A casa onde morou a felicidade!
Certamente aquela não era a melhor casa da cidade. Muito menos a maior, a mais luxuosa.
Um casa simples. Um jardim cercado de grades. Grades que permitiam a todos ver o que ali acontecia. Não havia nada naquela casa que necessitasse ser escondido.
Alguma coisa porém, muito especial, chamava a atenção para aquela casa.
Quase sempre havia música. Quando com música, espalhava alegria aos arredores. A cantoria, a alegria, tudo fazia daquele lugar uma festa permanente.
Nem sempre havia música. Quando sem música, o burburinho de seus freqüentadores ocupava o ar, muito me fazia lembrar o cantar de pássaros.
A porta da frente sempre aberta aos amigos. Bastava um “- O de casa, tô chegando!” De pronto a resposta... “- Vamos entrando!”
Acho que já disse, não havia nada de especial naquela casa. Havia apenas um quê muito especial, um toque que só seus donos tinham e faziam questão de distribuir. Ali, aquela casa, como todos sabiam, era realmente um lar. Ali morava e se morava com felicidade!
Cômodos espaçosos, mas simples. Nenhum luxo, apenas conforto.
Porém, apesar da simplicidade, uma coisa, um objeto, chamava a atenção. No centro da sala, encimando à mesa, dominando o ambiente, descendo soberano do teto, um lindo, mais do que isso, um magnífico lustre de cristal.
Á noite, com ou sem música, com ou sem burburinho, com suas lâmpadas acesas, o reflexo das luzes no lustre, fazia daquela casa, sobre a pequena colina, a mais linda das visões. De longe se via a suntuosidade!
Era uma visão tão exuberante, tão bela, que a todos dava a certeza de que ali emanava a luz da felicidade. A luz da felicidade que reinava naquela casa.
Não havia um só passante que não tivesse sua atenção despertada. Não havia um só morador da vizinhança, que não sentisse e até usufruísse da magnífica aura daquele lugar.
Dia após dia, a sensação era de festa, dia após dia aquela luz espalhava sua energia, espargia sua força positiva.
Até hoje, quando tudo se chama passado, muito tempo depois, ainda se comenta sobre a velha casa da colina.
O tempo, com o seu passar, como com tudo ele faz, cobrou seu implacável preço.
Pouco a pouco, os ocupantes da casa, se foram.
As crianças cresceram, se fizeram adultos. Casaram-se... se foram.
Os outrora adultos envelheceram... se “foram”.
Não, não foi o tempo o culpado, foi a vida. A vida é assim. A ela não se nega o preço que nos é cobrado. Para com a vida não se deixa dívida, a cobrança é imperdoável!
A música emudeceu, já não há a alegria. O burburinho ensurdeceu, já não há o meu cantar de pássaros.
A grade do jardim, ainda está lá, enferrujada permite que a visão da casa ainda seja total. Infelizmente permite que a deprimente decadência seja vista!
Tal como as pessoas que ali moravam e foram deixando para trás a felicidade, uma a uma, as lâmpadas do lustre de cristal foram se apagando.
Para cada lâmpada que o tempo apagou, um olhar passante deixou de observar a morada da felicidade.
Para cada lâmpada que se apagou, uma vida partiu, um sorriso se foi.
O então magnífico lustre de cristal, que um dia fora a fonte da luz da felicidade, já não tem mais esplendor, já não tem brilho, já não tem luz, já não reflete mais a felicidade.
A casa da colina, continua de porta aberta, o tempo que a derrubou, se encarregou de nunca mais fechá-la.
Na casa da colina, onde morava a felicidade, ninguém mais avisa “- O de casa, tô chegando”.
Na casa da colina, onde morava a felicidade, não há mais alguém para responder e já não se ouve o “- Vamos entrando!”.
Na casa da colina, não há mais música, não há mais burburinho, não há mais luz, não há mais reflexo do que foi a felicidade.
Apenas o velho lustre de cristal, no centro da sala, pendente do teto, ainda resiste.
Hoje é morada das aranhas, está apagado, sujo, sem brilho, sem felicidade.
Não, não é bem assim, uma vez ou outra, um raio de luz penetra através do vão deixado pela velha porta caída, ou então pelo vidro quebrado da janela, e assim, alcança o cristal do velho lustre.
De pronto, num passe de mágica, pelas paredes, ainda que desbotadas, um desdobrar de luzes se faz notar, A magnitude de suas cores mostra a exuberância de seu passado.
O refratar da luz em cores, se faz notavelmente belo!
É quando, aos que conheceram o auge da casa da colina, resta sonhar e imaginar, que aquela luz que surge por alguns instantes, na casa onde morou a felicidade, seja um raio de esperança!
Quem sabe haja esperança?
Quem sabe felicidade ainda não morreu?
Quer falar com o autor? Escreva para mwoyames@ibge.gov.br
|