Então vc se humilha, e fica magoada com a rejeição dos seus olhares famintos, e eu sei, pode ter certeza que eu sei o que é isso. Sinto isso também, nas ruas quando caminho para casa ou para a escola. Na verdade percebi sua carência logo de cara, na primeira vez que a vi. Pode não parecer, mas eu sou esperto, entende? Tudo é um teste, das obsceniddes que digo -para testar os limites da pornografia, a flexibilidade erótica- até o apertar das mãos, com força, para ver os seios chacoalhando, para ver se consigo perceber se vc percebeu. Sou muito claro.
Reconheço que vc é melhor, mais talentosa. Na verdade suas dores me parecem mais reais e profundas que as minhas, e é isso que faz a diferença. Vc é lírica, concentrada em seus próprios traumas, seus textos são lindos por isso, mas no entanto é bem isso que a faz distraída, frágil e transparente na vida real. A gente fala, vc ri, mas no fundo dos olhos fica a expressão de "será que...?", característica de quando alguma coisa a incomoda.
Quanto a mim, sou como uma névoa, ou sou pop, quero tudo, não sou ninguém. Pode ser falta de personalidade, mas aos sábados vejo Moonlighting -a gata e o rato, lembra?- e isso parece me satisfazer mais do que as suas chupetas. Sabe, nada de pena, ninguém é inocente, nem vc com esse jeito de menina problemática, vc só quer comer o maior número de homens possível. Então fique aí, vai ser uma grande escritora, só precisa manter as mágoas fresquinhas, daí botar no papel com um humor inocente. Dou uma força.
Vc não me agradeceu aquele dia no carro, como disse que faz, aqui na usina. E não me venha com essa de eu lírico, que te conheço bem demais... |
