Sou eu a sobrevivente
De uma casa caída
Depois de ouvir o sermão
Foi que encontrei a saída
Falaram tanto aqueles
Estranhas as falas deles
Mortos falando da vida
Sou eu a sobrevivente
Da casa incendiada
Quando entendi seu fogo
Meu pé já era estrada
Diziam que eram divinos
Que entendiam os destinos
Palavra contraditada
Sou eu a sobrevivente
Sozinha na minha jornada
Ainda ouço que clamam
Lamentos de alma penada
Que oram sempre o mesmo
Repetindo anos a esmo
Resposta é sempre nada
Sou eu a sobrevivente
Ovelha fora do curral
Ouvi a voz do pastor
Que me chamou afinal
Falou dos golpes escuros
Que há por dentro dos muros
E me livrou do punhal
Sou eu a sobrevivente
De cem eu sou a perdida
Noventa e nove não sabem
Só uma recebe vida
Nem sabem que são deixadas
Que foram abandonadas
Que ele é a própria saída
Sou eu a sobrevivente
Livre das casas de morte
Sou a moeda perdida
A fraca hoje é a forte
Que um dia aborrecida
Perdi-me pra casa caída
Perder-me foi minha sorte