DILEMA
Cai a noite preguiçosa,
Na cidade maravilhosa
Vai mudando a paisagem
E os personagens também
Estão todos de passagem
Nesta terra de ninguém
Minha alma ainda está calma,
Calada e pálida
Tentando segurar o dia
Que não quer dormir sem companhia
E teima em levar consigo
Minha efêmera alegria
Os namorados passam em bando,
Se amando, se abraçando, se beijando,
Alegres saltimbancos,
Parece até que só eu estou sozinha
Nesta noite que se avizinha
Ainda não me desembaracei do dia
Que espia tranqüilo o meu desmonte
Antes de se esconder atrás dos montes,
Estou à mercê de sua retirada
Para resolver esta charada:
Se me encolho no meu mundo
Pano de fundo dos meus anseios,
Poço escuro dos meus desejos,
Palco de frágeis devaneios
Ou saio para noite enluarada
E volto de braços com a madrugada,
Que me traz entorpecida,
Encharcada de birita,
E me joga de sapato
No sofá da sala de visita
Não quero acender as luzes,
Muito menos ficar nesta negritude
Que me encharca o peito de azedume
Tenho que tomar uma atitude
Antes da chegada da agonia
Que me abraça, me enlaça,
Na sua teia cinzenta e fria
E assim cativa, adormeço
E amanheço em estranho berço
Morgana
Rio de Janeiro, 30/05/03
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