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cronicas-->Tudo Graças ao Zoião -- 09/07/2000 - 02:25 (José Renato Cação Cambraia) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A campanha do Paraguaçuense neste ano 2000 foi excelente, a melhor da nossa história, junto com a de 95, quando ficou em 8º lugar. Pudemos ver craques de alta qualidade técnica e raça (no nosso estádio, pelo menos). Aritana, Vágner, Aírton, Carlão e Lamónica. Pra mim, estes deram a essência do time. O Éder, prata da casa, deu o tempero caseiro que inflama a torcida (e às vezes até queima a nossa língua). Mas eu queria mesmo é falar do ano passado, afinal, já vai fazer um ano!
Mesmo quem estava lá e viu, até hoje custa a acreditar. E todos aqueles que não viram nunca acreditarão. Pois naquele domingo de julho de 1999, há exatamente um ano, sob esse mesmo sol, naquele espaço da Terra que nós aqui em Paraguaçu chamamos de Estádio Municipal Carlos Affini, aconteceu a mais inacreditável e emocionante partida de futebol de toda a história humana. Pelo menos para mim. Mas desde já aviso que o que aconteceu está na memória e no coração somente de quem viu. Quem não foi ao jogo e gosta de futebol, perdeu. Quem foi ao jogo e resolveu ir embora durante a derrota do Azulão do Vale, ótimo, levou seu pé frio embora. Mas quem ficou, este sim, nunca se arrependerá, e tenho certeza de que ele terá um grande prazer em comemorar o 1º aniversário desta data.
O jogo foi contra o time da glamourosa cidade de Bauru, o Noroeste. Última partida do Campeonato Paulista da Série A-2, do chamado "quadrangular da morte", onde quatro times (Paraguaçuense, Noroeste, Corínthians de Presidente Prudente e Juventus) decidiriam quem iria cair para a série A-3. Devo lembrar que há sete anos estamos na segunda divisão, sempre com muita raça e orgulho, escapando por pouco do rebaixamento.
Naquele ano, o time começou conturbado, pois um "empresário", um tal de Perivan, foi chamado para administrar o time, mas o resultado foi catastrófico. Perder em casa, do Santo André, por 1x5, foi a gota d´água. Principalmente para o destemido torcedor Zoião, que iniciou a expulsão do tal empresário das nossas bandas, xingando-o com muita propriedade. Zóião enxergou bem o grande culpado do iminente fracasso e agiu rapidamente, nos apontando o culpado e liderando o movimento que culminou com a sua expulsão. Se isso não tivesse acontecido, hoje com certeza estaríamos sendo obrigados a ver nosso time jogando com equipes desqualificadas, na série A-3. E se realmente caíssemos, todos sabíamos que seria uma questão de tempo para estarmos no fundo do poço, junto com o Vocem, da vizinha Assis, na última divisão do Campeonato Paulista. Bom, vamos ao jogo.
A situação era bem simples: quem ganhasse, garantiria sua permanência na disputada série A2. O Corínthians de Prudente já havia caído. O time de Bauru tinha a vantagem do empate, mas veio para vencer. O juiz era famoso, Sidrack Marinho, que deveria receber um busto no nosso estádio, devido à sua honestidade e caráter. O jogo começou mal para o Paraguaçuense, que tomou um gol aos 14 minutos do 1º tempo, em jogada armada pelo perigoso Tequila, e não conseguia chegar no ataque. O jogo arrastava-se dramaticamente, (pelo menos para nós, pois em Bauru todos estavam tranquilos), o Azulão estava tímido e com medo.
Éder, o tempero apimentado, entra aos 13 minutos do 2º tempo e o Azulão melhora. Mas o destino ainda preparava um prato picante, mas saboroso para nós, pois aos 16 minutos saía o segundo gol do Noroeste. Estávamos já aos 20 minutos do segundo tempo, desanimados, quase conformados com o descenso. Muitos pés frios deixavam então o estádio, mas nós, os fiéis, os cativos, os sofredores, continuávamos lá, mesmo que fosse para fechar o caixão. Lá se iam sete anos de alegria, sofrimento e muitos palavrões.
A gorda diretoria do Noroeste, sentada ao meu lado nas numeradas, fumava satisfeita quando, mais ou menos aos 25 minutos, um zagueiro do Norusca corta um cruzamento vindo da direita com a mão e o Sidrack apitou: pênalti! A torcida gritou com força quando o inteligente Neto colocou a pelota no fundo das redes. Nada muito preocupante para os bauruenses, que, conforme eu soube depois, nesse momento soltavam rojões e faziam buzinaço nas avenidas da cidade da TV Modelo. Mas, alguns minutos depois, inflamados pela torcida, os bravos jogadores da nossa cidade partiram para cima. Neto, infiltrando-se na área, leva uma falta por trás. Um pênalti muito difícil, desses que os juízes medrosos nunca dão. Mas o Sidrack Marinho mostrou que é um profissional competente e honrado e soprou forte, apontando com firmeza a marca da cal e expulsando o zagueiro Alemão. Mais uma vez, coube ao mesmo Neto balançar as redes do Carlos Affini, para o delírio dos paraguaçuenses. O caldeirão fervia forte, e o prato estava quase pronto.
Não se ouvia nada, somente gritos, palmas, embaralhados com a agitação e a emoção. O nosso time insistia, o Noroeste recuou, tentando agarrar-se à vantagem do empate. A diretoria de Bauru já devia estar suando muito quando o nosso centro-avante, Sandro, aquele que veio com a promessa de fazer "gols de pilha", conforme seu empresário gaúcho anunciara, recebeu uma bola na esquerda, cortou um, dois zagueiros e chutou.
Então o mundo parou. Sandro, o centro-avante que não fazia gols, bateu com perfeição. Todos os pares de olhos do estádio na bola, inclusive os do Zoião. A bola saiu do seu pé direito e todos nós no estádio paramos até de respirar. Júpiter entrou numa conjunção maluca com Mercúrio, talvez. A lua deu uma chacoalhada, talvez. A bola subia, em càmera lenta. As bocas dos diretores do Norusca abriam-se. Seus cigarros caíam. A bola descia. No campo, todos olhavam para o gol. O Sidrack esperava para levar o apito à boca. O goleirão caiu sem nada nas mãos. A rede acolheu a bola, como uma mãe pega o recém nascido pela primeira vez. Viramos.
Soltei um grito tão alto que foi mudo. Não sei se, pelo barulho do estádio, que só não tremia porque é muito pequeno, ou porque realmente perdi a voz. Mal podíamos acreditar, 3 a 2, em quinze minutos. Gritamos sem dó até o final, durante os 4 minutos de acréscimo mais longos do mundo, ao lado da embasbacada diretoria de Bauru. Quando o Sidrack apitou o final do jogo, todos nós nos sentíamos verdadeiros campeões. Houve invasão, e o povo carregou nos ombros o Varley de Carvalho, herói comandante da sangrenta e suada batalha. Os jogadores se abraçavam, o povo comemorava.
Foi aí que vi o Zoião pulando e se jogando em cima da cobertura do banco de reservas do adversário, amassando-a com alegria e raiva. E me lembrei daquele dia em que ele, encarnando a revolta popular, foi o primeiro a levantar seus óculos escuros e gritar impropérios contra o empresário vilão. Por isso ali, naquele dia, ele tinha o direito de fazer o que quisesse, pois ele mesmo, e quem prestou atenção, sabe que só temos o privilégio de ainda estarmos na A2 por sua causa.
E que me desculpem os bauruenses se nós, pequenos paraguaçuenses, colocamos água no chope de Bauru. Mas todos saibam que, apesar de pequena, essa cidade realmente ama o Azulão do Vale, e sempre, mesmo aos 30 do segundo tempo, perdendo de 2 a 0, sempre acredita no time, até o final dos tempos. Ou melhor, do 2º tempo.

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