21 anos depois... fazendo as contas
Autor desconhecido
Imagine que, em 1995, você tinha duas novíssimas notas de um real. Uma delas você converteu em um dólar, e aplicou o dinheiro em treasuries (títulos do tesouro) norte americano. Com a outra, você comprou títulos do tesouro nacional. Seu irmão, um pouco menos esclarecido do que você, também dispunha da mesma quantia, e fez o mesmo: converteu uma das notas em dólar e manteve a outra em moeda nacional, mas enterrou as duas no quintal de casa
Exatos 21 anos depois, seu irmão vai lá e desenterra. Sem grandes surpresas, o dólar dele segue valendo um dólar e o real, cerca de 25 centavos da moeda americana. E assim, ele concluiu: deveria ter convertido tudo em dólar.
Já você, após esses 21 anos, decide recuperar seu dólar investido e resgata a aplicação. Saca seus recursos corrigidos pelo tesouro americano (Effective Federal Funds Rate) e recebe do banco US$ 1,75. Em seguida você vai no Tesouro Direto, e (hipoteticamente, já que não estamos descontando impostos) saca o velho real aplicado em 1995 e atualizado pela SELIC. Para sua surpresa, aquele único real (pasme!) virou R$ 30,31. Estimando que o dólar ande pela faixa dos R$ 4, os US $ 1,75 converte-se em R$ 7,00, o que lhe faz concluir, e sem medo de errar que, mesmo com o real depreciado, diferentemente do seu irmão que enterrou o dinheiro, você deveria ter mantido tudo em moeda nacional.
O que tudo isso significa é que, infelizmente, nosso governo paga juros altíssimos se comparado ao governo americano. São 2.331% que o nosso governo bancou a mais que os americanos nesses 21 anos. E isso considerada a recente desvalorização do Real. Se ignorarmos a disparidade entre as moedas, pagamos um juro acumulado que é 39 vezes maior do que o juro que se paga por lá. Para compensar a falta de confiança na nossa moeda, o Banco Central brasileiro (opta, ou) vê-se obrigado a oferecer taxas de juros (reais) que notoriamente são as mais altas do mundo. Essa politica monetária favorece os rentistas, que lucram sem expor seus ativos à economia real. As incertezas, que desfavorecem a economia brasileira, decorrem da instabilidade da economia, da insegurança jurídica, gastos públicos descontrolados e outros fatores que contribuem para o chamado risco Brasil. Ao contrário do que se prega, esses fatores são todos endógenos... O que quer dizer que somos vítimas apenas de nós mesmos. Pois, se existe uma coisa que o capital não tem, é pátria, ideologia ou preconceito. O comportamento da moeda demonstra o quanto somos penalizados pela incompetência na gestão pública, e de como tudo isso, além de perpetuar a pobreza, exacerba a desigualdade. De modo paliativo, os bancos, seguradoras e demais instituições financeiras nacionais são obrigados a devolver 45% dos seus lucros (sendo 25% de Imposto de Renda e 20% de Contribuição sobre o Lucro Líquido) como impostos. Com os recursos provenientes desses impostos, o Estado consegue redistribuir um pouco da renda para a faixa mais baixa, buscando compensar o desajuste que ele mesmo promoveu. Mas a classe produtiva, espremida entre as duas bandas, permanecerá achatada e incapaz de alavancar o tão desejado crescimento que o país necessita. O Resultado é esse nosso conhecido modelo que promove a estagnação e o patrimonialismo. Por fim, sem nos atermos as verdadeiras causas das nossas mazelas, seremos eternos fregueses dos discursos oportunistas, e reféns das esmolas que nos dão e que é apenas uma mísera fração de tudo que nos tiram, incluso ai nosso potencial de crescimento. É por tudo isso que a responsabilidade fiscal é tão importante. Pois, quando o assunto é politica fiscal e monetária, ironicamente, os que mais pagam, são os que menos tem.
autor desconhecido - referência/fonte: www.pontocritico.com (25/02/16)
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