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Contos-->palavraprecipício -- 21/02/2003 - 20:44 (PEDRO VIANNA NETO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Palavraprecipício

“Un pion pourrait se faire un bagage littéraire, en disant le contraire de ce qu’ont dit les poètes de ce siècle. Il remplacerait leurs affirmations par des négations.”
Isidore Ducasse


Não sei ao certo de que buracos saíram estas noites – estas que agora vagam por aí, como um vírus, a apunhalar-me os nervos desta maneira.

Conheci ontem uma nova vileza secreta. Os paulistas dizem que devemos comer pizza com cerveja. Os paulistas que se fodam.

Tenho um velho sonho persistente, de uma mordida seca e larga, de uma mão miúda, como a de minha mãe, que me embala e espanca, jogando-me dentro de uma rede encardida, coberta por um mosqueteiro.

Posso ver teus olhos outra vez.

Guardo uma cicatriz ainda desconhecida. Nova. Talvez feita de falta de trabalho ou de tempo. Talvez uma tristeza de quem já não consegue ser feliz.

Sofrer não é muito diferente de fugir. Seria uma merda se um desconsolo ou uma coisa pudesse ser adiada até o desaparecimento.

É fácil ser influenciado pela morte.

Fico sempre no mesmo canto, com vagabundas à frente e taxistas passando. E penso sempre o mesmo, se existirá a ausência de movimento, se não seria melhor ficar em casa mais tempo, mais vezes.

Claro que já não tenho mais sangue no coração. É uma das mil condições que nos fazem calar sobre o que nos cerca. Não é preciso estar alegre para descrever seja o que for.

As pessoas não são tristes, mas sofrem de uma doença que é a idéia da infelicidade. Sem quê. Sem quem. Quando serei infeliz? Porquê? Todos perguntam porquê.

Meus amigos têm medo que eu não morra, eu que sempre exercitei a covardia de fazer o bem a alguém que eu não amasse. Às vezes penso que não sofremos. Deve haver o dia internacional da indiferença, do tédio, da desgraça que lembra a Deus.

É fácil perder toda a dignidade. Todos nos levam a mal. Nunca parecemos necessitados.

Quando faz sol, as ruas vestem-se de pessoas que evitam o sol com as mãos abertas.

O sol é triste. Parece uma palavra caindo na água. Faz-me esquecer minhas mulheres.

Quando faz sol, o meu coração é meu. Gostaria de não ter coração – que outra pessoa qualquer, que não eu o tivesse.

As coisas não acontecem ao mesmo tempo. O mundo junta os pedaços, junta as peças embaixo dos nossos pés.

Sempre sabemos quando é a primeira vez que nos vemos. A minha juventude torna-me audacioso. O sol parou. As caras desconhecidas enchem-me o coração. Projeto-me no futuro esquecendo-me delas.

Saio de um motel para beber cerveja. Estou mal disposto como quem está preste a nascer.

Estamos todos fodidos. Mas não faz mal. Sonhamos todos com uma desorientação precisa. É isso que nos abala. É isso que nos mantém.

É preciso enxergar. Poucas pessoas viveram. Sabe-se bem porquê. Ninguém leva o nome como se fosse a primeira casa aonde nunca podemos voltar. Pedro, Mauricio, Pereira. Valem todos os nomes como quem tem o Cão.

Alguém nos abandona nisto. O dia sobe como uma pedra. As pessoas aparecem como se não fossem para casa. Não temos maneira de saber o que está errado.





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