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Artigos-->Exílio Alemão – Das Auto -- 30/10/2015 - 21:59 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Exílio Alemão – Das Auto



Ismar Becker




Depois de três semanas no Brasil, retornei para a Alemanha. Com isto saí da frigideira. Uso esta expressão pelo fato inédito (nunca antes na história deste País) de uma presidente ter suas contas rejeitadas pelo Tribunal de Contas da União (por unanimidade) e ter o financiamento (sic!) de sua campanha investigado pelo Tribunal Superior Eleitoral.



Para o leitor ter a dimensão da gravidade destes dois fatos:



- O Tribunal de Contas da União (TCU) é mais ou menos uma confraria de políticos aposentados, que ganham um prêmio de consolação e que receberão um baita salário pelo resto da vida. Por isto são pouco chegados a polêmicas. A última vez que o TCU não aprovou as contas de um presidente, foi em 1937, quando Getúlio Vargas era ditador.



- O Superior Tribunal Eleitoral é a instância máxima da Justiça Eleitoral Brasileira. Atualmente é presidida por um Ministro do Supremo Tribunal Federal. Este cidadão foi indicado pelo ex-presidente Petralha, foi advogado da quadrilha Petralha e que por duas vezes não passou em concurso para juiz. Ele ter acatado a abertura da investigação, além de ter votado a favor, é o que eu chamo de fogo amigo.



Com mais estes dois fatos, penso que nenhum leitor tem mais alguma dúvida de que este (des)governo acabou, e só falta enterrar? Por isto decidi permanecer no meu período sabático e continuar minhas crônicas sobre a Alemanha. O problema é que após sair da frigideira brasileira, caí no fogo alemão.



O fogo em questão chama-se em bom alemão Der Betrug um die Abgaswerte der Diesel Motoren. Em português simples: A fraude na emissão de gases nos motores diesel. Em um rápido resumo: A Volkswagen, cujo logo é Das Auto, instalou um software que frauda o controle de emissão de gases dos seus motores diesel, usados em automóveis.



Como a VW não conseguiu produzir um motor cuja emissão de gases estivesse dentro dos limites dos Estados Unidos, achou uma forma de burlar o controle. Denomino isto de “pedaladas tecnológicas“, me inspirando nas pedaladas fiscais que motivaram a reprovação das contas da presidente pelo TCU.



A revista Stern descreve a situação em uma palavra : Totalschaden. Perda total, no jargão das seguradoras. Ainda não é possível avaliar o custo da lambança para a VW, mas ela será de muitos bilhões de Euros. Pior do que os prejuízos financeiros será o efeito na imagem da marca da VW e até da reputação de qualidade e tecnologia dos produtos Made in Germany.



Uma auditoria foi deflagrada na empresa para levantar as causas e os responsáveis da fraude. Este trabalho levara tempo, mas desde já podemos afirmar que é patética a posição do ex-presidente da VW, Martin Winterkorn, de que não sabia de nada. Isto me lembra ex-presidente Petralha no caso do Mensalão e da ex-presidente do Conselho da Petrobras no caso do Petrolão.



Sabendo que assumirei um risco de conclusões prematuras, me atreverei a esboçar, baseado na curta experiência empresarial na Alemanha, uma explicação inicial para o escândalo.



A ambição doentia de um líder empresarial, mais a obsessão e miopia técnica dos alemães somadas à sua cega disciplina gerou este monstro. Calma que tentarei explicar.



O líder em questão é Ferdinand Piech, neto do famoso Ferdinand Porsche, que é considerado o pai do Fusca, encomendado por Adolf Hitler. O termo considerado foi usado porque existe uma versão de que o famoso carro foi desenvolvido pelo judeu Josef Ganz, tendo Porsche roubado o projeto.



Os descendentes de Porsche detêm 42,6% do capital da VW. Piech sempre foi um obcecado pelos motores Diesel e é considerado o pai dos motores TDI, com injeção direta de diesel, que é o objeto da fraude. Ele fez sua carreira na VW. Foi presidente do Conselho de Administração de 1993 ate 2002, e de 2002 ate 2015 do Conselho Fiscal. É conhecido por administrar pela Angskultur (Cultura do Medo) e pelo abuso do comando e controle.



Mais ou menos em 2010, não era mais tecnicamente possível diminuir a emissão de gazes, para atender as legislações ambientais, sem prejudicar o desempenho ou o consumo dos motores. Deve ter sido aí que entrou em ação a cega disciplina germânica, aliada à obsessão e miopia técnica. Alguém, muito provavelmente Piech, mandou que os engenheiros encontrassem uma solução para o problema. Seguindo cegamente as ordens, usando sua brilhante obsessão tecnologia e sem se importar com o cliente (miopia), desenvolveram um software que diminuía a emissão de gazes, somente quando havia um controle.



Transportando isto para nossa empresa na Alemanha, os dois principais problemas que estou enfrentando são a exagero da cultura do comando e controle e a miopia tecnológica.



Como consequência do primeiro, todos esperam ordens, tem pânico em errar e por isto não tomam decisão nenhuma. Quando tomam, embutem uma margem de segurança tão elevada que o produto fica invendável.



A miopia tecnológica é querer fazer a melhor decalcomania do mundo, sem saber se o cliente quer e pode pagar por isto.



Lamentavelmente ate aqui tem malandragem. A diferença entre a frigideira (Brasil) e o fogo (Alemanha) é que aqui, em pouco tempo ate peixes graúdos estarão na cadeia, independentemente dos seus advogados e das firulas jurídicas.



Fonte: http://www.gazetasbs.com.br/site/coluna.php?id=27



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