O Antagonista
04 de Setembro de 2016
"Temer tem 30% de chance de dar certo"
Para Monica De Bolle, risco de Temer é ser tão conciliador, que nenhuma reforma relevante seja feita
Por Márcio Juliboni
A economista Monica De Bolle não está nem um pouco otimista com a efetivação de Temer como presidente. Não, não é porque ela é uma petista aguerrida.
Pesquisadora do Peterson Institute for International Economics e professora adjunta da John Hopkins University, De Bolle está preocupada com dois pontos. O primeiro é o estilo conciliador de Temer, que pode torná-lo refém de um Congresso ávido por barganhas políticas, no momento em que o Brasil mais precisa de reformas duras, mas vitais, para o futuro.
O segundo é o excesso de otimismo da equipe econômica liderada por Meirelles. Segundo ela, o ministro da Fazenda pode cometer o mesmo erro de seus antecessores: sustentar suas propostas sempre com base no melhor cenário, e ver seu esforço evaporar diante da realidade de números mais fracos. Confira, a seguir, os principais trechos da conversa com O Financista:
O Financista: Em seu cenário, qual é a probabilidade de Temer ser bem-sucedido?
Monica De Bolle: Considero a probabilidade relativamente baixa, por certo menor do que 30%. As pressões que deverá enfrentar, as demonstrações que já deu de não ser um "político de confronto", mas de consenso, e as duras medidas econômicas conspiram contra o sucesso. O que seria o sucesso? A meu ver, seria emplacar reformas que mudem a perspectiva fiscal de médio prazo, criando o ambiente de maior confiança para que os investimentos voltem aos poucos. O plano de privatização a ser anunciado depende bastante dessas reformas: caso não venham, as chances de os investidores terem apetite para comprar ativos públicos ou participar de concessões são reduzidas.
O Financista: O primeiro grande teste de Temer será a aprovação da PEC do teto de gastos. Ela realmente ajudará no ajuste fiscal?
De Bolle: É difícil saber. Caso os gastos com saúde e educação sejam realmente excluídos, esvazia-se muito a capacidade de o teto ter a força restritiva que precisa ter para fazer alguma diferença. Além disso, há que se ver como serão tratados os mecanismos de indexação que hoje reajustam despesas em várias áreas e limitam a execução do orçamento. Trata-se de uma discussão complicada em ambiente ainda muito carregado, por envolver perdas para a população e a percepção de que o governo está retirando algo sem garantir a melhoria de nada, ao menos no futuro imediato.
O Financista: Meirelles anunciou, ontem, o projeto orçamentário de 2017. Sua premissa básica é que a economia crescerá 1,6% e, por isso, a recuperação de receitas dispensará o aumento de impostos. Você concorda com essa premissa?
De Bolle: Em uma palavra? Não. Acho que Meirelles periga cometer os mesmos erros que equipes anteriores cometeram: jogar a projeção de crescimento para cima, esperando que o melhor cenário se materialize e ajude a concretizar a meta fiscal. Caso algo dê errado, as chances de que a meta não seja cumprida estão diretamente atreladas ao otimismo excessivo em relação ao crescimento da economia. De onde virá tal crescimento? Do consumo, abalado pela alta do desemprego e pela queda da renda? Do investimento, cuja recuperação está longe de garantida? Do setor externo e de nossos produtos pouco competitivos?
O Financista: Você sente que os estrangeiros estão interessados no Brasil?
De Bolle: Já estiveram mais interessados há alguns meses, quando o governo interino se formou. Hoje, creio que muitos enxergam as mesmas dificuldades que eu. Os mais atentos conseguem ver, inclusive, os riscos de ordem institucional colocados à mostra com o estranho resultado do impeachment -- um veredito de crime sem punição. Isso põe em xeque a percepção de segurança jurídica do país.
O Financista: No cenário mais realista que você pode traçar, o que será, de fato, o governo Temer, na área econômica?
De Bolle: Acho que emplacará um plano de privatizações que trará algum investimento, e, possivelmente, aprovará reformas muito diluídas, com pouco impacto sobre o problema de médio prazo das contas públicas. Tal cenário é condizente com um crescimento na faixa dos 0,5% projetados pelo FMI no ano que vem, e vários pontos de interrogação em 2018, quando estaremos em pleno processo eleitoral marcado pelas cicatrizes e feridas abertas do impeachment e da Lava Jato.
| O MELHOR DA SEMANA
Dilma para presidente
Dilma Rousseff foi cassada. Mas Renan Calheiros e Ricardo Lewandowski deram um golpe para livrá-la de Sergio Moro. Os senadores rasgaram a Constituição e decidiram que ela poderá ocupar cargos públicos, que lhe garantam foro privilegiado.
- 61 votos
- O fim de Lewandowski
O golpe no artigo 52 da Constituição
A Constituição é clara, transparente, o impeachment de um presidente significa a perda do cargo, COM INABILITAÇÃO, POR OITO ANOS, PARA O EXERCÍCIO DE FUNÇÃO PÚBLICA... [leia mais]
- Os cúmplices do golpe
- Senado enterrou de vez a Ficha Limpa
- O golpe na Constituição surfou em uma alteração do regimento
- O Senado pode estuprar a Constituição?
- O recurso contra o fatiamento
Ministros temem anulação do impeachment
Ministros do STF ouvidos por O Antagonista avaliam que há enorme risco de que os recursos contra a decisão do fatiamento acabem provocando a anulação de toda a votação do impeachment de Dilma. Obviamente, foi um risco calculado... [veja mais]
- Temer pode ter sido de uma burrice espantosa
- A "senha" de Renan para o golpe na Constituição
- Os cochichos de Kátia e as escolhas no ato final
- O estrategista do golpe
"Não vamos levar ofensa para casa"
Michel Temer rodou a baiana na reunião com ministros no Palácio do Planalto. Sua orientação é para que todos reajam quando forem chamados de "golpistas". "Não é possível tolerar. Isso aqui não é..." [leia mais]
- Golpista é você
- Pronunciamento de Temer
Delcídio denuncia Lula em Curitiba
Delcídio Amaral entregou Lula à Lava Jato. De acordo com Lauro Jardim, ele "passou dois dias em Curitiba, quarta-feira e ontem, depondo na Justiça Federal. O assunto do depoimento era..." [veja mais]
- Lula denunciado em setembro
- Esperando Léo
Vice de Janot renuncia
Ela Wiecko deixou o cargo de vice-procuradora-geral da República. Sua situação ficou insustentável depois de revelar que Michel Temer está sendo delatado na Lava Jato. Wiecko fez tal afirmação à Veja, após... [leia mais]
- Investigação de Pimentel ficará com novo vice
- Os mais cotados para substituir a petista da PGR
- A procuradora protegeu Carolina Pimentel?
MOMENTO ANTAGONISTA
Reveja os vídeos gravados por Claudio Dantas durante a semana:
- Movimentos querem entrar na política
- A queda de Ela Wiecko no Momento Antagonista
- Momento Antagonista: golpe no impeachment e na Ficha Limpa
- Aloysio Nunes analisa o impeachment no Momento Antagonista
- O bode no plenário do Supremo
|
| |
Leia os textos de Félix Maier acessando:
1) Mídia Sem Máscara
http://www.midiasemmascara.org/colunistas/10217-felix-maier.html
2) Piracema II - Nadando contra a corrente
http://felixmaier1950.blogspot.com.br/
Conheça a história do terrorismo no Brasil acessando:
Wikipédia do Terrorismo no Brasil
http://wikiterrorismobrasil.blogspot.com.br/
MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964
Uma seleção de artigos. Imperdível!
http://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=12991&cat=Ensaios e
http://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=13208&cat=Ensaios&vinda=S
Acesse as últimas postagens de Félix Maier clicando em
1) Usina de Letras
http://www.usinadeletras.com.br/exibelotextoautor.php?user=FSFVIGHM
2) Facebook
https://www.facebook.com/felixmaier1950
3) Twitter
https://twitter.com/fmaier50
|