Valor Econômico - 21/01/2016 05:00
Fórum de Davos faz dois alertas aos emergentes
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O Fórum Econômico Mundial, encontro anual que reúne nesta semana executivos, acadêmicos, investidores e
autoridades econômicas e políticas na cidade de Davos, na Suíça, traz dois recados para os emergentes. Um é
conjuntural. O outro, estrutural. E ambos preocupam.
Em primeiro lugar é preciso destacar o pessimismo com relação à economia global, evidenciado na pesquisa com
1.409 CEOs realizada pela PwC e divulgada no Fórum. Segundo o levantamento, a confiança dos principais
executivos mundiais está no menor nível em três anos.
Esse pessimismo se acentua em relação aos emergentes, que enfrentam vários choques simultâneos: desaceleração
da demanda chinesa, queda nos preços das principais commodities, desvalorização das moedas, a alta dos juros
nos EUA, aperto no crédito, fuga de capitais. Além disso, há o risco, ainda difícil de avaliar, de uma desaceleração
simultânea nos EUA e na Europa neste ano.
A demanda chinesa não deverá aumentar, e os juros americanos continuarão a subir, de modo que a pressão sobre
os emergentes se manterá por um bom tempo ainda.
Esse é o primeiro recado de Davos aos emergentes: a crise possivelmente será mais longa do que muitos hoje estão
prevendo.
Essas dificuldades fizeram o FMI reduzir nesta semana as suas estimativas de crescimento da economia mundial
para 2016, puxadas para baixo principalmente por conta da freada dos emergentes.
No caso do Brasil, o Fundo se alinhou à faixa mais pessimista das estimativas de mercado, ao prever queda de
3,5% do PIB neste ano e crescimento zero no ano que vem.
Mas o Fórum de Davos propõe também uma análise de mais longo prazo: uma mudança estrutural está em
andamento na economia mundial, que seria o início da já chamada Quarta Revolução Industrial.
É complexo definir essa revolução, mas ela aprofundaria elementos da Terceira Revolução, a da informática e TI, e
faria uma "fusão de tecnologias, borrando as linhas divisórias entre as esferas físicas, digitais e biológicas", como
escreveu Klaus Schwab, o fundador e presidente executivo do Fórum.
Esses avanços, segundo ele, vão da robótica à nano e biotecnologia, da inteligência artificial à computação
quântica, do Big Data aos veículos autônomos e novos materiais.
Schwab acredita que essa nova revolução afetará todos os setores da economia e todas as regiões do mundo. Mas
não do mesmo modo. Haverá ganhadores e perdedores.
O segundo alerta do Fórum Econômico é que muitos dos emergentes, incluindo o Brasil, poderão estar no rol dos
perdedores.
Essa Quarta Revolução Industrial deverá favorecer os países mais desenvolvidos, que detêm a tecnologia, a
capacidade de inovação, a mão de obra qualificada, a cultura de integração, a infraestrutura e o capital necessário
para os pesados investimentos.
Favorecerá assim, diz o Fórum, aqueles países que hoje são mais intensos em capital, em detrimento dos que hoje
são mais intensos em mão de obra barata, que será aos poucos substituída por sistemas e robôs.
O país mais à frente nesse processo talvez seja a Alemanha, onde governo e empresas já estudam e se preparam
para essa transição há anos. Isso pode ser uma das razões que explica a resiliência da economia alemã durante
todos esses anos de crise. EUA e China também liderariam esse movimento.
Alguns emergentes mais integrados ou estrategicamente bem posicionados, como México, Turquia e Índia podem
também se beneficiar de tais mudanças, diz o Fórum.
Na outra ponta estão outros emergentes de nível tecnológico médio, como Brasil, África do Sul e países do Sudeste
Asiático, que tendem a sair perdendo. Correm ainda esse risco alguns países ricos menos preparados, como a
Itália.
O Fórum calcula que mais de 7 milhões de empregos podem ser eliminados por conta de inovações tecnológicas
até 2020. Basta pensar em táxis, ônibus e veículos de transporte de carga sem motoristas.
Por outro lado, cerca de 2 milhões de novos empregos seriam criados nos setores que se beneficiarão das
mudanças tecnológicas, mas principalmente nos países mais avançados.
Crescimento baixo no curto prazo e uma mudança de paradigma econômico global de médio e longo prazos
constituem um duplo desafio, difícil de administrar para o mundo emergente. Se isso não ocorrer, alguns
emergentes vão se distanciar mais dos países ricos. Parte desse mundo pode submergir.
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