UMA VIAGEM QUE AINDA VIVE A DOR - 115 anos de Abolição
No chicote, o grito,
no tronco, o amparo,
na senzala o abrigo,
na recepção, o colar de aro.
Assim saudava-se o navio negreiro
que riscava com seu casco, as águas salinas,
rumo a um continente possuidor de muitas minas.
Ao corte das águas, cortava-se o coração dos meus irmãos,
negros aprisionados pelos ferros e pela saudade da terra mãe.
Na distância, o aceno de um adeus à liberdade,
furtada por ferinas mãos.
Águas profundas e intensas,
abalam o navio com suas ondas turbulentas.
Com o medo, a noite ainda mais os escurece,
com seu negro véu, os cobre de tormentas.
Gemidos se misturam ao som das pulseiras,
argolas que se arrastam num som de lamento.
consumindo vidas por inteiras.
É manhã, o sol pelas frechas,
penetra seus raios no desumano porão,
exílio das criaturas, marcadas pela perseguição.
O clarão e calor do astro rei, anima com a canção:
"fôlego é vida abundante, sopra-o na terra visitante".
Negros, a discriminação que afronta o jugo infausto,
é marcha errante deste proceder arrogante.
Bravura é o teu valor, mistério, a tua sombra,
louva por seres ainda que....
porém célebres viajantes.
Hoje de um navio negreiro,
passas a ser viajante no sangue
desta gente brasileira, que hoje cria cotas
de distinção, desprezando sua própria história,
concebida na mistura dessa minha gente guerreira,
que, apesar de tudo, grita vitória
Jair Martins - 13/05/2003 - 10:25h
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