OI,
Aqui está para seu conhecimento prévio meu artigo quinzenal para a página de Opinião do Estadão. Bom dia, inté
É cada um por si e Deus só por alguns
José Nêumanne
Fiasco albanês, um prócer irrelevante e um suspeito na polícia comandam a Câmara
Ao renunciar à presidência da Câmara dos Deputados na semana passada, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) foi de uma precisão cirúrgica quando desqualificou a atual administração da Casa ao empregar a expressão “interinidade bizarra”. Com o morteiro disparado na direção do primeiro sucessor do presidente (também interino) da República, Michel Temer, o ex-ocupante do poderoso e honorável posto, “sem querer querendo”, como rezava o mote do protagonista de um dos maiores sucessos da televisão brasileira, o mexicano Chaves, definiu a esdrúxula situação sob a qual vivemos todos nesta atual barafunda.
Esta nossa República é tudo menos honrada, serena e lógica. Os três Poderes atuam como se vivessem em mixórdia e intromissão permanentes, um nos outros e vice-versa, chamando o nefasto resultado geral, cínica e equivocadamente, de “autonomia”. Esta impôs-se sobre a “harmonia” na base do braço de ferro e do berro mais alto. Nas atuais circunstâncias e há bastante tempo, o lema “ordem e progresso” da Bandeira Nacional não descreve a desordem vigente, a ponto de ter sido substituído por “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. Em relação a esse recado generalizado à cidadania, o povo, impotente, fica na condição do “salve-se quem puder” e o resto que se dane.
De acordo com chamada na primeira página deste jornal, domingo, o segundo maior fornecedor da campanha vitoriosa da reeleição da presidente afastada, Dilma Rousseff, Carlos Augusto Cortegoso – conhecido como “garçom do Lula”, por tê-lo servido nos anos de liderança sindical no Demarchi, famoso restaurante no circuito do frango com polenta em São Bernardo do Campo – movimentou quase R$ 50 milhões naquele pleito. Ou seja, cinco vezes o valor que declarou. Assim a chapa Dilma-Temer teria cometido, conforme relatório da Receita Federal, duplo crime: foi financiada por caixa 2 e, ao declarar que as doações eram legais, lavou o dinheiro sujo na máquina da Justiça Eleitoral. Um desplante!
Caso o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) constate o duplo delito na investigação que promove sobre a validade dos votos sufragados em 2014, terá de mandar presidente e vice entregarem o poder ao presidente da Câmara dos Deputados, seja ele quem for. Este terá 90 dias para convocar eleição direta para um mandato-tampão até dezembro de 2018, quando, então, já terá sido eleito seu substituto constitucional. Em sufrágio direto e universal, se a disputa for este ano, antes de ser completada a primeira metade do mandato dado como usurpado por abuso de poder econômico (e com uso de dinheiro público, o que é mais grave). Ou em eleição indireta, pelo Congresso, se a decisão for posterior.
Ocorrendo isso, em qualquer das hipóteses, falirá a lorota do “impeachment sem crime é golpe”, que mantém o fio inconsútil do que ainda resta do mandato de Dilma e do PT. Seu substituto constitucional, Michel Temer, eleito vice também de forma supostamente ilícita, sucumbirá junto. E levará no féretro a equipe econômica mais equipada para tirar o Brasil da crise e reconstruir a credibilidade do Estado. A Nação ficará, na hipótese, a reboque de algum aventureiro que emergir das urnas ou do painel do plenário parlamentar, ambos eletrônicos. Não será algo a se chamar de “o melhor dos mundos”. Muito ao contrário!
A eleição direta, única capaz de refletir a vontade popular, é volátil a ponto de ter inflado, de um lado, Jânio, Collor e Dilma, produtos da paixão popular por aventureiros que se fingem de faxineiros contra a corrupção e terminam enredados nos crimes que denunciavam. E, de outro, Fernando Henrique e Lula, representantes de grupos políticos consolidados que terminaram se dissolvendo numa cultura de ácido implacável que derrete idolatrias e reputações. O tucano foi abatido pela vaidade do segundo mandato. O petista, pela ilusão do fogo fátuo da fortuna fácil.
O esfarelamento dos partidos, flagrado na disputa da presidência da Câmara por meio ano e meio mês, desmoraliza utopias como o parlamentarismo e suas variações “semi”. E revela o pragmatismo de chiqueiro na disputa pela proximidade da gamela em que é servida a lavagem. O baixo clero que elevou Cunha ao cargo que lhe permitiu abrir o impeachment da desafeta de última hora, Dilma, logo se desfez diante da evidente ausência de um mínimo de espírito público nele.
Waldir Maranhão, eleito vice na chapa vencedora por 80% dos pares, muitos dos quais certamente agora fingem tapar o nariz, entregou-se à farra do poder inesperado, participando de farsas tão absurdas como a tentativa de interromper o impeachment no Senado apenas pela vontade de seu líder, Flávio Dino (PC do B), governador do Maranhão. Ou seja, pelo projeto político de entregar o destino de uma das dez maiores economias do mundo à ditadura grotesca que produziu a excrescência albanesa, retrato de miséria política e econômica num continente abastado e plenamente democrático.
Para completar, o bizarro intendente interino tem mais dois diabos a servir. De um lado, Rodrigo Maia (DEM), herdeiro de César Maia, hoje sem relevância na política do próprio Estado, o Rio. E, de outro, pai Lulinha, cujo impávido colosso desmoronou sob sua imagem corroída por várias investigações policiais e jurídicas. Representante de um Estado sem peso político e econômico e incapaz de conduzir sessões da Câmara até o fim, Maranhão balança entre um prócer irrelevante e outro investigado pela Policia Federal, pelo Ministério Público Federal e Estadual de São Paulo, sob a égide da Justiça Federal no Paraná e da Estadual em São Paulo. A bizarria do interino desfila entre o baile da saudade e a medalha olímpica dos saltos orçamentais.
A hipotenusa do triângulo é o Judiciário do “cada um por si e Deus só por alguns”, regime no qual a paridade de todos é submetida a privilégios que a promiscuidade assegura.
Jornalista, poeta e escritor
(Publicado na Pag.A2 do Estado de S. Paulo da quarta-feira 13 de julho de 2016)
Como bônus vão dois comentários na Rádio Estadão, hoje cedo e ontem, à noitinha:
A fragmentação da Câmara dos Deputados na eleição do sucessor de Eduardo Cunha é uma demonstração que, apesar da Operação Lava Jato e de outras iniciativas dos juízes federais de primeira instância, a democracia representativa no Brasil não liga a mínima para a consciência cívica do cidadão e continua submetida exclusiva ao apetite fisiológico de seus ditos representantes. As quebras sucessivas da impunidade geral reinante satisfazem ao clamor das massas, mas não detém o apetite voraz dos com mandatos.
(Comentário no Estadão no Ar da Rádio Estadão – FM 92,9) na terça-feira 12 de julho de 2016, às 7h10m)
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http://radio.estadao.com.br/audios/detalhe/radio-estadao,eleicao-da-presidencia-da-camara-e-as-possiveis-manobras-de-eduardo-cunha-sao-temas-da-coluna-direto-ao-assunto,605683
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http://politica.estadao.com.br/blogs/neumanne/cada-um-por-si-e-pelos-seus/
Até agora a Nação não foi informada por que cargas d’água o presidente do STF, Ricardo Lewandowski, que usurpou a condição de árbitro-chefe do processo de impeachment de Dilma Rousseff no Senado Federal, resolveu, sem consultar ninguém, que o julgamento final da afastada só pode ser feito depois da Olimpíada do Rio. Se o precedente não foi aberto no processo contra Collor, realizado sem atropelos e normalmente, em que jurisprudência ele encontrou inspiração para sua esdrúxula decisão. Ao contrário dele, a grande maioria dos cidadãos brasileiros quer que madama seja julgada – e condenada – o quanto antes.
(Comentário no Direto da Redação 3 da Rádio Estadão – FM 92,9 – na segunda-feira 11 de julho de 2016, às 18 horas)
Para ouvir clique no link abaixo e, aberto o site da emissora, duas vezes no play sob o anuncio em azul
http://radio.estadao.com.br/audios/detalhe/radio-estadao,calendario-do-processo-de-impeachment-de-dilma-rousseff-e-tema-da-coluna-direto-ao-assunto,605502
Para ouvir no Blog do Nêumanne, Política, Estadão, clique no link abaixo:
http://politica.estadao.com.br/blogs/neumanne/o-impeachment-e-a-olimpiada/
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1) Mídia Sem Máscara
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2) Piracema II - Nadando contra a corrente
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Wikipédia do Terrorismo no Brasil
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MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964
Uma seleção de artigos. Imperdível!
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