bunda.
Sei quem é ela. Sinto um desejo enorme de magoá-la contando-lhe a verdade. Seu nome é Neli e mora no apartamento em frente ao meu. Comprovo, de perto, minha superioridade. É até covardia. Sorrio e despeço-me:
- Tchau.
Olha-me com ódio infantil. Pensa que tenho medo; coitada, não sabe com quem está lidando.
- Você é uma velha, grita. Uma velha, tá ouvindo? Vê se te enxerga.
- Eu sei, respondo rindo. Mas você também não é nenhuma criancinha. Dou uma gargalhada e viro-lhe as costas.

Disseram-me que ela tem 32 anos, embora não pareça. Ele, o maridão, um garoto de dezenove, aparenta mais idade. Passa o dia inteiro pendurado na janela paquerando. Não me dá descanso.
As pessoas, curiosas, começam a olhar. Estamos na rua, uma em frente a outra. Ela de jeans e bustier; eu de saia justa, colada ao corpo e blusa sem mangas, decotada, seios à mostra.
Preciso cair fora daqui. Essa garota está cega de ciúmes e vai aprontar uma cena.
- Dá licença, falo alto mantendo o sorriso. (Se ela não sair da frente vou empurrá-la, porra!)
- Velha, xinga ela.
- Corna, devolvo.
- O que você tá dizendo?
- Ah, vai te catar. E quer saber mais? Não sou eu quem olha pra ele. É ele que não tira os olhos de mim. Por que você não fura os olhos dele, hein? (Pronto, falei.)
Antes que ela responda, saio de cabeça erguida sentindo a raiva latejar, pronta para explodir. Vontade súbita de fazê-la chorar.

Lembro-me dele, tão bonito, só faltando saltar da janela, doido, querendo me comer. Está sempre nu da cintura pra cima. Adora mostrar o tórax e os braços musculosos - sua forma de seduzir. Na realidade é um projeto de garanhão. Uma criança grande que se diverte observando a vizinha gostosa e experiente. Um “voyeur” incapaz de trair a esposa, pois teme perder a mordomia (a pobrezinha o sustenta). Eu, por meu lado, gosto de me exibir. Sendo assim nos completamos.
À noite, deixo a janela aberta. Ele me acorda de madrugada, assobiando. Há um diálogo mudo entre nós. Dispo-me, à luz forte do abajur, para que Cláudio aprecie minhas curvas. Danço sem música, só pelo prazer de ser olhada. Ele, de binóculo, examina meu corpo em detalhes. De frente, de costas, arregaçada. Adoro isso. Exponho-me sem recato enquanto ele se masturba, exasperado por tanta disponibilidade. Acompanho-o, de pé, apoiando uma das pernas no banco da penteadeira. Nossos púbis frente a frente. Gozamos juntos. No final ele me aplaude. Sorrio e inclino a cabeça, como uma atriz no final do espetáculo.
Às vezes, falamo-nos ao telefone. Cláudio mente aumentando a idade. Engraçado, nunca perguntou a minha. Dominados pelo tesão, passamos a fazer sexo pelo telefone separados pelas respectivas janelas. Saciado o prazer despedimo-nos com um beijo e cada um vai deitar-se. Eu, sozinha. Ele, acompanhado.

Volto a cabeça e vejo-a atrás de mim. Olhar desafiador, cheia de moral. Diminuo o passo, cansei de ser boazinha. A aranha aguarda a pequenina mosca para colhê-la na armadilha e, sobretudo, atormentá-la prolongando o prazer ao vê-la debater-se, enredada, tentando escapar do esperado e indesejável fim.
Como se intuísse, a garota desvia-se e passa ao largo. Oculto um sorriso vitorioso. Meu súbito enfrentamento, minhas palavras, principalmente as não ditas mas implícitas. Deixei o germe da dúvida em sua cabeça, terrível aliado; ele vai levá-la a pensar.

04/02/03

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