Desde a última vez que estive em New Orleans não sabia que iria infartar. Sofri com a despedida, com o último gole de café feito pela minha mãe, com o charuto oferecido por papai ao visitar as lavouras.
O médico já havia me alertado, pedido para diminuir o cigarro, a cafeína e principalmente para fugir do stress. Nada fiz, pouco mudei.
Ontem tive que voltar a verimagens e sensações vividas com a minha família como se fosse num filme em rotação alterada. Uma dor no peito subia pela minha cabeça, expandia para o estômago e refletia em grandes soluços e ânsias.
Foi assim que revi toda minha vida no branco e no preto. Foi assim que senti o cheiro da morte com o coração a explodir no peito. Passei a ser privado de cores, mesmo porque em meu passado é inconcebível imaginar que tenha existido cor primária, menos ainda secundária. Na minha lembrança faltavam as nuances de uma aquarela.
Não posso reclamar de minha passagem só porque havia já falecido em plena vida. O último feixe de luz que vi foi uma equipe de para-médicos desesperados a procurar pela minha pulsação e precisando abrir meu peito. Era o fim de uma vida agoniada. Era o início de novas reflexões sobre o que realmente fui e que sou como essência.
Quando lembro de tamanha inutilidade humana sinto em meu perespírito a dor latejar pelo peito. Minha alma reverba como um diapasão. Minha agonia tira-me a respiração, me faz chorar como pedido de perdão. Perdão por ter desperdiçado o dom da vida! Perdão...Per..dão...
E essa sensação de fracasso e cansa~ço post- mortem eu não posso evitar.