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Contos-->Ela, Ana. -- 19/02/2003 - 23:57 (Marcelo Russo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ele está de pé em seu apartamento com a carta de Ana em suas mãos. Ela se fora. Ele, como em algum tipo de premonição, já sabia. Como se tivesse sonhado com aquilo. Igual àquelas sensações de De javu horríveis, pois é, ele sabia. Estava gravado em mente como uma fita de um filme de amor vagabundo. Eles dormiam, a cortina balança levando um raio de lua aos olhos de Ana, ela levanta, vai até o banheiro em passos desordenados de sonolência, então desaba, chora feito criança, de soluçar mesmo, sentada na privada. Cena decadente. Recompõe-se após algumas gramas de desespero num litro de lágrimas. Coloca-se de pé em fracas pernas, caminha até o quarto, apanha papel e caneta, então volta para o banheiro e começa a escrever a carta que dirá algumas verdades sobre sua partida. Verdades duras em palavras doloridas, de fim de amor, pois é, fim de amor. Simplesmente depois de tanto tempo, ela levanta no meio da noite e diz que não ama mais, assim como quem faz café.
A dura Ana não poupou discurso para me derrubar, eu ali parado no meio da sala com a carta de Ana nas mãos, numa mistura de ódio, amor e outros sentimentos que de tão confusos não consigo distinguir, sinto uma vontade de sair pela porta da frente, assim mesmo como estou, sem camisa e com as calças do pijama. Sair correndo e só parar quando as palavras de Ana saírem de minha cabeça a tilintar, de meu coração a morrer pelas beiradas. Em vão seria tentar esquecer Ana, ela já estava marcada em meu ser, era dona. Tinha uso capião de meu coração, de tanto tempo que ali morou, residiu ou só passou. Eu ali parado como se aguardasse a volta de Ana, me volto ao mundo, em toda sua face coberta de escuridão em metade de sua imensidão, penso nos corações que naquele momento estavam sendo desfeitos por pessoas que, como Ana, não tinham a capacidade de enxergar. Sento na cama em movimentos lentos de quem quase já não vive, após horas ali em pé, sem falar e quase sem respirar. Uma fria lágrima que insiste em rolar de meu semblante, molha aos poucos as palavras de Ana em minhas mãos e as dissolvem aos poucos, como se minhas lágrimas a suavizassem, como se algo no mundo pudessem calar as palavras de Ana, não, ninguém, nada era capaz.
A relatividade do tempo é interessante, durante todo aquele tempo que passei ali de pé no meio da sala pensando em Ana, meus sentidos passaram como se alguns minutos tivessem corridos no tempo, porém um dia interiro se passou, e a noite chegava para lavar, os rostos dos apaixonados, menos o meu é claro, e o de Ana. Em lentas passadas que esboçam a pessoa que eu me transformará, vou até o banheiro, olho no espelho e observo o rascunho de homem que havia me tornado, traços sem delíneo e sem expressão. Levanto ao rosto as mãos cobertas de água, na esperança de ver novamente o mundo como ele era antes de Ana partir, porém não adiantava enganar, realmente não era mais o mesmo, mudou, ficou mais cinza, sem contorno. Chego até o quarto novamente, esbarrando em móveis que insistem em atravessar em meu caminho, vou até o armário, e como um boneco de fio, coloco uma roupa, para que talvez um grão de decência volte ao meu ser. Coloco-me diante da porta, mas tenho medo, cada passo é uma ruína para minha alma, que em frangalhos, se contorce e em voz baixa dizendo: não, não, não...
Ao sair de meu apartamento me sinto em outro mundo, a cada metro andado de rua, carros, pessoas e lugares se repetem como em um filme de baixo orçamento, atores ruins e cenários idiotas, um fracasso. Meus sentimentos se abrem, e enxergo o mundo como se fosse o único acordado numa terra de dormentes, pois mentes sem prumo não estariam preparadas para ver. Porque que a maldição de ver num mundo de cegos foi entregue a mim? Porque dentro todos eu. Essa dolorosa visão me deixa com medo, o medo. Um temor que arde por dentro, carboniza a alma, mata aos poucos. Quando poderei sair sem que ele esteja lá, o medo fatal. Este sou eu, sem Ana, sem alma e agora sem nada, esperando a consumição total daquele, aquele descomunal. O medo total.

M.
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