A intenção de Marinete era chegar logo ao centro da cidade. Havia uma passeata de protesto contra o governo Bush, organizada por diversos segmentos sociais que tinham consciência do fato que os norte-americanos desejavam tão somente tomar conta dos campos de petróleo do Oriente Médio.
Marinete era menos política e mais alegre, e esperava encontrar um jogador de futebol profissional que normalmente lutava por causas sociais na periferia.
Sua atitude política no caso era arranjar um namorado e mais nada. Se desse certo conviveria com o atleta durante alguns dias, quem sabe meses, enquanto não decidia o que fazer da vida.
Foi pensando no jogador que passou batom, escolheu uma blusa justa e branca, deixou de usar soutien e se encaixou num shortinho curto, que ressaltava seu bumbum arrebitado. Achou que estava um pouco tímida para a ocasião, mas depois de colocar uma bandana com o retrato de Sadam Hussein se sentiu mais segura.
Restava a dúvida de que meio de transporte utilizaria para chegar ao local do manifesto. Pensou nas dificuldades de estacionar o carro, um galáxie velho que gastava mais tempo em achar espaço do que em levá-la a qualquer lugar.
Optou pela moto, onde poderia desfrutar do frescor do vento na tarde quente de verão. E chamaria a atenção por onde passasse.
A moto era o veículo certo. Foi sobre ela que jogou seu corpo, pensando no jogador de futebol e nas possíveis noites de amor no bairro da elite. Tentaria estragar o casamento do atleta para ficar bem uns tempos.
A distância, relativamente pequena, crescia com o movimento de domingo a tarde, quando muita gente voltava do litoral santista.
A moto deslizou entre os veículos e logo estava próxima da praça do manifesto. Ligeiro estacionou a moto e encontrou manifestantes pelo caminho. Foi beijando todo mundo, em sinal de paz.
Mais adiante uma chuva molhou seu corpo, deixando as roupas transparentes. Pela paz continuou no protesto.
O jogador não conseguiu visualiza-la por um instante sequer, mas Marinete conseguiu estimular a paz entre os povos, e conseguiu arranjar um amante árabe e outro judeu durante muitos meses. Talvez por causa da roupa, talvez pela chuva, ou pelo amor que deu aos homens durante o protesto.