Naquela tarde o mundo parou. O céu desapareceu sob espessas nuvens de lágrimas que brotaram dos olhos de Evinha. Já traumatizada pelo nome tradicional, ainda foi contemplada com o diminutivo na certidão de nascimento. Coisas de dona Petúnia, sua avó materna.
O céu turvo e ameaçando cair sobre sua cabeça levaram-na ao chão quando presenciou o fato cruel e deparou com o corpo de Waldemar na calçada, próximo do coqueiral.
Tudo começou bem antes, talvez por volta de quarta-feira. Waldemar saltitava feliz pela sala quando começou um intervalo comercial e surgiu um bolo cheio de ingredientes maravilhosos.
Waldemar prestou atenção, saiu saltitando e lambendo os beiços. Enviou mil olhares para Evinha, que assistia televisão enfastiada. A faceirice de Waldemar deixou-a curiosa.
No dia seguinte a jovem percebeu Waldemar rondando os coqueiros. Parava, olhava para o alto e pulava.
Entendeu que desejava saborear os cocos e talvez doces. Deu meia volta e deixou Waldemar no quintal, a namorar os frutos.
Evinha tinha que ajudar os pais em tarefas domésticas, então todo tempo era precioso demais para perder com bobagens. Além de tudo havia um extenso trabalho de trigonometria para entregar na aula noturna.
O professor castigou-a com trabalhos para compensar as faltas consecutivas da semana.
Ainda bem que ligou para Marirruana, sua melhor amiga, e pode se informar da tarefa.
Evinha lavou roupas, louça, limpou o banheiro e voltou ao quintal. Encontrou Waldemar saltitando de novo. Jogou-lhe um bagaço de laranja e se afastou.
No meio da tarde Zé Pretinho, um vizinho curioso, viu Waldemar na ponta dos pés olhando para o coqueiro maior e percebeu sua intenção. Subiu na árvore para colher frutos e agradar Waldemar.
Mexeu num galho e derrubou um coco. Exatamente na cabeça do Waldemar, que nem suspirou.
Evinha foi avisada. Veio correndo para o quintal e encontrou seu cachorrinho abatido, com olhos arregalados, sem vida.
Zé Pretinho ficou sem graça. Matou Waldemar quando quis agradar a jovem. Evinha chorou até desmaiar. Nunca mais viu o bichinho saltitante.