Advento
~Valéria Tarelho~
Vens, às vezes, calmaria,
não movendo palha,
circulando: silente e ronceira,
a soprar em minha lavra
farfalhas de palavras
vazias de sentido.
Vens, por vezes, rajada:
célere, transitória,
breves lufadas melancólicas,
arrastando-me árduos
fardos de feno.
Vens, sempre, diáfana,
ao meu encalço
e, embora apenas sinta
o cingir do teu abraço,
reconheço-te, decerto,
não obstante a transparência
com a qual me envolves.
Vens, também, impetuosa,
arrebatando-me o sono
e, com violência, me revolves
espiralando furacões
que me agitam o âmago:
o cerne onde habitam
minhas emoções.
Vens, poesia, e me levas
ao sabor de teus ventos:
velas soltas, mar de letras adentro,
de carona nas cristas das vagas.;
amazona, segura nas crinas das rimas,
cavalgando, incólume, o coração das matas.;
cata-vento, cuja grimpa
aponta em tua direção.;
poeta, apenas, (co)movida
por tua energia plena,
adorando-te como a um nume.
Vens, ainda que efêmera
e, a exemplo do vento,
me acenas, de passagem,
com teu canto concento.
Vens e, por si,
pouco importa tua origem,
o viver a tua espera
para prosseguir viagem,
vale a pena.
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