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Contos-->REPEAT -- 14/02/2003 - 16:31 (PEDRO VIANNA NETO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Repeat

Perdi a conta dos dias desde que ela partiu; dez dias, doze dias, sei lá. Só sei que ela deixou o bastante: alguns cds para que eu não esqueça de nossas fodas; seu cheiro impregnado nos lençóis e no corpo da casa; uma foto presa entre os livros da estante.
De tudo um pouco ficou na lembrança. Um pouco incomodo como um cabelo inflamado. Não se deve tocar no que nos causa dor, mas a dor é um vicio, é preciso senti-la. Não se deve mexer no cabelo inflamado, mas eu mexo.
Os cds repetem-se automaticamente; existe uma tecla para isso: repeat.
Ela sempre detestou esta tecla. Não admitia ouvir nada mais de uma vez, e por isso conversávamos tão pouco. Ela dizia que já tínhamos nos dito o bastante; era bem melhor foder. Isso sim repetíamos sempre, todos os dias.
Ela nunca dizia não.
Fodiamos ouvindo musica no último volume para que ela pudesse gritar sem se preocupar com os vizinhos. Agora ela deve estar fodendo com outro repetidamente. Seus gritos fundindo-se com a música, ecoando pelas paredes de um apartamento qualquer. Hoje tenho a certeza de tê-la perdido.
A carta em minha mão pede para ser rasgada.
A caligrafia disforme, as manchas rosadas, os papeis amassados, tudo evidencia:
ela estava bêbada.
Ela sempre precisou fugir de mim para se embriagar de vinho.
Leio novamente a maldita carta e percebo que dessa vez não tem volta.
Nem tudo se repete.
Ela foi e eu fiquei.
Estou na mesma, e é uma merda perder.
Eu perdi.
Não fui o bastante.
Fui pouco.
Ela sempre foi muito.
Ela sempre foi tanto.
Procuro desesperadamente seu cheiro no lençol e seu cheiro ainda me ama.
Não vou mais sair. Chega do mundo para mim. O mundo é um mundo de coisas que não quero ver. Bastam esse quarto e esses cds repetindo-se intermitentes. Mudo de posição na cama e nada muda.
Estou fodido.
Ela não vai voltar.
O amor é foda.
Ela também.
Não existe uma tecla para impedir que essa dor se repita.

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