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Artigos-->Sem o ensino da literatura, a poesia não perde grande coisa -- 09/04/2002 - 19:29 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Num certo sentido, a poesia certamente não vai perder grande coisa com a exclusão das disciplinas literárias dos nossos currículos obrigatórios. A verdade é que ela não costuma ser lá muito bem tratada. E poesia é poesia, já dizia um grande poeta, está mais para a música e para a as artes visuais, e todo o resto é literatura.



Convenhamos: o que a poesia pode esperar, por exemplo, de um cenário em que à literatura não cabe senão o triste papel de matéria para avaliações ou vestibulares?



Parodiando Peter Bichsel, que diz isso a respeito do ensino de idiomas estrangeiros: a literatura não é ensinada porque os alunos dela necessitem, porque a humanidade não possa prescindir de seus encantos, mas porque ela permite avaliações. E o nosso sistema de ensino não consegue vislumbrar mais nada para além das avaliações, das listas de presença, das imposições arbitrárias, das instâncias punitivas, do poder pelo poder. E isso, é claro, todo mundo sabe que tem um nome.



Quem perde? Bem, perde certamente a próspera indústria dos resumos de obras literárias. E muita gente vai ter de se virar sem os expedientes de que se serviam para ganhar o pão de cada dia. Ou seja, nada a ver com a poesia.



Ai dos que acham ser a literatura apenas uma instância escolar ou acadêmica!



Um dia desses, estive conversando com os alunos do Colégio Oswaldo Cruz (Araraquara) sobre "O que é a poesia?" Aos apupos dos colegas, um deles arriscava, sem muito êxito, formular uma definição que se parecesse com as dos livros ou das aulas de português, e que, tudo indicava, não tinham mesmo muito a ver com as suas convicções mais profundas. De repente, emputecido com aquela impossibilidade e com a zoeira dos colegas (primeiro colegial), o garoto explodiu, ousando gritar bem alto: POESIA É VIDA E ESTÁ EM TODA PARTE, ESPALHADA POR AÍ, NA MÚSICA, NO CINEMA, NA TV, NO JORNAL, NA INTERNET, PELAS PAREDES, AQUI DENTRO DA CLASSE! Aí, sim, foi aplaudido pelos colegas.



E eu tive a certeza de que não teria mais nada a dizer, somente continuar a refletir sobre aquele grito de liberdade. E os outros se puseram a falar, agora livres das amarras que as disciplinas literárias lhes impunham.



No sábado, fomos, o Jônatas Protes e eu, até Serrana, visitar os nossos amigos Menalton e Roseli Braff. Ele, o grande autor de "À sombra do cipreste" e "Que enchente me carrega?", de repente chamou a nossa atenção para o fato de nos termos conhecido, os três, por meio da internet. E festejamos, durante algumas horas felizes, a materialização da nossa já longa convivência virtual.



Tudo bem: vamos ficar sem as aulas de literatura. Mas a poesia continua espalhada por aí, como quer o aluno do COC. E esse aluno já sabe, e o sabemos nós quatro ali reunidos numa noite de sábado em Serrana (SP): só não podemos ficar sem a poesia, como não podemos deixar de ser humanos, como não podemos deixar de respirar o ar que nos rodeia.



Por mais que a sufoquem institucionalmente, ensinando ou deixando de ensinar a literatura, a poesia sempre vai achar um jeito de furar o asfalto como a flor de Drummond, seja no formato genial do zine literário "ao pé do ouvido", seja na simplicidade com que Menalton Braff fala do seu ofício, ou na delicadeza com que a Roseli Braff acompanha o andamento do mundo, seja nos grafitos que se espalham pelas paredes da cidade, seja em festivais de poesia como esse do qual participei no COC de Araraquara, na música, no cinema brasileiro que renasce, no teatro que não morre nunca, nas pessoas fazendo música, dançando, escrevendo, falando poemas, nos professores inventando novas maneiras de convivência dentro de uma escola.



Enfim, onde quer que nos encontremos ao redor de uma centelha de humanidade, aí estará a poesia. Tem muito mais a ver com a vida do que com as instituições escolares e seus pressupostos, nem sempre verdadeiramente humanos, nem sempre verdadeiramente poéticos.
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