Correio Braziliense
30/08/2016
Uma vida de sacrifícios
Roberto Duailibi
Muita gente não imagina como é o dia a dia de um militar das Forças Armadas.
Poucos, nem sequer sabem que ao ingressar na carreira passam a sujeitar-se
às normas rígidas de disciplina, por regimes de horário que exigem dedicação
total. Ou seja, o militar sabe que hora inicia o serviço, mas não sabe quando
termina. Além disso, não cabe aos militares escolherem as praças onde
servirão. São destacados para a Região Amazônica, para o sul do país, para a
Região Pantaneira. São enviados a missões de paz, a atividades de
manutenção da ordem pública, como ocorreu recentemente em Natal, no Rio
Grande do Norte, e nas Olimpíadas, no Rio de Janeiro, onde as Forças
Armadas atuaram de forma brilhante.
A atividade militar não pergunta a seus membros se querem ou não a
transferência. É comum encontrar alguém que já tenha passado por mais de 20
mudanças. Essas, representam abdicar de amigos, de vínculos familiares, de
instituições de ensino, de serviços aos quais se habituaram, shoppings etc...
Significa montar e desmontar casas todo o tempo, significa refazer relações e
viver sempre como se não houvesse uma história construída. Como se sempre
fosse preciso recomeçar do zero. É uma vida de rupturas e de sacrifícios
pessoais. Se para um profissional das armas esses movimentos são difíceis,
imaginem para seus filhos e esposas? Como explicar à família a convivência
longe de avós, primos, namorados?
Recentemente, o dr. Sérgio da Silva Mendes, do Tribunal de Contas da União
(TCU), fez um longo trabalho, de fôlego e dedicação, para tratar do regime
constitucional dos militares, para situá-los historicamente, para falar de suas
relações com o Estado, da forma como vão para a reserva, dos seus direitos e
deveres. E saibam que há muito mais deveres. Vejam essas ações de
segurança pública, todas de alto risco, num país com tanta violência como é o
Brasil. Na defesa do território nacional, os militares sabem que colocam em
risco as suas vidas e, muitas vezes, saem para a missão, não sabendo se
haverá o retorno ao convívio familiar.
De todo modo, levando em conta que o risco é inerente à profissão, também é
verdade que não pode, por todas essas características e responsabilidades,
ser entendido no contexto econômico como um servidor público ou um
trabalhador convencional. Justamente por conta dessas peculiaridades, um
militar das Forças Armadas não pode, sob nenhuma hipótese, receber essa
comparação. Historicamente, os militares devotaram seus melhores anos à
defesa do Estado, da soberania, dos símbolos pátrios, dos limites territoriais.
Nesse sentido, sempre exerceram suas funções com abnegação e
despojamento, na medida em que em muitas regiões não há outros órgãos
governamentais a ocupar espaços tão remotos e inóspitos como fazem as
nossas Forças Armadas.
Há destacamentos na fronteira em muito menor número do que seria desejável,
mas os que atuam o fazem no pleno de suas responsabilidades, operam com
esmero, realizam um papel social que muitas vezes o próprio governo relega a
eles de forma pouco regulamentar. Muitas vezes fazem coisas sem que haja
nenhum suporte legal a respeito, pelo simples prazer de servir, de dar a mão
ao cidadão. Para eles, é dever, por sua ética e honra militares. Nesses postos
avançados aprenderam a viver isolados, a conviver com tribos indígenas e com
povos que habitam nossas fronteiras. Vivem com toda dificuldade, passam
privações. Estão longe do acesso às coisas, ao entretenimento. Coíbem o
tráfico, mantêm a ordem. Nesses postos há várias situações nas quais nem
prefeitos, nem políticos se atrevem a atuar. Mas lá está o Exército, com seus
militares e suas famílias.
Esses exemplos posso descrever porque vi de perto. E não pensem que ao
visitar esses destacamentos se ouve reclamações ou mazelas. Ao contrário, a
carreira militar dá a todos a nobreza da farda, a honra de servir, que só a
caserna e aqueles verdadeiramente vocacionados podem compreender. Fico
muito triste ao ouvir críticas aos militares. Posso falar isso de peito aberto,
porque, como profissional nos anos 1970, fui vítima de censura no meu
trabalho e perseguido. Mas também tive a oportunidade de ver o fim dessa
censura que tanto prejuízo causou à imagem do Exército. Deixemos o passado
e seus erros de parte a parte no passado. Esse sempre foi o espírito
pacificador da lei. Prefiro pensar nas novas gerações que compõem a nossa
tropa, gente consciente, moderna, humana, que não se nega a atender as
necessidades das comunidades que os cercam.
Por seu preparo e obstinação, os nossos militares são respeitados, têm
reputação internacional. Atuam sem fins de semana, sem recebimentos de
horas extras, sem planos de saúde. Ser militar chega a ser um misto de
sacrifício e aventura. Logo, não lhes cabe um regime previdenciário aos moldes
ou nem sequer semelhante às demais categorias de trabalhadores. As
tentativas de incluir os militares como meio de elevar as receitas de um sistema
em mutação, portanto, são totalmente descabidas. Os militares são
constitucionalmente responsabilidade do Estado, são uma espécie de
patrimônio permanente do Brasil. Quantas pessoas, jovens, se disporiam a
ingressar numa carreira cheia de limitações, privações e sacrifícios? É assim
que vejo a necessidade de manter o status quo dos militares, só assim
seguiremos atraindo pessoas talentosas e vocacionadas à carreira e
assegurando aos demais um regime que, ainda que não seja o mais justo, é o
que mantém a ordem e a paz em nosso país.
Leia os textos de Félix Maier acessando:
1) Mídia Sem Máscara
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2) Piracema II - Nadando contra a corrente
http://felixmaier1950.blogspot.com.br/
Conheça a história do terrorismo no Brasil acessando:
Wikipédia do Terrorismo no Brasil
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MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964
Uma seleção de artigos. Imperdível!
http://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=12991&cat=Ensaios e
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