Vagando mundo a fora.
Ana Zélia
Chove num domingo de carnaval.
O mundo aqui tem luzes, tem um monstro sem cabeça que me obedece fielmente ou revoltado,
mas fiel aos meus escritos.
Caminho em veredas estreitas demais, todas elas circundadas de cipós com muito espinho.
Teria me acostumado com eles, convivemos há bastante tempo.
Cortei com terçado afiado os mais perigosos e hoje não tenho forças para destruir
Outros menores, porém muito próximos.
Choro em silêncio lágrimas sem água, aqueles olhos que encantavam perdeu o brilho.
Choro contando as pedras da estrada longa que ainda cruzo,
já sei de cor a quantidade delas e onde se localizam.
Não posso escrever seus nomes porque o mundo desabaria e minha cabeça não suporta seu peso,
tento desviar-me com cuidado para que não me sufoque madrugada a dentro.
Como é difícil ao poeta escurecer as palavras quando elas são mais claras que o dia.
A poesia é a fuga, poeta não pode mentir, mas pode fingir...
Dor que sufoca com palavras ferinas, velhice é peso aos que caminham pra ela.
Causa dó ouvir lamentos de que a eles cabem a desgraça de cuidar,
zelar por quem dedicou a vida inteira a protegê-los.
Melhor parar.
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Manaus, 7.02.2016
Nota da autora- Tem certos dias em que achamos que o mundo mudou e
nós continuamos caminhando no mesmo erro. Sem forças, sem rota, sem rumo,
um barco perdido, meu barco afundou não pode atracar,
cadê meus marujos para ajudar. Manaus, 11 de fevereiro de 2016
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