ANGUSTIA
Eu conheço esse jeito calado,
Esse aperto no peito,
Esse desassossego, que em mim
Se faz em novelos de anseios sem fim
No assombro dos pesadelos
Que me debato em silêncio,
Com esse medo danado,
Contido nessa lágrima a espiar a tarde
Eu conheço essa dor que arde
Parei os relógios sem alarde,
Fechei as cortinas e as portas
Mandei o tempo embora,
Se é noite ou dia, não importa
Eu conheço esta espera que geme,
Já bebi um bocado, quebrei o prato,
Beijei teu retrato, reli teu recado,
E fechei a porta do quarto
Eu conheço esse olhar parado,
Já ouço o canto do vento no jardim,
Ou será meu peito a chorar assim
Pelo deserto que cavastes em mim
Não me liberto de quem em mim exilou-se
Em pedaços de tarde fugindo pra longe,
E a fúria escurecendo meu horizonte,
E eu nem sei se é hoje ou ontem,
No abandono que a minha dor se esconde
Eu conheço este pânico na alma
A euforia saindo de lado, em rubores,
O silêncio inquieto, em dores,
Me despi de todos os pudores,
Acalmei todos os meus ardores
Eu conheço esta calma, esse arrepio,
Esse calafrio na alma em agonia,
Mas dentro de mim, renasce um novo dia:
Que não se curva ou se intimida,
Posto que já se anuncia
Como um esboço de poesia
Ou um mergulho na boêmia
MORGANA
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