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Contos-->A máquina da perfeição -- 09/08/2000 - 00:12 (Eduardo Henrique Américo dos Reis) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
“...todo homem quer ser Rei. Todo Rei quer ser Deus... mas só Deus quis ser homem.”
Thaíde

Após concluir os estudos científicos, para os quais dedicou mais de trinta anos da própria vida, o doutor chamou o seu nobre ajudante, um rapaz muito desajeitado, para participar dos testes finais.
“Vamos rápido, meu fiel companheiro!” dizia o doutor entusiasmado. O garoto entrou na cabina do gigantesco computador sem ao menos perguntar o que aconteceria com ele. O cientista trancou a porta. Com um enorme sorriso no rosto e esfregando as palmas da mão uma na outra, dirigiu-se ao painel de controle da máquina. Apertou diversos botões, manipulou algumas alavancas, mantendo a alegria expressa em face. Durante quinze ou vinte minutos, o rapaz ficou trancafiado no colossal computador.
Ao abrir a porta do compartimento, espantou-se o doutor. “Não, não pode ser! Será que de nada servirão meus estudos à humanidade!?” O nobre ajudante não havia sentido nenhuma modificação, tanto na parte mental quanto na física. Desconsolado, o cientista retirou-se do laboratório e seguiu para seus aposentos, deixando o rapaz sozinho.
Por toda aquela noite, o fiel aprendiz não pregou os olhos. Ficou a pensar no que poderia ter dado errado. Pesquisou as anotações do doutor, refez o teste com cobaias, anotou os acontecimentos novamente... todos os resultados eram semelhantes às tentativas de seu mestre. Ao amanhecer, sentado numa das mesas do laboratório, acompanhado de uma xícara de café, com os olhos fundos e pensativos, foi interceptado pelo doutor “O que faz aqui!?” O jovem explicou sem ânimo algum.
Depois de muito pensar, com os olhos presos na face de seu ajudante, o doutor começou a gargalhar de uma maneira desesperada e assustadora. O jovem rapaz não compreendia o porque de tantos risos, já que a maquina fracassara novamente. Até lágrimas podiam ser vistas por trás dos óculos do mestre.
Quando conseguiu se tranquilizar, esclareceu que os dois poderiam não ter pensado numa única possibilidade. O resultado poderia não ser momentâneo. Então, ao observar as primeiras cobaias utilizadas nos testes, notaram a diferença entre a coloração dos pêlos e a quantidade de alimento que aqueles animais estavam ingerindo.
“Viu, meu companheiro!? Observa!? As primeiras cobaias estão com os pêlos mais saudáveis e estão utilizando menos de vinte por cento da quantidade de alimento necessário!” disse o mestre ao aprendiz. “Isso quer dizer que eles estão se alimentando menos, vivendo mais e aparentam estar mais jovens!?” indagou o jovem.
“Não, as cobaias não aparentar estar mais jovens! Elas estão mais jovens! Nós conseguimos!” gritou o doutor dando um abraço no ajudante.

Resultados humanos
Devido à uma série de seminários e palestras, o doutor passou um mês e meio viajando por diversos países. Como morava sozinho, deixou o laboratório e a divina máquina aos cuidados de fiel aprendiz.
O rapaz evitou ao máximo mexer na grande invenção, apenas limpava e cobria novamente. Sozinho, não notou as grandes transformações pelas quais seu corpo e sua mente estavam passando. Sentia-se muito bem, com mais disposição física e com maior capacidade de compreensão nos mais diversos temas, mas não considerava nada extraordinário.
Ao retornar para casa, o cientista defrontou em sua própria sala, um rapaz de médio porte, beleza refinada, um corpo perfeito, extremamente inteligente, ágil, astuto e com o repertório cultural elevadíssimo. “Meu companheiro, você se tornou outra pessoa! Como é belo! Como é belo!” maravilhou-se o doutor colocando as duas mãos no rosto do jovem.
Ainda mais impressionado ficou, após saber que durante aquelas seis semanas, seu aprendiz, nem ao menos havia saído das quatro paredes da residência do mestre. Entusiasmado com os resultados em um humano, o doutor resolveu voltar imediatamente aos estudos.
Em três ou mais dias de pesquisas com o jovem, o nobre cientista concluiu, finalmente, a última fase do trabalho. “Meu aluno! Você é a prova viva de que todo o meu serviço foi excelente! Com esta maquina, não consegui criar somente um organismo mais jovem, duradouro e fértil...eu consegui manter o mais baixo nível de gordura em uma pessoa, um metabolismo perfeito, Q.I. invejável a qualquer gênio! Eu criei a cura para todas as doenças! Criei você! O único ser humano perfeito na face da terra!”

Racionais desavenças
Não demorou muito para o perfeito aprendiz ultrapassar todos os conhecimentos do mestre. Em poucos dias, o rapaz mergulhou-se dentre uma gigantesca pilha de livros, observações biológicas práticas, saiu às ruas, conversou com pessoas, conheceu as mais variadas formas psicológicas.
Mesmo com as pressões do aprendiz que afirmava a perfeição da máquina, o velho cientista não se deu ao luxo de rejuvenescer. Negava até as mais convincentes falas do jovem. Dizia, com muita humildade, que era possuidor de técnicas e conhecimentos já inadequados quanto comparados aos de seu sucessor.
Com toda a beleza refinada e apaixonante do sábio escudeiro, não foi difícil perceber o rastro das garotas. O humilde inventor da perfeição, ao notar este magnetismo, chegou à conclusão de que seu companheiro precisava de uma parceira, também perfeita para procriar esta nova safra de seres humanos.
“Eu me transformei. A razão predomina sobre a minha emoção... quase não sinto a solidão, tristeza, a felicidade, a dor e até mesmo as atrações sexuais. Me tornei muito equilibrado, sensato...”
Insistiu tanto o criador que, em poucos dias, o jovem apareceu no laboratório acompanhado por uma bela menina. Morena de olhos claros e cabelos longos, meiga como uma garotinha e tão atrativa e sensual quanto uma noite fria seguida de um belo vinho.
A senhorita não demorou a concordar em ser a principal percursora de novo e perfeito mundo. Assim como seu amado, não demorou mais de dois meses para atingir a perfeição física e psíquica. Estudou, pesquisou, mudou todos os hábitos alimentares, empenho-se até se igualar ao companheiro.
“Daqui para frente, não haverá mais ignorância! Nem tristeza! Nem doenças! Nem dor! Dentro de décadas o mundo estará perfeito! O mundo será perfeito!” gozava o doutor com um enorme sorriso no rosto ao observar as cadeias genéticas do magnífico casal.
Mas mal sabia ele, que não viveu para ver, o destino de todo o planeta. Mal sabia ele que o mundo, um século e meio depois, começaria a se auto destruir. As pessoas não possuiriam mais sentimento algum, todas as sociedades sofriam por não sofrer, por não sorrir, por ser totalmente livre de emoções. De nada adiantou salvar a natureza. De nada adiantou eliminar as doenças. De nada adiantou retirar a dor, já que a felicidade também foi retirada.


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