A canção do pássaro do charco
(para T.S. Eliot)
Sigamos, então, tu e eu,
Enquanto te conto que
Neste sagrado chão, dia
Houve em que a farda veio
E tudo podia... Chegando,
E fazendo, e desfazendo,
Mas voltando aos quartéis...
Ficaram, todavia, dois:
Um, apoiado em surrada
Cartilha, vil e anacrônica.;
O outro, cria da Transição,
Vendendo denso bigode,
Co’a lei de Gerson à mão...
Ambos da terra estreita
Do mar, velho rio e sertão...
Nestas noites de insônia,
brumosas e de incertezas,
falou-se de um alvo pássaro,
uma ave pernalta, garça...
Eram as fortes mulheres
em lábios devotos
a dizer: nesse pássaro
temos razão para crer!
Repletas de vaticínios...
Mas sigamos, eu e tu,
Enquanto o que ainda nasce
Já agoniza no leito,
Suando dor e inanição!...
E o gado ossudo mal pasce,
E se lava, a granel,
Na supina autarquia,
Em ar(roubos), vil papel!...
E nos atrai uma angustiante questão...
Oh, não perguntes tu: Qual?
Sigamos em nosso compromisso:
Sigamos... Sombras... Ruas...
Vês macerados banguelas?
Cheiram mal os rumorejos?
Oh, não perguntes, assim:
Quem lhes usurpou o sorriso?...
Sigamos...Rota estrada,
Famélicas vicinais,
De lamas intransponíveis,
Carregadas de amargura,
Amortalhadas de suor!...
E sigamos, e sigamos tu e eu...
E me formulas angustiante
Questão: Acolá, o que se passam?
E com firmeza te respondo:
Nos escritórios e nas casas
do que serviu ao que agoniza,
cosem-se nervos em trapos...
E...Todavia...E Todavia...
A vil triarquia, que ainda pode,
tece o seu intento de poder,
sem, todavia, sondar o tempo...
Enquanto isso, sem encanto:
Um, apoiado em surrada
Cartilha, vil e anacrônica,
E o outro, cria da Transição,
Vendendo denso bigode,
Co’a lei de Gerson à mão,
Juntos, rebuscam o poder!...
Pois da garça, agora, as penas
são cinzas e negrume apenas...
Em suas latejantes têmporas,
Mulheres, sós, redivivas
reacendem as esperanças!
E, sob a firmeza, e altivas,
montam mochilas das crianças!...
Pois da garça, agora, as penas
são cinzas e negrume apenas...
Out/2000.
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