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Contos-->El Culebrón de Cassandra -- 15/08/2000 - 21:50 (Il Pagliaccio) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
PRÓLOGO DO AUTOR

Culebrón, em espanhol, significa dramalhão. Essa palavra é usada para designar aquelas produções televisivas, principalmente mexicanas, em que tudo é exagerado a ponto de tornar-se artificial e piegas, além de seguirem sempre a mesmíssima fórmula mágica que vem encantando mulheres de todo o Brasil: uma mocinha pobre que se apaixona por um mocinho rico, que é amado por outra mocinha rica. A mocinha rica vai transformar a vida da mocinha pobre num inferno. Lá pelas tantas se descobre que a mocinha pobre era a irmã ou prima do mocinho rico que foi abandonada quando era bebê, ou então a mocinha pobre fica rica, ou herda uma grande fortuna, e casa-se com o mocinho rico. Trata-se, portanto, do famoso dramalhão mexicano, importado por algumas redes de televisão brasileiras que têm preguiça, ou falta de criatividade, para produzir suas próprias novelas.
É característico dessas produções o exagero e a pieguice em tudo, desde maquiagem e figurino até cenas de beijos ou amor em que tudo parece cronometrado, além, é claro, de inúmeras cenas de choros e gritos tão desesperados que chegam a nos fazer rir ao invés de sentir pena das personagens. Sem contar com o efeito cômico causado pela dublagem em português. Por esse caráter folhetinesco de quinta categoria, provavelmente baseado em romances subliterários do gênero de Sabrinas ou Júlias, é que a maioria das mulheres brasileiras têm certa afeição por tais tramas.
Mas não é para discutir o que leva as mulheres a gostar desse tipo de produção novelística que escrevi esta, podemos dizer assim, paródia de dramalhão mexicano (se é que se pode parodiar o que já é uma paródia), e sim criticar justamente as características que marcam não só esse tipo de trama, mas as tramas de novelas televisivas em geral.
El Culebrón de Cassandra é uma novela baseada em alguns dramalhões mexicanos e em algumas características da sátira. Juntando esses dois elementos, e mais algumas críticas institucionais, procurei transformar as características do dramalhão em superlativos, chegando a torná-las grotescas. Assim, transformei as personagens em caricaturas, levando todas, de alguma forma, ao ridículo extremo dentro do contexto da história. Ridículo, eis a palavra que resume El Culebrón de Cassandra.

* * *

PERSONAGENS

Cassandra – heroína (?) da história. Fala uma imitação de espanhol.
Mafalda Romilda da Paola – irmã de Dom Fetuccine e vilã da história.
Zuleika Deneuve – melhor amiga de Cassandra. Não sabe que língua fala.
Dom Fetuccine Macarrone da Paola – riquíssimo e drástico na mesma proporção.
Henrique Cido A Granel – enteado de Dom Fetuccine.
Ema Tômas A Granel – esposa de Henrique Cido.
Brígido Dei – outro enteado de Dom Fetuccine.
Céusmi Dei – esposa de Brígido. Outra inimiga de Cassandra
Horn Corneone da Paola – o filho bastardo de Dom Fetuccine. O amor de Cassandra.
Emengarda – a empregada de Dom Fetuccine.

Participações Especiais
Madame Chouppeux – a cafetina.
Margarete, Elizete, Juliete, Salete – as prostitutas.
Dona Querência – mãe de Cassandra.
Hepaminontas McQueen – dono de boate e amigo de Horn.
Marcela Miranda, Pedrita Perrys, Samatha Sanchez, Valeska Vitty – as drags.
Gardênia Coffee Breack My Heart – a estilista.
Cremilda – a serviçal bossal.
Dra. Helvécia Biskaten Barangan – a médica da família.
O Soldado Ryan, Rambo, o Soldado Universal, o Exterminador do Futuro, Billy, The Kid, Braddock – figurantes.
Conde de Almaviva, Rosina, Bartolo, Berta, Don Basílio, Fiorello – personagens de “O Barbeiro de Sevilha”.
Eggs on Maionese – o detetive.
Cristina, Regina, Marina, Celina, Alina – o grupo The Third Age Ladies.
Mané – o jornalista.

* * *

ADVERTÊCIA: todos os diálogos em espanhol não seguem, em absoluto, quaisquer convenções da gramática espanhola.

* * *

Música de Abertura: Cassandra, do grupo ABBA

***

Sexta-feira, 18 de Fevereiro de 2000

CAPÍTULO 1

Guadalajara, México – 1983

Numa rua no subúrbio de Guadalajara, fica o famosíssimo lupanar de Madame Chouppeaux. Um lugar muito procurado, a Casa da Luz Rosa Choque era um ambiente “finíssimo”, todo decorado no que havia de mais brega e chinfrim da parca decoração francesa (na verdade, era tudo paraguaio).
- Bamos lá, mios señores. Bamos comier tudo que estiber pela friente! – berrava Madame Chouppeaux, com sua voz esganiçada.
De repente, uma briga:
- Sua quienga hija de uma puta! Ustê non sabes jupar derietcho. Juma da miña friente!!!
- Quienga és su madre e todos el sus hijos, inclusibe ustê! Su bija lueca!
- Paren los dos! – gritou madame Choupeaux, mas já era tarde. Elizete já estava sendo esbofeteada pelo cliente, para o estarrecimento de suas amigas Margarete, Juliete e Salete, que assistiam tudo sem sair do colo de seus amantes.
De repente, uma mulher ricamente trajada entra pela porta. Todos voltam-se para ela. Trazia consigo uma criança. Madame Choupeaux vai atendê-la.
- O que quieres? Aqui non tenemos prostituiciòn infantil e nien prájica de injesto.
- Jo non bin aqui para prajicar neñun injesto. Esta és mi hija e jo non tiengo ninguém para cuidar dela. Talbez a señora puederia cuidar dela para mi.
- Ó, claro. Deije-a aqui. Venga cá, mi mutchatcha. Solamente me diga una coza, señora: como se jama su hija?
- Mi nombre és Querência e mi hija se jama Cassandra.
E Cassandra foi deixada, ainda pequena, na Casa da Luz Rosa Choque, em Guadalajara. Sua mãe nunca mais apareceu, e Madame Choupeaux foi quem a criou, ensinando-lhe o caminho do bem, da honestidade e da luxúria. Depois de crescida, Cassandra se tornou a cafetina chefe do lugar, pois Madame havia morrido e lhe deixado o prostíbulo de herança. Como o mercado era lucrativo, transferiu a matriz para São Paulo, no Brasil (até hoje se desconhece o motivo) e abriu várias filiais no mundo todo, tudo controlado pela Pink Light Brothels Corporation LTD., da qual Cassandra era a presidente.
Bem, apesar do sucesso do negócio, Cassandra adora o seu passatempo preferido: “dar” atendimento aos clientes. Assim, era muito solicitada na matriz, principalmente à noite. É claro, aqueles que eram atendidos por ela tinham serviço VIP e pagavam o triplo do serviço normal.
Naquele dia, no final do expediente (por volta de cinco da manhã), aparece um cliente de última hora. Muito a contra gosto, Cassandra resolve atendê-lo.
Trata-se de Horn Corneone, o filho bastardo de Dom Fetuccine Macarrone da Paola, o homem mais poderoso do Brasil.
Imediatamente, Horn e Cassandra se apaixonam e começam a namorar. Um mês depois, Horn leva Cassandra para ser apresentada para a sua família. Uma festinha íntima para seiscentas pessoas foi preparada às pressas para receber a digníssima candidata, pois todos desconfiavam que Horn tinha “modos egípcios”, como diziam os gregos, uma vez que adorava vestir-se de rosa e ir ao cabeleireiro, à pedicure, à manicure, à depiladora... Enfim, todas estas coisas tão normais à um homem. É lógico, tratava-se de intriga da oposição, pois as mulheres adoravam Horn e seus conselhos sobre bordado, balé e pintura em tecido.
- Papai, quero lhe apresentar Cassandra, minha namorada. – disse Horn à Dom Fetuccine.
- Oh! Dio Mio! Emengarda! Emengarda! Traga meu suco de quiabo e uma pílula de Laxotan. – disse o velho, sentando-se debiamente e admirando a beleza da futura nora. Emengarda era a criada particular de Dom Fetuccine.
- Oh, Horn mi quejido! Ajo que su padre non gustaste de mi.
- Não seja boba, Drandrinha – Drandrinha era o jeito carinhoso pelo qual Horn chamava Cassandra – Ele adorou você. Veja, lá está Brígido e Céusmi Dei.
Ah! Detalhe: Cassandra estava usando um modelito hiper básico: uma micro-saia dez palmos acima do joelho na cor verde melancia e uma blusinha tomara-que-caia agarradérrima na cor ocre selvagem. Tudo isso coberto por uma echarpe pink com detalhes em prata, que realçava o corpo moreno esbelto e o cabelo loiro (que um dia já fora negro) de Cassandra. Na cabeça ela usava uma discretíssima presilha de pérolas com várias argolas de ouro encimada por uma esmeralda. Claro, Horn não podia ficar a desejar, por isso usava seu melhor terno verde abacate com detalhes em madrepérola azul e, no lugar da gravata, um lencinho do Mickey amarrado. E, claro, pendurado no pescoço o brasão de armas dos Macarrone da Paola: um avestruz comendo macarrão.

* * *

Sábado, 19 de Fevereiro de 2000

CAPÍTULO 2
(trilha sonora: Night Fever, dos Bee Gees)

Ainda a festinha íntima dada por Dom Fetuccine...

- Veja! Lá está Brígico e Céusmi Dei. – disse Horn, arrastando, saltitante, Cassandra até o casal.
O casal Brígido e Céusmi Dei eram enteados de Dom Fetuccine, e viviam na mansão sem fazer absolutamente nada na vida, a não ser, é claro, aquilo que todo casal faz entre quatro paredes: dormir.
- Brígido, querido, Céusmi santa! – Horn deus três beijinhos em cada um – Quero apresentar-lhes minha namorada, quase noiva, Cassandra.
- Prazer em conhecê-la, Cassandra. – Brígido deus seis voluptuosos beijinhos em Cassandra.
- Muito prazer, querida. – disse Céusmi, ríspida.
- El prazer és todo médjo. – disse Cassandra, sem entender absolutamente nada.
- Mas... Conte-nos um pouco sobre você Cassandra. – pediu, jogando olhares sensuais, Brígido.
- Ah, si, claro. Jo soi de Guadalajara, nel México. Jo estudió ne la Universitá de las Drags e GLS’s de Marisales. Jo me formió en Enjenharia de Succión con especialización em buecas herméticas...
- Ah! Que interessante!... – e Brígido jogava olhares cada vez mais voluptuosos em Cassandra. Esta, na sua loirice platinada, nem sequer percebia e continuava contando sobre suas especialidades.
Enquanto isso, Céusmi conversava muito com Horn.
- Mas então, Céusmi santa. Aquele ponto de crochê é facérrimo: você pega e dá três laçadas, sobe uma, deixa duas e dá mais três laçadas. Simples, não?
- Muito... – disse Céusmi, olhando de soslaio para o marido e Cassandra ao lado. De repente, não agüentou mais de ciúmes.
- Brígido, seu canalha! Como você ousa ficar olhando dessa forma voluptuosa para essa mulher! E na minha presença!
- Calma, Céusminha querida, meu amor! É ela que fica olhando para mim! Como você pode dizer uma coisa dessas sobre a minha pessoa?!
- Ah!!! Então é você, sua imitação de Maria do Bairro paraguaia, que fica olhando para o meu marido?!!!
- O quiê? Quiem és imitación de Maria Del Bairro paraguaia? Su cadiela sien dono.
- Ah!!! Sua cadela, galinha, vaca...
E Céusmi partiu para cima de Cassandra, agarrando-lhe os cabelos. Cassandra também não ficou atrás: agarrou os cabelos de Céusmi e as duas caíram no chão, rolando, se batendo e se xingando.
- Sua bastarda desgraçada!...
- Su hija de una égua!...
- Sua piranha, sua vagabunda!...
- Su biscate, su maledetta, su quienga!...
- Sua baragã, sua puta velha, seu estrupício!...
Enquanto as duas brigavam e se esbofeteavam, Horn corria como uma barata tonta de um lado para o outro.
- Ah, minha santa Sara! Alguém faça alguma coisa! Alguém separe estas duas!
Vendo a briga das duas, Brígido teve um ataque de espirros que o deixou inutilizado.
Todos que estavam em volta ficaram injuriados. Até que Dom Fetuccine apareceu para resolver a situação, como sempre, com uma atitude drástica.
- Venham! É por aqui, senhores. Vamos lá, apaguem o fogos dessas duas.
Dom Fetuccine tinha chamado o Corpo de Bombeiros, que veio munido de uma grande mangueira e deu um vasto banho gelado nas duas pugilistas.
A briga, então, cessou.
Depois da briga, Horn pegou Cassandra e desapareceu da festa. No carro, eles conversavam.
- Para onde estás me lebando, Honr querido? – Cassandra estava toda descabelada e rasgada.
- Para um lugar mais tranqüilo do que a festa.
- E onde jeria este lugar, mi docito de cueco?
- A boate Huge Banana Black, cujo dono, Hepaminontas McQueen, é meu amigo.
Chegando no lugar, Cassandra ficou impressionada com a imensa banana preta e amarela que havia na entrada. Aquilo lhe lembrava vagamente algo muito familiar.
Na entrada, Hepaminontas McQueen veio pessoalmente receber o casal.

* * *

Domingo, 20 de Fevereiro de 2000

CAPÍTULO 3
(trilha sonora: I will survive, interpretada por Gloria Gaynor)

Na boate Huge Banana Black...

- Oh, Horn meu caro, entre, entre. Fique à vontade. – disse, espalhafatosamente, Hepaminontas McQueen. – Fiquem à vontade!
- Obrigado, Hepaminontas. – disse Horn.
Quando eles entraram, quatro drag queens estavam se preparando para fazer um cover, em que interpretariam I will survive, um dos hinos mais famosos da comunidade GLS.
Cassandra ficou encantada com o lugar. Bananas em todos os lugares, inúmeras drags, risos, piadas, e, principalmente, um luxo total que só um ambiente daqueles poderia proporcionar.
De repente, começam os primeiros acordes de I will survive. Marcela Miranda, a primeira drag da direita para a esquerda, arrasando num modelito Carmem Miranda Teen, com frutas da cabeça aos pés, começa a interpretar:
- At first I was afraid I was petrified
- Ou, Horn quejido, jo estoy com miedo. Jo estoy petrificada.
- Relaxa, Drandrinha. Estamos num lugar hiper fashion. Vai te fazer bem.
Pedrita Perrys, a segunda drag, abalando Bangu no seu modelito Marylin Monroe Shock, com inúmeros babados, interpreta:
- Kept thinkin’ I could never live without you by my side.
- Horn, jo non sê se podria biber sien ustê ao mio lado.
- Não seja tola, amoreco.
Samantha Sanchez, a terceira drag, saltitante em seu modelito Mortícia Adams Highlight, com lantejoulas da cabeça aos pés, interpreta:
- But then I spend so many nights/ Thinkin’ how you did me wrong
- Ah, Horn. Jo non cosigo más dormir a noite, pensando que jo podria estar errada...
- Errada! Por quê?
Valeska Vitty, a quarta drag, esvoaçante em seu modelito Hebe Camargo Blue, coberta de bijouterias da cabeça aos pés, interpreta.
- And I grew strong/ And I learn how to get along (...)
- Màs jo soy fuerte, jo aprenderò a continuar!
- Drandrinha, do que você está falando?! Acho que este ambiente não te fez muito bem. Vamos embora, já passa de sete e meia da manhã.
Horn e Cassandra despediram-se de Hepaminontas McQueen e aplaudiram as quatro drags. Depois voltaram para casa. Já passava de oito da manhã.
Na entrada, Horn e Cassandra encontraram Céusmi Dei, que vinha chegando também àquela hora.
Os três fingiram que não se conheciam, mas Cassandra e Céusmi trocaram olhares de ódio perpétuo entre si, e pensavam:
“Sua vaca velha, eu ainda te mato!...”
“Su imitación paraguaia de Mônica Lewinsk!...”
Quando eles entraram na sala, Dom Fetuccine, Brígido e Emengarda estavam esperando.
- Ainda bem que vocês chegaram. – disse Dom Fetuccine. – Mas que papelão, vocês duas, não! No meio da festa, duas imbecis se descabelando! Pareciam duas piranhas brigando por um pedaço de carne! Onde já se viu! Que vergonha...
Enquanto Dom Fetuccine passava o maior sermão em Cassandra e Céusmi, Emengarda trouxe uma bandeja com um telegrama endereçado à ele.
- Dom Fetuccine?
- Não me interrompa, Emengarda. Traga-me um suco de tamarindo com azeitonas pretas. – e dirigindo-se novamente às duas, continuava – Duas peruas! Duas insanas! Dois bichos do mato! Duas parvas! Duas rameiras! Duas vacas bravas!...
- Mas, Dom Fetuccine, é urgente!
- Oh, está bem, está bem! – e, rapidamente, Dom Fetuccine pegou o telegrama, abriu-o e leu.
A palidez tomou conta de seu rosto. Numa voz quase sumida, disse à Emengarda.
- Emengarda... traga meu suco de milho verde com catchup e meu comprimido de Anafranil.
- Papai, o que ouve?!! – preocupou-se Horn.
Quase sem fôlego, Dom Fetuccine balbuciou:
- Mafalda... Romilda... chegará amanhã.
OOOOOOOOOOOOOOOOOOHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Foi como se uma bomba atômica fosse jogada naquela sala. Horn sentou-se, horrorizado; Brígido e Céusmi Dei fizeram uma cara de velório indizível.
- Más, quien és Mafalda Romilda? – perguntou a inocente Cassandra.

* * *

Segunda-feira, 21 de Fevereiro de 2000

CAPÍTULO 4
(trilha sonora: Toccata and Fugue in D Minor, de Johann Sebastian Bach; interpretada pela Philadelphia Orchestra, sob a regência de Eugene Ormandy)

No outro dia...

Eram dez horas da manhã quando uma carruagem estilo Luiz XIV negra, com detalhes dourados, parou na frente da porta principal da Mansão Macarrone da Paola. Dela, saiu uma mulher ruiva, alta, magra, trajando um longo e apertado vestido do começo do século, na cor violeta, sob um calor de quase trinta graus. Na cabeça, uma peruca estilo Luiz XV toda cacheada (no entanto, como estava mal colocada, percebia-se o cabelo ruivo caindo dos lados) encimada por uma longa pena de branca de avestruz, no estilo Luiz XVI, calçando um par de sapatos de bico fino preto no estilo Luiz XVII. Ela também estava coberta de jóias no estilo Luiz XVIII e usava luvas no estilo Luiz XIX.
Quando ela entrou na sala, todos a aguardavam. Dom Fetuccine, na sua drasticidade, já havia mandado vir um padre exorcista.
- Antes de tudo! Padre, tenha a bondade. – disse Dom Fetuccine, com o poder que a sua obesidade impunha, convidando o padre a iniciar os trabalhos.
O olhar daquela mulher estava impassível. O padre começou os ritos.
Munido de uma cruz e, tendo ao seu lado um acólito trazendo um recipiente com água, o padre atirou três vezes água benta sobre a mulher fazendo, ao mesmo tempo, o Sinal da Cruz com a cruz que segurava e pronunciou o exorcismo:
- Vade retro Satana, Nun suan quade mihi vana. – depois, retirou-se.
- Como vai, Fetuccine? Obrigada pela calorosa recepção.
- Não há de que, irmãzinha querida. Eu vou muito bem, obrigado. Espero, sinceramente, que o mesmo não esteja acontecendo com você.
- Seu engano é tão redondo quanto você, Fetuccine. Eu não poderia estar melhor.
- Que pena, Mafalda! Sinceramente, esperava que você estivesse nos momentos finais de uma existência inútil.
- Bem, bem, bem. Vamos todos nos acalmar. – disse Horn – Titia, deixe-me apresentá-la minha namorada e quase noiva. Cassandra, esta é tia Mafalda Romilda.
- Prazier em coñecer-la.
- O prazer não é todo meu.
- Muito bem, Mafalda. Fique a vontade, e finja que a casa é sua. – disse Dom Fetuccine, que, como pôde-se perceber, não suportava a irmã. – Emengarda! Emengarda! Traga meu suco de lichia com Danoninho e um comprimido de Adalat.
Depois da recepção animadíssima à maléfica Mafalda Romilda, todos se retiraram. Horn e Cassandra foram até a biblioteca conversar.
- Drandrinha. Sabe o que estive pensando? Que tal se nós nos casássemos? Já nos conhecemos há tanto tempo (menos de uma semana), e acho que não precisamos noivar. Aliás, noivado é um coisa tão ultrapassada que acho que pouca gente, hoje em dia, sabe o que isso vem a ser.
- Ah, Horn! Sejia oetimo. És mi sueño! És tudo lo que estoy queriendo! Jo acepto desde já.
- Ah! Que ótimo. Então vamos marcar o casamento. No civil, podemos marcar por telefone. E na igreja, onde você quer se casar?
- Ah! San tantas opciones... Que tal la Catedral de Canterburry?
- O quê?! Você está maluca?! A Catedral de Canterburry está em ruínas!!!
- Estay bien, estay bien! E que tal la Mesquita Azur?
- Só se você querer ser apedrejada como presente de casamento, ma cherry.
- Oh! Crujes! Jamàs! Entan, la Igreja Del Señor do Bonfim.
- Ah! Ótima escolha! Vamos para lá agora mesmo marcar.
Dez minutos depois, eles tomavam um jatinho para a Bahia e, meia hora mais tarde, chegavam em Salvador. Lá, dirigiram-se para a Igreja do Bonfim.
Na secretaria, uma serviçal boçal os aguardava.
- Como vão vocês? Meu nome é Cremilda e fui designada para marcar-lhes o casamento.
Cassandra quase teve um ataque de riso ao olhar para aquela mulher loira, com uma imensa trança que dava cinco voltas na cabeça, além dos óculos fundo de garrafa, os dentes podres, dez ou doze remendos na roupa, etc, etc.
Marcado o casamento, disse Horn, na volta:
- E o vestido? Onde você quer fazer seu vestido?
- Ne la grande, ne la marabilhoza, ne la explêndida, ne la jiquéjira Gardênia Coffee Breack My Heart.
- Excelente escolha, amoreco. Gardênia é a última palavra no que há de mais básico em termos de moda.
Chegando em São Paulo, eles dirigiram-se direto para o finíssimo ateliê de Gardênia Coffee Breack My Heart, só freqüentado por altas socialites, como Vera Loyola, Lucinha Ferreira, Cassandra Mathias Salão, entre outras.
- Minha nossa! Cassandra querida!!! – disse Gardênia, abraçando e dando três beijinhos sem encostar o rosto.
- Bin escolher mi bestido de cazamiento.

* * *

Terça-feira, 22 de Fevereiro de 2000

CAPÍTULO 5
(trilha sonora: O Amor e o Poder, interpretada por Rosana)

No ateliê de Gardênia Coffee Breack My Heart...

- Mas isso é ótimo! Então vocês vão se casar! Muito bem, mas o noivo não pode ver o vestido da noiva. Portanto, cai fora Horn! – disse Gardênia
- Está bem, está bem. Já estou indo! Que coisa! Eu não queria ver mesmo, tá!
E Horn retirou-se.
- Muito bem, querida, agora estamos à vontade. Você já tem alguma coisa em mente? – perguntou Gardênia.
- Sin. Jo quiero algo mui discreto. Nadie espalhafatozo. Totalmiente en cetin, nadie de seda, tafetá ol tule. Bien, quanto a la color, jo estaba pensando en um ruesa joche, ol um amarillo uevo, ol talbez un jeans manjado.
- Acho que o jeans manchado ficaria ótimo! Aí nós colocaríamos umas miçangas, umas plumas, uns paetês e alguns detalhes em lantejoulas. Também poderíamos fazer alguns bordados, que estão super hiper na moda hoje. Ficaria legal se nós desfiássemos a barra do vestido, uma coisa completamente fashion!
- Ah! Oetimo. És este miesmo que jo quiero. Mas lo quiero complieto!
- Quanto a isso, fique tranqüila. Nós providenciamos os sapatos e os adereços. Por falar nisso, que sapato você estava pensando em usar?
- Un par tiennes.
- Excelente escolha! Um par de tênis na cor do vestido! Vai ficar lindo! Volte daqui uma semana para você experimentar o vestido.
- Estay bien. Asta luego, Gardênia.
- Tchau santa!
Horn e Cassandra saíram do ateliê de Gardênia e, nem imaginavam que a maléfica Mafalda Romilda estava começando a tramar mil e duas ciladas e armadilhas para Cassandra.
Sozinha, no seu quarto, a maléfica Mafalda.
“Eu odiei esta Cassandra desde quando a vi. Além, é claro, de jamais ater perdoado pelo que me fez no passado!!!! Tornarei a vida dela um tormento, um inferno!!!!”
Pensando isso consigo, a maléfica Mafalda Romilda dirigiu-se ao quarto de sua vítima. Ao entrar, topou com um imenso espelho e, parando em frente dele, admirou seu vestido cinza tempestade com detalhes em matelacê estilo Luiz XX, sua peruca branca estilo Luiz XXI, encimada por uma longa pena vermelha de ema no estilo Luiz XXII e seus sapatos e luvas em estilo Luiz XXIII. Depois, em voz alta, perguntou ao espelho:
- Espelho, espelho meu: existe alguém mais chique do que eu?
O espelho rachou de alto a baixo. A maléfica Mafalda Romilda, morrendo de raiva, abriu o guarda-roupas de Cassandra e, abrindo uma caixa de sapatos que havia sido comprada em Salvador e que Cassandra comentara que usaria naquele dia, pegou os sapatos e, com uma pequena serra que fazia parte do seu estojo de Primeiros Perigos, cortou o salto dos sapatos. Depois, pegando uma pouco de cola Tenaz, colou as partes cortadas, fazendo com que os sapatos parecessem novos novamente. Furtivamente, deixou o quarto.
Quando Horn e Cassandra chegaram, todos estavam reunidos na sala como sempre e, aproveitando a oportunidade, Horn decidiu contar-lhes a boa nova:
- Que bom que vocês estão reunidos! Tenho uma maravilhosa notícia: Cassandra e eu vamos nos casar!
- Vocês vão o quê?!!! – esbravejou Dom Fetuccine.
- Vamos nos casar, pappy.
- Oh! Que tragédia! Que karma! Que calamidade! Que horror! Que lástima...
- Mas pappy, não será tão ruim assim! Afinal, vamos morar aqui! – disse Horn, enquanto Dom Fetuccine se lamentava, ao qual este respondeu:
- E por que você acha que estou me lamentando? Que destino! Que vida mais traiçoeira!...
- Calma, sogrito de mi corazòn! – disse Cassandra, atirando-se sobre Dom Fetuccine e enchendo-lhe de beijos - Jo serê su noriña quejida! Esto non és oetimo?
- É... – disse Dom Fetuccine – Talvez não seja tão ruim assim... Emengarda! Emengarda! Traga minha batida de conhaque, vodka, whiskey, gim, Campary e catuaba selvagem com banana-maça e um comprimido de Aspirina e um de Eparema.
Quando Emengarda voltou trazendo o pedido de Dom Fetuccine, trouxe também um fax que dizia que o casal A Granel chegaria no outro dia.
- Era só isso que me faltava!!! – disse Dom Fetuccine.
Enquanto isso, Cassandra fora até seu quarto e vestira seu sapato novo. Ao voltar, no segundo feixe de escadas, o salto simplesmente quebrou e Cassandra desceu do salto, só que rolou escada a baixo cerca de trinta degraus. Com tamanho barulho, todos correram para saber o que estava acontecendo.
A maléfica Mafalda Romilda quase não se conteve de tanta vontade de rir.

* * *

Quarta-feira, 23 de Fevereiro de 2000

CAPÍTULO 6
(trilha sonora: Era um garoto, que como eu, amava os Beetles e os Rolling Stones, interpreta pelos Engenheiros do Havaí)

Na sala dos Macarrone da Paola...

Já socorrida, Cassandra estava deitada no sofá quando a Doutora Helvécia Biskaten Barangan chegou. Ela era médica dos Macarrone da Paola desde o tempo de Dom Tagliarinne, avô de Dom Fetuccine. Após examinar muito atentamente com uma imensa lupa todo o corpo de Cassandra, a Doutora comentou:
- Bem, minha filha. Não aconteceu nada de grave: apenas uma fratura craniana, cinco costelas quebradas, a bacia escangalhada e um fêmur trincado. Brincadeirinha! Brincadeirinha! Queria eu estar tão bem como você. Foi um tombinho tolo e você ficará com apenas alguns hematomas, mas logo eles desaparecem.
- És mismo, doctora? Jo non precizo ficar enterniada ol acier una tomografia?
- Não, não. Nada disso. Apenas repouso e um calmante. Amanhã você estará ótima.
- Ainda bem , doutora! Fiquei preocupadérrimo. – disse Horn.
A doutora retirou-se e, após alguns minutos, ouviu-se um helicóptero pousar no jardim. Todos correram para ver quem era. De dentro do helicóptero saiu um casal. O homem pegava a mulher pelo braço, apertando-lhe, e esbofeteava-lhe impiedosamente, enquanto a xingava.
- Sua burra, débil mental, mula paralítica... toma, toma e toma. Para aprender a não ser uma Magda na vida!
Era o casal Henrique Cido a Granel e Ema Tômas A Granel. Henrique era um outro enteado de Dom Fetuccine e voltava de uma viagem para a Somália, onde passara a lua de mel. Ema era uma mulher muito fina: só usava roupas e sapatos Gucci. Tinha o cabelo negro e lábios extremamente vermelhos. Alta e magra, parecia uma modelo a desfilar. Seu único defeito era amar Henrique, que vivia enchendo-lhe de pancadas a qualquer hora e em qualquer lugar.
Após os cumprimentos de praxe, todos entraram. Cassandra já havia ido para o quarto e Horn prometeu apresentá-la assim que estivesse melhor. Dom Fetuccine contou o acontecido, e o insuportável Henrique foi quem trouxe a discórdia:
- Só pode ter sido alguém que a tenha empurrado.
- Como você pode dizer uma coisa dessas?! Quem iria empurrá-la? – disse Céusmi, injuriada.
- Você por exemplo.
- Como você ousa dizer uma coisa dessas sobre minha esposa, seu mequetrefe? – doeu-se Brígido.
- Ah, vê se te enxerga, seu corno!
- Parem vocês dois, bando de animais! – berrou Dom Fetuccine. – Só pode ter sido você, Mafalda. Isso tem a sua cara.
- Como você diz uma coisa dessas a meu respeito, Fetuccininho. Você sabe que eu jamais seria capaz de fazer tal coisa! – defendeu-se, dissimuladamente, Mafalda.
- Com mil diabos! Moverei céus e terras para provar minha inocência. Decreto guerra! – bradou Céusmi.

(pausa para a troca de cenário, que agora é negro e composto por duas trincheiras)

Do lado de fora da mansão, estavam os Rebeldes: Henrique Cido no comando, Ema e Mafalda, entrincheirados juntamente com o Soldado Universal, o Exterminador do Futuro e Braddock. Do lado de dentro da mansão, estava o Comando Lasagna, com Dom Fetuccine no comando, Céusmi e Brígido, Cassandra e Horn e Emengarda, juntamente entrincheirados com o Soldado Ryan, Billy, The Kid e Rambo.
- Dom Fetuccine, acabou de chegar mais vinte carregamentos de bombas de hidrogênio, granadas, mísseis teleguiados, bombas atômicas e de nêutrons e queijo parmesão. – disse Emengarda.
Começou a chover. Dom Fetuccine olhou pela janela e, sombriamente disse:
- Mande preparar o canhão de queijo parmesão, e me traga um Bloody Mary e um comprimido de pólvora com nitroglicerina.
De repente, os Rebeldes começaram a atacar com um bombardeio de ovos podres. A franco-atiradora Cassandra começou a lançar uma chuva de bananas podres sobre os Rebeldes. Era uma guerra sangrenta!
Do outro lado, Henrique Cido A Granel manda que seja preparado o terrível canhão de molho de tomate:
- Chilept, chilept, chilept – esbofeteava Ema Tômas – Preparem o canhão de molho de tomate!!! Chilept, chilept, chilept.
- Pare Henrique! Seu bruto, selvagem, cachorro... Oooooooohhhhhhhh! – mas Henrique a esbofeteou mais ainda.
De repente, os Rebeldes são atacados por uma chuva de queijo parmesão ralado e depois em pedaços, atirados pelo Comando Lasagna. O Exterminador do Futuro é ferido mortalmente. Nos braços de Mafalda, ele dá o seu último espirro:
- Oh! Diga a Scarllet que eu fico! Oh! Atttttccchhhimmm!!!! – e morre, deixando Mafalda, em seu vestido marrom estilo George I pingando.
Do outro lado, chega um mensageiro com uma carta para Cassandra. Zuleika Deneuve chegaria no outro dia!

* * *

Quinta-feira, 24 de Fevereiro de 2000

CAPÍTULO 7
(trilha sonora: ópera O Barbeiro de Sevilha, de Gioacchino Rossini)
Esclarecimento: nas horas vagas, Brígido Dei costuma trabalhar como tenor.

Novamente na sala dos Macarrone da Paola. Tudo voltou ao normal...

Naquele momento, chegava Zuleika Deneuve, a melhor amiga de Cassandra.
- Zuleika, mi amiga!!! – correu Cassandra a abraçá-la.
- Well, ma cherry. I was with saldades! A quanto tempo. The last time we estávamos na Nova Zelândia!!!
- Si, si! Jo solamente non me lembro de tier ido a Nueva Zelândia... Mas non impuerta! O que impuerta és que ustê estás de buelta! Ustê non imajinas! Jo vuê me cazar!!!
- I can’t believe in it!!!!!!!!!!! Te va lê casèr?! Mas que maravilha, friend!
Enquanto Cassandra recebia a amiga, a maléfica Mafalda Romilda estava preparando mais uma de suas ciladas. Trajando um vestido carmesim estilo George II, uma peruca negra no estilo George III encimada por um laço de fita vermelho vivo estilo George IV, Mafalda colocou colorau no estojo de rouge de Cassandra. Também jogou centenas de pulgas sobre a cama dela e quebrou todos os seus batons. Depois, revirou todas as roupas de Cassandra dentro do guarda-roupas, de modo que, quando ela o abrisse, tudo viesse abaixo.
Depois de ter aprontado todas estas maldades, Mafalda voltou para a sala tranqüilamente.
Foi quando Dom Fetuccine convidou:
- Quem gostaria de ir à ópera hoje?
- Mas o que bien a ser una ópera? – perguntou a inocente Cassandra
- Ah!!! – gritou Dom Fetuccine, horrorizado – Eu não posso acreditar que você não saiba o que seja uma ópera!!!!! Emengarda! Emengarda! Traga meu suco de babaçu com açaí e um comprimido de Tilatil.
- Je explicarei – disse Zuleika – Ópera is a espetáculo where the atores, além de actuate, também sing!
- Óhhhhh, Aguera jo entendió!
E todos concordaram em assistir à ópera.
No Municipal de São Paulo, os Fetuccine Macarrone estavam vestidos no mais fino rigor para ver Brígido interpretar Fígaro, na ópera O Barbeiro de Sevilha: Dom Fetuccine trajava um legítimo terno Prince of Walles na cor negra e Henrique Cido e Horn um smooking. Mas quem arrasava eram as mulheres: Mafalda Romilda no seu mais belo vestido estilo Elisabeth I, na cor prata, e um imenso chapéu combinando; Ema Tômas em um legítimo Christian Dior, feito pelo próprio costureiro, na cor ocre. Zuleika trajava um vestido de veludo na cor laranja, com detalhes de strass, assinado por Versolato. Cassandra era uma beleza à parte: num momento de inspiração de Givencchy, ele criou um vestido de cetim amarelo ovo com um par de sapatos na cor verde abacate fluorescente. Simplesmente lindo. Estava também Emengarda, trajando um legítimo Yves Saint Lourent na cor negra, discretíssimo.
- Chilept, chilept, chilept. – esbofeteava Henrique Cido a Ema Tômas – Eu não quero ouvir um único “piu” seu durante a ópera, ouviu – chilept, chilept – Ouviu? Seu ser esdrúxulo. - chilept
- Ouvi, seu bruto, selvagem!... – dizia Ema, numa voz que dizia que ela não estava de todo detestando ser esbofeteada.
Após terem se acomodado, a ópera começa. No palco estão Fiorello e o Conde de Almaviva. Começa a primeira ária. Cassandra pede uma pipoca.
Chega o momento mais excitante da ópera, em que Fígaro (Brígido estava ótimo) canta o Largo al Factótum:
Largo al Factótum della città, largo!
La ran la, la ran la, la ran la, la!
Presto a bottega, chè l’alba è già, presto!
(...)
Figaro, Figaro, Fiagaro, Figaro!
(...)
A ópera toda decorre muito bem. A toda hora, Cassandra pedia alguma coisa. Henrique Cido simplesmente dormiu! Dom Fetuccine chorou o tempo todo (se ele chora assistindo uma ópera bufa, muitíssimo engraçada, imaginem assistindo uma ópera trágica!)
Horn espirrou o tempo todo (só Deus sabe por quê).
Chega a última cena. Todos os personagens estão no palco: o Conde de Almaviva, Bartolo, Rosina, Fígaro, Don Basílio, Berta, Fiorello e o Coro. Todos cantam:
Amore e fede eterna
si vegga in voi regnar,
amore e fede eterna
si vegga in noi regnar.
O público aplaude de pé por vários minutos. De repente, Brígido cai no palco. Ele estava morto! (Tam, tam, tam tammmmmmm!)

* * *

Sexta-feira, 25 de Fevereiro de 2000

CAPÍTULO 8
(trilha sonora: Robocop Gay, Brasília Amarela, dos Mamonas Assassinas; Coração Apaixonado, de Julio Iglesias; Fera Ferida, de Roberto Carlos)

Ainda no teatro...

Após todos perceberem que Brígido estava morto, a polícia foi chamada. Junto, veio o Detetive Eggs on Maionese para ajudar no caso. Ao chegar, ele tropeçou no cadarço do sapato que usava e caiu entre os seios de Ema Tômas, que ficou injuriada e levou inúmeras pancadas de Henrique Cido.
- Prostituta! Valdevinas! Baragã! Cadela velha! Chilept, chilept, chilept!
- Oh, pare Henrique, pare Henrique! – gritava ela.
Após examinar o corpo do falecido, disse o Detetive:
- É... a causa mortis foi uma pedrada.
- O quê? Uma pedrada! Como isso pode ser possível?! – perguntou, em prantos, a viúva Céusmi.
- Sendo, ora! – disse, categórico, o Detetive – Alguém chegou por trás dele e tacou-lhe uma pedra, que acertou a nuca.
- Oh, que horror, que tragédia, que coisa pavorosa, que catástrofe... – dizia Mafalda, lembrando um costume comum aos Macarrone da Paola.
- Mas não se preocupem. – acalmou o Detetive – Tudo será esclarecido dentro de no máximo cinco anos.
- Ainda bem! – disse Horn.
Todos voltaram para casa desolados. Cassandra e Zuleika marcaram de começar os preparativos do casamento no outro dia, pois este seria dali a dois dias.
No outro dia, tudo estava normal. Cassandra e Zuleika saíram cedo.
- Bien. Tenemos que buscar mi bestido e después escolher la decoración de mi fiesta e de mi cerimônia religuioza.
- Yes, we are. What are you pensando in to make?
- Siei lá. Después que pegarmos lo bestido, no camino, jo pensarió no que acier.
Depois de terem pegado o vestido, as duas foram em um teatro onde estavam sendo aguardadas pelo decorador da festa e da cerimônia. Após escolherem os enfeites, foram escolher quem tocaria e cantaria no casamento. O decorador as apresentou o grupo mais badalado do momento: The Third Age Ladies.
Um grupo badaladíssimo, The Third Age Ladies não saiam da imprensa. Um show tinha sempre no mínimo duzentas mil pessoas. Elas tocavam de tudo.
Usando modelitos estilo Spice Girls, Cristina, Marina, Celina, Regina e Alina foram apresentadas à Cassandra e Zuleika. Depois, foram para o palco apresentar algumas música de maior sucesso. Começaram com Robocop Gay
Um tanto quanto másculo
Ai como M maiúsculo (...)
Depois, partiram para Brasília Amarela e Coração Apaixonado:
Coração apaixonado
Só escuta a própria voz e ninguém mais (...)
E para fechar, o hit do momento: Fera Ferida
Sou fera ferida no corpo, na alma e no coração (...)
Aplaudidas de pé por Cassandra e Zuleika, que choraram de emoção, Cassandra decidiu que elas cantariam na festa.
Depois de tudo decidido, elas voltaram para casa. Na sala, sozinha, encontraram a maléfica Mafalda Romilda em seu vestido azul da Prússia com babados azul Ticiano em estilo George V, uma peruca cinza fumaça no estilo George VI encimada por um ramalhete de dálias vermelhas e com maquiagem e sapatos no estilo Nicolau I.
Ela estava acompanhada por Dom Fetuccine, que cumprimentou as duas e continuou conversando com Mafalda.
- Você me dá náuseas, Mafalda! Emengarda! Emengarda! Traga meu chá de folhas de coca com papoula e Novalgina e um comprimido de Gardenal.
Ao chegar no quarto, Cassandra foi se arrumar para “dormir” com Horn. Ficou horrorizada com os estragos que encontrou. Todos os batons quebrados, etc, etc, etc. Em suma, ela simplesmente desmaiou de tanto horror.

* * *

Sábado, 26 de Fevereiro de 2000

CAPÍTULO 9
(trilha sonora: Tudo passa, de Nelson Ned)

Na sala dos Macarrone da Paola...

No outro dia, toda a família estava reunida na sala. Dom Fetuccine fala:
- De hoje não passa! – berra ele – Eu quero saber quem está aprontando estas coisas terríveis com a minha quase nora Cassandra! Ou o meliante confessa ou todos ficarão aqui, nesta sala, até amanhã lendo livros de Dostoievski!
- Não, isso nunca! Jamais lerei livros de Dostoievski! Eu o odeio! Eu sou a culpada! – confessou Mafalda Romilda, atirando-se ao chão e descabelando-se em seu vestido vermelho catchup estilo Nicolau II, com uma peruca loira estilo Nicolau III encimada por duas agulhas japonesas de jade no estilo Imperador Akirrito.
- Sim! Fui eu, Fetuccine! – confessou Mafalda – Fui eu que o tempo todo aprontei tudo isso com Cassandra!
Dom Fetuccine estava arrasado. Sentado no sofá, apoplético, balbuciou:
- Mas por quê, por quê Mafalda?
- Porque ela fez com que meu marido me largasse corresse atrás dela. Eu morava na Espanha. Foi uma coisa horrível. No dia do nosso casamento, já no altar, o padre perguntou se havia alguém que era contra o nosso casamento. E ela levantou-se e disse que ela era. Foi horrível! Toda a alta sociedade espanhola ficou pasma. Meu quase marido me deixou no altar e correu atrás dela. E nunca mais voltou. É por isso que odeio esta mulher! Sua quenga!
- O que você tem a dizer sobre isso, Cassandra?! – perguntou Horn.
- Primeiramiente, que quienga és su madre. Segundamiente, que jo non gustaba de su marido. Jo solamente disse aquelo nel su casamiento porque queria me bingar delle. Después que elle corrió atrás de mi, no quis dar buela para elle. Aí, elle decidió non bultar para cazar-se com ustê e virió un boiola em Madrid, casando-se com Nelson Tchitchikaka, el dono Del Museo Guggenheimm.
- Mentira! Ele... oh!!!!!
Neste momento, entra o apresentador Mané, do programa Linha Indireta, comentando:
- Vejam o drama desta família. De um lado, uma mulher frustrada com o casamento que não deu certo. Do outro lado, uma mulher que deu para ter um casamento certo. O que você acha? Mafalda deve ou não dar umas bofetadas em Cassandra? Se você acha que sim, ligue para 0800-123456, se você acha que não ligue para 0800-654321. No final do programa, você quase escolhe o final.
Após a surpreendente revelação, Dom Fetuccine não agüenta: tem um colapso nervoso.
Estrebuchando-se no chão, ele baba o tempo todo. Após alguns minutos, recuperando-se, diz:
- Eu não posso conceber. Minha própria irmã, uma sabotadora! Oh!... É horrível! Emengarda! Emengarda! Traga minha copada de SBP, Rodasol, veneno de rato e Neocid e um comprimido de fenobarbital puro.
Após a cena, olhares voluptuoso começam a rondar a sala. Dom Fetuccine começa a perceber.
Zuleika olha com olhares oferecidos para Henrique Cido, que retribui. No entanto, sem parar de espancar Ema Tômas. Zuleika estava apaixonada por Henrique.
- Toma, toma, toma. Perua, égua, vaca...! – Chilept, chilept, chilept!
Por sua vez, Céusmi lança olhares lânguidos para Horn. Cassandra, a bobinha, nem percebe. Céusmi joga até um beijinho. Está mais oferecida do que nunca, principalmente agora, que está viúva. Também está apaixonada por Horn.
Sem perceber que Dom Fetuccine está percebendo tudo, Emengarda lança olhares comprometedores para Mafalda, que fica irritada.
Depois dessa, Dom Fetuccine não pode suportar. Toma o telefone e liga para um lugar apropriado. Minutos depois, a carrocinha dos Canis Lulu’s pára na porta da mansão.
- Entrem, entrem.- diz Dom Fetuccine, mais drástico do que nunca – Levem todas as cadelas daqui. Vamos, vamos.
E Céusmi, Mafalda, Ema Tômas, Emengarda, Zuleika e até Cassandra são levadas, injuriadas, para o canil da cidade.
De repente, aparece o detetive Eggs on Maionese e conta à Dom Fetuccine que o assassino de Brígido se chamava Paulão, e fora um antigo namorado dele. Estarrecido, Dom Fetuccine manda um telegrama para Céusmi no canil, que se escabela toda.

* * *

Domingo, 27 de Fevereiro de 2000

ÚLTIMO CAPÍTULO – O INSULTO FINAL
(trilha sonora: Ave Maria, de Schubert; sambas de escola de samba; Alleluhia, entoado pelo Coro das Meninas Cantoras de Petrópolis; I love the nightlife, interpretada por Edson Cordeiro)

Na Igreja do Bonfim, em Salvador...

Todo a imprensa mundial estava no casamento mais badalado de todos os tempos. Tudo estava lindo e perfeito, a começar pela decoração da Igreja.
A igreja do Bonfim, construída em estilo barroco, estava mais barroca do que nunca. O tapete em que a noiva passaria era verde e rosa, com tons florais. O enfeite dos bancos eram bananas, melancias, uvas, pêras, pêssegos e jacas. Tudo num arranjo magnífico, dentro de uma cesta de frutas.
Perto do altar, o Coro das Meninas Cantoras de Petrópolis já entoava Ticket to Ride. Juntamente com Aguinaldo Raiol, que ensaiava a Ave Maria. E do outro lado, toda a bateria da escola de samba Mangueira, do Rio de Janeiro, fazia o aquecimento.
Começa o casamento. Entra primeiro a florista, jogando pétalas de flor de laranjeira e lírios amarelos. Depois, vem o casal de honra, trazendo o par de alianças. Depois entra o noivo com os padrinhos, Dom Fetuccine e Mafalda Romilda vinham logo atrás, assim como os A Granel e Zuleika Deneuve.
O noivo estava chiquérrimo. Num terno Versace na cor vermelha, ele usava uma camisa e gravata rosa choque e sapatos de bico quadrado também vermelhos. Os padrinhos, todos um desfile de ternos e vestidos nas mais variadas cores, do branco ao preto.
Em seguida, a mais esperada. Sob os sons da bateria da Mangueira, que entoava:
No fundo do mar
Tem um castelo que é do Rei Sebastião – lá que é bom (...)
Entra Cassandra, sob os aplausos de todos os presentes. Dançando Na Boquinha da Garrafa, ela dá um show à parte no seu vestido jeans todo cheio de miçangas, plumas e paetês. O vestido, um tomara que caia com uma alça, era de jeans azul manchado com Varek, a barra desfiada e todo bordado. Um luxo! O tênis era Rainha System. O buquê era um longo emaranhado de resmas de alho, cebola, café, arroz e também as frutas que faziam parte da decoração, só que em miniatura.
Chegando no altar, foi feito e casamento. E o padre fez a tradicional pergunta:
- Se alguém tem alguma coisa contra este casamento, diga agora ou cale-se para sempre.
De repente, Izildo Fasano, um milionário gay que estava na platéia, levanta e diz:
- Eu tenho. – todos gritam oh – Eu te amo, Horn! Eu quero me casar com você!
Sob aplausos, os dois se abraçam. O padre aproveita e já faz o casamento dos dois. Cassandra, indo ao púlpito, diz:
- Alguém aí quer se casar comigo?
Miguel O’Connor, mais do que depressa, sentindo-se traído por Fasano, que era seu namorado, levanta e casa-se com Cassandra. Também aproveitando a oportunidade de casamento, Henrique Cido casa-se com Céusmi. Ema Tômas casa-se com Serguei, o mordomo dos Macarrone da Paola. Emengarda casa-se com Emengardo, um pai de santo que foi convidado para o casamento. Mafalda Romilda casa-se com Mané, o jornalista. E Zuleika Deneuve casa-se com o Jacaré do grupo É o tchan! Também Dom Fetuccine não perde a oportunidade: casa-se com Xuxa e Angélica ao mesmo tempo.
Realizada a cerimônia, que acabou em pizza, os noivos recebem o tradicional banho de arroz, só que acrescido de feijão, mandioca, acarajé e outros quitutes mais.
Rapidamente, todos atravessam a rua e vão para o velório de Brígido. Após chorarem por duas horas, eles dirigem-se para a festa.
Lá, a festa já está hiper animada. As The Third Age Ladies cantaram e tocaram a noite toda: É o bicho é o bicho, Luz de Tieta, Fio de Cabelo, Jesus Cristo, Ilariê, Abecedário da Xuxa, Vou de Táxi, Blue Jeans, Curumim, Circle of Life, A te o cara, Santa Lugia Lontana, etc.
A festa foi magnífica! Dez ambientes, cinco piscinas: uma de gelatina, uma de champanhe, uma de lama negra, uma água com gás e outra de água sem gás; fogos de artifício, fogueira de São João, doces típicos, arroz doce, paçoca, quadrilha, muito samba, rock’n roll, pop, dance, techno, country, foró, salsa e merengue, valsa etc. Muito whiskey, vodka, guaraná tubaína, sanduíche de mortadela, conhaque Presidente, caviar, churrasquinho de gato, etc.
Num dos ambientes, muito pagode e axé, e no ambiente logo em frente, a mais fina música de câmara. Tudo no casamento de Cassandra foi lindo.
Ela dançou e pulou como uma gazela a noite toda. No ambiente GLS, ela arrasou. Muitos convidados, papos interessantes: Vera Loyola conversava com Luis da Costa Lima sobre o grupo de Entrevernes; José Arthur Gianotti batia o maior papo com Tiririca sobre Hegel, etc.
Foi lindo. O bolo tinha seiscentos metros quadrados, pois a festa era para cerca de dez mil convidados.
Enfim, no final, todos se beijaram ao som de Kiss and Say Goodbye. E Cassandra jogou seu buquê, que caiu na mão de Zuleika. E todos viveram felizes para sempre.

FIM

Il Pagliaccio
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