Poema de mim
(para Carlos Drummond)
Eis que num velho casarão
De uma rua Jaime nomeada,
Com água quente, ágeis mãos,
De um anuro, ouviu ditadas
Estas palavras: Raul, vai
Démodé ser!... E nada mais!...
Era Boa Vista, então, pequena,
E as moçoilas eram virgens,
E os desejos, dissimulados...
Oh, Amazônia! Oh, Amazônia!
Se fosse eu simples begônia,
Por consoante a rima seria...
Oh, Verde Mar, vasta Amazônia,
Quero dizer, mas sem mentir:
Ser démodé me dá alegria!
Vidraças cobrem negociatas:
Áureas canetas plutocráticas
Riscam papéis sem aferir!
Um dia me convocaram
Pra me ensinar o Corcunda
A vil arte da der(rama)!
Em referendo à trama,
Estavam: o Carcomido
E uma Educadora Dama:
No teste fui reprovado!
Ficando, soube, o rei irado
Com tamanha incompetência!...
Oh, de nada adianta esconder:
Minha sina démodé!
Ah, que vontade danada
De tomar uma gelada
Nas águas do Bem-Querer!
Ago/2000 |