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Contos-->Mingau de Cobra. -- 19/02/2003 - 10:15 (Sérgio Morango) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


O nome do nosso protagonista, talvez nem ele mesmo saiba, no entanto a alcunha, toda a região já ouviu falar... Mingau de Cobra. O cabra era tão fofoqueiro, boateiro, criador de caso, metido na vida alheia, mentiroso, pabuloso, cafifeiro, enrolão, alcagüete, enfim... que o povo diz que ele tomou veneno no lugar de leite quando era bebê, daí o nome Mingau de Cobra. Pois bem, um belo dia (“belo” modo de dizer, tava mais ou menos 45 graus na sombra) Mingau de Cobra doido pra tomar umas meropéias misturada com pó de tranquilino, rezando pra esquecer do calor, quando chegou Ribério, um mulato desses seco dos braços fortes, um tipo bem esquisito, vinha trocando os olhos, quase tendo um treco do calor sufocante que fazia. Despencou ao lado de Mingau de Cobra, que sem perder tempo foi logo dizendo:

-Oh Ribério, já contei a você da vaquejada que eu fui no polo norte?
-Humm!
-Já?
-Hum, hum!
-Hum, hum, quer dizer sim ou não?
-Quer dizer não seu fuleiro, e se quiser contar suas mentiras, conte! Mas num fique me perguntando isso ou aquilo. Que com esse calor eu não respondo nem a sua mãe!
-Pois é, eu fui...

E vem um silêncio que dura quase cinco minutos, quando Ribério perdendo a paciência e a aposta silenciosa que se travou, diz:

-conte logo fuleiro.

E com um sorriso de satisfação, digno dos mentirosos prepotentes que sabem que ninguém resiste a uma fantástica historia, começou:

“foi na época que eu corria prum fazendeiro lá no sul da Bahia, ele plantava cacau e vendia pro mundo todo. E nisso ele tinha um cliente alemão que falava todo enrolado, cacau ele chamava de “cacou”, vrido chamava de vidrrro, e drobá que ele dizia dobrrra!

Teve uma vez que chegou pra Coroné Fasto e pediu um vaqueiro emprestado pra ensinar alemão a puxar boi, Coroné num pensô duas vez e disse, - leve mingau, que esse neguinho se dá bem em tudo quanto é de lugar. – aí eu fui!
Tava nós três indo pro polo norte, eu, o alemão e Dentiquero, que era o meu cavalo. Premero nós pego um “elioscópio”, depois nós pegou um “avinhão” , só voando foi uns dez dia. Dentiquero já tava que não se aguentava naquele avinhão apertado, ruim era a catinga de bosta e mijo, tudo misturado, minha, do alemão, do Dentiquero e do motorista que não parava nem pra dormir.

Quando a gente cheguemo na Alemanha, peguemo um trem pro polo norte, onde ficava a fazenda do alemão, mas os “boi” e as “vaca” num queria saber de correr, era tudo amontuada uma em riba da outra. Por causa do frio, e eu e Dentiquero doido pra puxar um boi, e nada, é quando passa um urso de uns três metros de altura, numa carreira só. Eu rapidamente pensei, - é esse! Disparei atrás do urso, só ouvi o alemão gritando, “volta mingou, volta mingou!”.

Já era tarde demais, Dentiquero só ia parar quando a gente pegasse o urso. Duas horas de corrida, subindo e descendo gelo, Dentiquero pega num pega, chega bem pertinho, eu dou uma descaida passo a mão, Cadê o RABO, urso num tem rabo, dou uma passada de mão na bunda do urso que o bicho se estremece todinho, e antes que eu terminasse de pensar: - esse urso é baitola. – o bicho vira a mão na meu pé-do-uvido, pegando de raspão em Dentiquero. Dirmaiei, acordei já era de noite, o urso tinha levado minha roupa, meu gibão, minhas botas e tudo que tava em cima de Dentiquero. Era eu e ele nu, nu, nu, nuzinho. Eu conhecia tanto Dentiquero que podia ler os pensamentos, ele olhava pra mim como quem dizia: “urso fuleiro, além de fresco é ladrão”.

E eu e ele tremendo de frio, um breu só, medo eu num tinha, mas também num tinha a menor idéia pra onde nós ia, tava mas desorientado que vendedor de cavaco chinês, que passa o dia inteiro com aquele triângulo no pé-do-uvido. Mas como diz o ditado: “o que não tem remédio, ou sara sozinho ou o cabra se lasca”, fomos dormir, tava no décimo quinto sono quando escuto um chocalho de uma cobra, abro metade de um olho e fico esperando ela chegar perto, e quando ela tá bem pertinho, eu enfio a faca bem no meio da cabeça da bicha, com o sopapo ela se enrosca em mim, e eu nela, e é ela me apertando e eu apertando ela, até que a cobra foi morrendo.

Nisso o dia já vinha amanhecendo, o alemão vinha chegando com a políça do polo norte inteira que passaro a noite procurando nós. Quando me viro nú com a cobra na mão, num acreditaro. O alemão me explicou que já fazia dez anos que eles tentavam pegar aquela cobra, que até o Exercío já tinham ido e num conseguiro pegar. Eu sei que virei herói na Alemanha, veio o prefeito do polo norte me dá um abraço, e quando o alemão perguntou o que é que eu queria, respondi na lata: - voltar pra Bahia!

Voltei, fui pra Bahia e depois vim pra cá, depois do frio que eu passei lá eu quero mais é um calorzinho desse. Dentiquero foi que se apaixonou pro uma égua e deve Ter aprendido relinchar em alemão, que ficou por lá mesmo.

Volta aquele silêncio perturbador, até que Ribério que tava quase cochilando diz:

- Eu só num entendi, como é que o urso levô tudo que você tinha e você ainda matou a cobra, tirou a faca de onde?
- Fiz a faca do chifre do teu pai, que eu levei pra lá pra não morrê de saudade da senhora sua Mãe!

Responde Mingau de Cobra, puto da vida por ter deixado uma brecha tão besta, numa mentira que tinha rendido quase a manhã toda.

Ribério em cima da bucha respondi, sem o trabalho de nem abrir os olhos:

- Se levô o chifre, deve ter sido enfiado no fiofó pro urso num ter encontrado.

E Mingau de Cobra não perdoa:

- Levei enfiado no fiofó de Dentiquero, que também tinha muita saudade da sua mãe.

por Sérgio Morango
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