Festim na autarquia
(para Alexei Bueno)
Em inultos festins, a cobiça
devassou as profundezas do absurdo!
Enfileiremos os olhos inúmeros,
nossos olhos de vivas gerações,
(ou daquelas gerações já morridas!)
que em haustos de infinitas frustrações,
calaram ao delírio entre o Poder
e a Concupiscência!
Tudo seria cioso e respeitado:
a vela, ao rio, afagando rostos lívidos
e lassos, mas ao alívio do aporto.;
o granito da foz do Tacutu
tingido a bacamartes estrangeiros.;
a promessa, o suor, sangue do cearense,
paraibano, piauiense, maranhense,
gaúcho, paraense, do acreano...
Uns fazendeiros, outros garimpeiros,
outros colonos, outros comerciantes,
uns barnabés, enfim, aventureiros.;
mas todos pioneiros!
Ó grei de festeiros!
Para isso não nascemos neste chão!
Para isso, muito menos, vieram tantos!
Que se mire nos olhos dos que à morte,
com audácia, ousaram enfrentar:
serena maldição do imponderável,
espectro derradeiro que espera
a nós todos!... O último juízo
das virtudes, ou farsa, ou crimes contra
o nosso semelhante ou princípios
jamais alienáveis!
Não à Concupiscência!
Boca voraz de sonhos infantis,
frutos ceifados, sem maturação!
Algoz de ancião, vultos sem remédios.;
de fetos não nascidos, abortados
pela aflição de mães desamparadas.;
de mendigos inúteis sem emprego!
Almas frívolas, carnes malcheirosas,
mentes ocas e sôfregas do efêmero!
Construístes pirâmides de espelhos
com a penúria e o sangue do faminto,
em sodomia com pratas econômicas!
Mas quereis perpetuar os vossos gozos
com o venal sufrágio de cabrestos!
E para isso buscais todos os meios!...
Ventosas aferradas ao erário,
nada resiste à luz de vossas gulas!
Mas tudo sem a mínima visão
de que nossa mão frágil só comporta
uma mera sementinha ou uma concha,
para atirá-la ao vento, erguendo mundos,
ou ais auscultar de olores sulfurosos!...
Se, porém, rides, rides e só rides
com vossos vis caninos de ímpia besta,
que fazer contra tão fartos repastos?
Quando cairá o véu de vossas máscaras?...
Um dia... Um dia sem rumo, como mastros
sem vela ao mar bravio sob mil borrascas!...
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