Usina de Letras
Usina de Letras
112 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62231 )

Cartas ( 21334)

Contos (13263)

Cordel (10450)

Cronicas (22537)

Discursos (3239)

Ensaios - (10367)

Erótico (13570)

Frases (50628)

Humor (20031)

Infantil (5434)

Infanto Juvenil (4768)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140805)

Redação (3306)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6190)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Teses_Monologos-->Um Seco Delírio -- 22/08/2002 - 00:28 (Gustavo Aragão Cardoso) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


UM SECO DELÍRIO


Um sertanejo com sua enxada nos ombros se aproxima de um arbusto, ofegante, quase sem forças e delira:

Que céu maravioso! Óio pras nuvens sob este sol escadante e imagino quantos seres iguais a eu sofre por não ter onde repousar a sua sombra; –diz meio tonto – arbusto, gaios seco, cheio de espinho; solo cheio de peda, me alembram a meninice de muitos que agüentam os martírios que a vida apregoa, a areia seca, grossa, parece querer sugar toda a felicidade, toda vida existente por aqui, parece querer sugar vorazmente o pouco de calmaria que se tem neste lugar! A água não se vê mais, os animais se foram, as árvores, ...as árvores ...a tempos não se nota uma cor sequer! A fome corrói nossos estômos, corrói nossa alma, vai acabando a cada dia que passa, ainda mais, o nosso alento – indigna-se – Que vida é esta? Somos obrigados, meu Deus, a comer foias verde, pamas, a tumar água barrenta, salobra... Aonde estão nossos direitos ? Eles parecem ser miragens, a gente vemos eles, mas jamais conseguiremos alcançar eles. A dignidade, os home, se perderam dela... Quero meus fios, ...minha muié, minha dignidade, meu direito a vida... Estes ratos engravatados nos roubaram toda a esperança, a fé, a abonança, nos roubaram tudo e nos deixaram o nada. Ah! Mas este nada é muita coisa pros óios; ...pros óios dos que não querem ver, dos que não
querem perceber que mataram e que continuam matando cada um de nóis. Oh! Vida injusta, meu Deus! Me acuda! Nasci para trabaiar e hoje morro por não ter trabaio. Vejo os meus fios chorarem me pedindo um prato de comida... Mas não tenho pra dar, as lágrimas correm por nossos rostos e me sinto profundamente amargo, angustiado, infiliz, esquecido, perdido... Quero viver , quero viver! – sente uma dor no peito – Sou um homem de fibra, agüento vários dias lavrando terras, quero trabaiar, quero voltar a viver, a pensar, a sonhar, não agüento mais este futuro incerto, não agüento ver o desespero da minha fia que acabou de nascer... Só de me alembrar do rostinho dela, me corta o coração. Minha muié coloca minha fia na teta, ela suga, suga, mama e quase não sai o leite. Não agüento mais esta vida desgramada de amarguras, esta vida , miserável sem sentido – cai de joelhos de mãos para o alto – me ajuda senhor a enfrentar ela, mas me entrego em suas mãos! Sou apenas um nordestino coitado. A fome me corrói por dento, já estou sem agüentar ficar de pé – cai sem forças e murmura, ofegante, sentindo dores no peito – tremo que nem vara verde, não sei o que esta acontecendo comigo, não posso (PAUSA) Não posso (PAUSA) Não agüento ma...mais, estou me acabando junto com minha terra, junto com os açudes, junto com... – respira com dificuldades – o céu está girando, os morros estão girando , não vou dormir, não posso dormir, a vida é longa, é bela, mas acho que não vou agüentar, meus fios, minhas plantações, ...minha muié, cadê eles? Não posso viver sem eles, eles são o meu sustento, minha vida, meu alento. Esses rato engravatados um dia hão de pagar! Um dia serei rico, um gran-de senhor, dono de terras, de muitas terras no Sergipe, minha enxada está forte vai agüentar o roçado intenso durante ...muitos a-nos. Jamais vou desistir, não posso desistir – já moribundo – ...minha família me espera nas carroças que vai nos levar rumo a...(dá um último suspiro e cai morto, deixando de lado a sua enxada e seu chapéu de palhas ).
(Gustavo Aragão Cardoso)
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui